TSE tem placar de 2×1 pela inelegibilidade de Bolsonaro

Brasília – O corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Benedito Gonçalves, e o ministro Floriano de Azevedo Marques votaram ontem para declarar a inelegibilidade por oito anos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por campanha eleitoral com dinheiro público no dia 7 de setembro do ano passado.
Já o ministro Raul Araújo manifestou-se pela rejeição das ações contra Bolsonaro e Walter Braga Netto (PL), que foi candidato a vice na chapa derrotada do ex-presidente à reeleição. O corregedor votou para aplicar uma multa de R$ 425 mil a Bolsonaro e de mais de R$ 212 mil a Braga Netto.
O relator, apesar da multa, se manifestou contra a inelegibilidade de Braga Netto. Já Floriano votou a favor de tornar o então candidato a vice inelegível.
Após o voto de Floriano, a sessão foi suspensa e será retomada na próxima terça-feira (31). Ainda faltam o os votos de quatro ministros, inclusive o presidente da Corte, Alexandre de Moraes.
Bolsonaro já foi declarado inelegível por oito anos pelo TSE em junho, no julgamento de uma ação que tratava de reunião com embaixadores na qual ele fez ataques e divulgou mentiras sobre o sistema eleitoral. A condição dele não muda caso seja condenado também nessa ação.
As ações afirmam que houve abuso de poder político e de poder econômico nos atos do ano passado.
Em seu voto, Benedito relembrou que a comemoração cívica vinha sido tratada como evento eleitoral pelo ex-presidente em eventos políticos, com instigações do ex-presidente instigação “a um combate decisivo contra pessoas imaginárias” – quando Bolsonaro disse, por exemplo, para seus apoiadores irem “às ruas pela última vez”.
“O que se viu nas manifestações feitas nas convenções partidárias em julho do ano passado e na propaganda eleitoral vinculada em seis de setembro do ano passado foi a inequívoca difusão de mensagens associando a comemoração do bicentenário [da Independência] e todo o seu simbolismo à campanha do investigado (Bolsonaro)”, disse Benedito.
“A prova dos autos demonstra que essa mobilização não envolveu exclusivamente ato de campanha, houve nítida referência aos atos oficiais com destaque para a participação das Forças Armadas.”
O relator afirma que houve “apropriação simbólica” da data cívica e dos símbolos da República para transformá-los em ato eleitoral, com uso de recursos federais.
Benedito entendeu que Braga Netto também “era responsável pela regularidade do material de propaganda exibida nas inserções eleitorais, não sendo possível considerar que tudo se passasse sem sua plena conivência com a associação da chapa e a comemorarão do bicentenário”.
Para ele, houve “ao menos ciência” de Braga Netto das transformações dos atos oficiais em eventos de campanha eleitoral, inclusive do volume de gastos feitos nelas.
Além disso, contrariou uma decisão liminar (urgente) e manteve em suas redes oficiais imagens da cerimônia de 7 de Setembro, disse Benedito.
Já Raul Araújo afirmou que não houve gastos públicos nos comícios, feitos após os atos oficiais, e que os advogados que entraram com ação contra Bolsonaro tentaram “confundir e misturar os eventos oficiais e os atos de campanha”, que, segundo ele, foram “acontecimentos bem distintos”.
Floriano, o terceiro a votar, entendeu que, pela atuação de Braga Netto como coordenador da campanha e participante das supostas irregularidades, ele deve ser declarado inelegível.
O julgamento, que começou na última terça-feira (24), analisa ações apresentadas pelo PDT e pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que questionam a participação de Bolsonaro nas comemorações do bicentenário da Independência, em 2022, em Brasília e no Rio de Janeiro.
Advogados
Na primeira sessão, além da defesa de Bolsonaro, se manifestaram os advogados do partido e da senadora e o vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet.
O advogado da chapa de Bolsonaro nas eleições do ano passado, Tarcísio Vieira, voltou a se queixar da celeridade das ações que podem resultar em condenação de inelegibilidade contra o ex-presidente. Ele disse que pedidos que fez para ouvir três testemunhas foram negados, e que isso é prejudicial ao processo. “Celeridade é importante, mas a certeza jurídica é ainda mais”, afirmou.
A defesa de Bolsonaro afirmou que as comemorações do evento cívico ocorreram de forma aberta e institucional, com a presença de autoridades e convidados no palco oficial.
Só após o encerramento da agenda oficial, o então presidente, “já sem a faixa presidencial, se deslocou a pé na direção do público e discursou, na condição de candidato”.
Antes de Tarcísio Vieira, se manifestaram o advogado do PDT, Walber Agra, e de Soraya Thronicke, Marilda Silveira. Agra disse que as condutas de Bolsonaro nesta ação “são bem mais graves” do que as analisadas anteriormente.
“Nós temos aqui um caráter sistêmico de infrações”, disse Agra, afirmando que o objetivo era “matar a democracia”, por meio da tentativa de burlar o processo eleitoral e deslegitimar o TSE.
Já Marilda Silveira disse que, no evento, “o que se viu foi um uso, com todo respeito, descarado da posição de chefe de Estado”, no maior e mais importante evento cívico daquele ano e com “o objetivo claro de impulsionar campanha”. (José Marques)
Ouça a rádio de Minas