Haddad manda repórter “se informar primeiro” sobre moeda única

Brasília – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira a um jornalista para “se informar primeiro” quando questionado, no Palácio do Planalto, sobre a possível criação de uma moeda única para o Mercosul.
“Que moeda única? Não existe moeda única, não existe essa proposta. Vai se informar primeiro“, afirmou Haddad antes de deixar o local onde aconteceu a cerimônia de posse da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB).
O ministro foi procurado por meio da assessoria de imprensa para comentar a fala, mas não enviou uma resposta até a publicação deste texto. A declaração do titular da pasta econômica foi dada dois dias depois de o embaixador da Argentina, Daniel Scioli, ter dito que conversou com Haddad sobre a criação de uma moeda comum para o bloco regional em reunião na sede do Ministério da Fazenda.
Na ocasião, Scioli afirmou que o objetivo é fortalecer o bloco comercial e ampliar o vínculo entre os países da região e disse que cada país preservaria a sua própria divisa, sinalizando que estava descartada a criação de uma moeda única. “Trabalharemos pela moeda em comum. Isso não significa que cada país não tenha a sua moeda, significa uma unidade para a integração e aumento de intercâmbio comercial em todo esse bloco regional. E, como disse o presidente Lula, fortalecer o Mercosul, ampliar a união latino-americana é muito importante”, disse o embaixador.
Há uma diferença técnica entre os termos. A moeda comum seria usada em negociações comerciais entre os membros do bloco sul-americano, enquanto a moeda única substituiria a unidade monetária dos países que integram o grupo. Isso significaria o Brasil abrir mão do real, por exemplo. A moeda única mais conhecida é o euro, divisa usada por países-membros da União Europeia.
Em 1º de abril de 2022, Haddad publicou um artigo na Folha, em coautoria com o economista Gabriel Galípolo (atual secretário-executivo da Fazenda), defendendo a criação de uma moeda sul-americana.
No texto, a dupla sustentava que a moeda poderia “impulsionar o processo de integração regional, marcado pelo ritmo lento e por momentos de recuo, e fortalecer a soberania monetária dos países da América do Sul, que enfrentam limitações econômicas decorrentes da fragilidade internacional de suas moedas”.
Segundo o embaixador da Argentina, os principais temas tratados com Haddad na última terça foram a integração financeira e energética entre os países e o aumento do intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina.
A criação de uma moeda comum com a Argentina chegou a ser discutida durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Em 2019, o então presidente e o seu ministro da Economia, Paulo Guedes, tiveram um encontro com empresários em Buenos Aires no qual falaram sobre um plano incipiente sobre o tema.
Desde a criação do Mercosul, os países do bloco mencionam a possibilidade da criação de uma moeda comum, mas nenhuma iniciativa nesse sentido foi concretizada devido às diferenças de políticas cambiais dos membros.
Ouça a rádio de Minas