Política

Governo de Minas nega recomposição salarial imediata de servidores da segurança

Policiais anunciam ato na praça Carlos Chagas, em Belo Horizonte, no próximo dia 28
Governo de Minas nega recomposição salarial imediata de servidores da segurança
Secretário de Estado de Fazenda disse que situação fiscal e financeira do Estado não permite ao governo recompor a perda salarial dos servidores | Foto: Luiz Santana / ALMG

O secretário de Estado de Fazenda, Luiz Claudio Fernandes Lourenço Gomes, voltou a justificar nesta segunda-feira (13) que a situação fiscal e financeira do Estado não permite ao governo recompor a perda salarial dos servidores civis e militares da área de segurança.

Entidades representativas da categoria manifestaram frustração e indignação com o posicionamento do secretário, que participou de nova audiência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) sobre o descumprimento da política remuneratória da segurança.

“Só na rua e na pressão para sermos valorizados”, disse o presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol), Wemerson Silva de Oliveira, anunciando para o dia 28 um ato público na praça Carlos Chagas, na Capital, em defesa dos servidores de todas as forças de segurança.

Rebatendo o secretário, o presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado Sargento Rodrigues (PL), que pediu a audiência, registrou que a política remuneratória da categoria está na Constituição Estadual, devendo o reajuste geral anual obedecer a data base definida em lei, no caso 1º de outubro.

A despeito da situação fiscal argumentada pelo secretário, o deputado disse que nem a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e nem o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) impediriam a concessão de recomposição pela inflação.

Segundo o presidente da comissão, a defasagem atual na segurança pública seria de 44,79%, acumulada de 2015 a 2024. Isto porque a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período foi de 74,89%, tendo sido concedido à segurança pública somente 30,1%.

Sargento Rodrigues ainda exibiu na audiência divulgação feita em rede social pelo vice-governador Mateus Simões (Novo), exaltando em post: “Minas mantém folha abaixo do limite, dívida em queda proporcional e serviços funcionando. Isso é colocar o trem nos trilhos”. Para o deputado, essa fala foi como um “tapa na cara” do servidor.

“Temos a propaganda, mas aqui (na audiência) o que vemos é o mesmo do mesmo, o chororô do governo, um calote e uma amnésia em relação ao servidor”, disse Sargento Rodrigues ao rememorar episódios de acordo anterior firmado com o governo, pelo qual a recomposição salarial da segurança pública seria feita em três parcelas, o que não ocorreu da forma como acertado.

Sem folga

O titular da Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) discorreu sobre como a administração de Romeu Zema (Novo) encontrou o Estado e como foi, segundo ele, difícil para o Executivo chegar a algum grau de normalidade financeira e fiscal. Além de salários atrasados, havia dívidas com fornecedores e municípios sem repasses, apontou.

Conforme frisou, foi com esforço que o Estado passou a pagar o servidor até o 5º dia útil e saiu de um comprometimento acima de 60% de sua receita corrente líquida com a folha de pagamento.

Confirmando a propaganda do vice-governador, o secretário respondeu ao presidente da comissão que hoje essa relação está abaixo do limite máximo de 49% definido pela LRF para gastos com pessoal do Poder Executivo. Mas disse que a diferença é pequena, a qual classificou como apenas marginal: 48,53%.

“A valorização do servidor público ainda depende da situação financeira, o Estado tem feito na medida do possível seus reajustes, ainda existe uma defasagem, mas está-se procurando recompor”, reiterou para concluir que “o futuro do Estado de Minas Gerais está numa boa adesão ao Propag”, referindo-se ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados com a União.

No mesmo sentido, a subsecretária de Gestão de Pessoas da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Helga Beatriz Gonçalves de Almeida, disse que o governo atua para “equilibrar e calibrar as situações que envolvem carreira e remuneração dos servidores, de forma sustentável e sem demérito de nenhuma categoria”. O presidente da comissão anunciou que cobrará em requerimento maior empenho dos gestores do Executivo para o cumprimento da política remuneratória da segurança pública.

Entidades criticam Executivo mineiro

Representantes de várias entidades se manifestaram com críticas ao governo, afirmando que o Executivo estaria banalizando tanto a necessidade de proteção da sociedade como de valorização da segurança pública.

“Estamos minguando”, resumiu o presidente do Sindicato dos Auxiliares do Sistema Prisional e Socioeducativo de Minas Gerais (Sindasep-MG), José Lino, sobre a desvalorização salarial e a falta de recomposição também do quadro de pessoal.

Segundo ele, o vencimento básico não atende mais a necessidade do servidor e nem do trabalho em si, já que segundo ele há 12 anos não há concurso para auxiliares, ao mesmo tempo em que o atendimento no sistema vem sendo inchado.

“Os servidores estão adoecendo com excesso de trabalho. Somos menos de 10 mil nos 853 municípios para investigar crimes”, afirmou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol), Wemerson Silva de Oliveira, tendo a presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil, Elaine Matozinhos, acrescentado que o efetivo deveria ser de 18 mil servidores.

“Nosso pessoal está doente. O governo tem que se mobilizar para romper as dificuldades, pois não podemos pagar por tudo”, cobrou ela, advertindo que o crime organizado demanda cada vez mais uma resposta firme do Estado, com recomposição tanto salarial como de vagas em aberto.

O mesmo alerta foi feito pelo vice-presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de Minas Gerais (Sindepominas), Márcio Nabak. “O crime organizado já está entranhado em Minas, e faltam condições materiais e humanas para atuação. A situação é grave”, endossou, classificando de frustrante o posicionamento do governo. “É sempre a mesma história”, reclamou. (Com informações da ALMG)

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