Venezuela: instabilidade política não deve impactar Minas Gerais

A situação da Venezuela após as eleições é bastante incerta e os desfechos estão longe de chegar ao fim. Com os resultados sendo contestados pela oposição quanto à vitória anunciada do atual presidente Nicolás Maduro, a instabilidade política na região não deve impactar a economia brasileira e nem a mineira na visão de especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio, porém são unânimes em dizer que os fluxos migratórios devem aumentar.
O consultor de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito, explica que é difícil avaliar em tão pouco tempo as consequências já que estamos há dois, três dias das eleições deles, mas avalia que o comércio mineiro e até brasileiro com o mercado venezuelano é muito pequeno para gerar impactos de grandes proporções. “O comércio floresce na estabilidade econômica e política. Sem ela, pode ser que haja impactos num segundo momento, mas é cedo para avaliar isso ainda em função do pequeno volume de negócio”, diz.
Além disso, ele ressalta que as negociações de importação para países com grandes problemas econômicos ou instabilidade política como a Venezuela, são resguardadas. Brito explica que a comercialização neste casos só acontecem com pagamento antecipado. “Como há riscos de créditos mais sérios, não há financiamento de comércio exterior para estes países, então, o risco de impacto negativo é pequeno”, explica.
O professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente, também acredita em poucos impactos econômicos. “A economia da Venezuela já está tão fraca que as relações econômicas são quase insignificantes”, afirmou. Ele avalia que se Maduro continuar no poder, a Venezuela continuará em decadência econômica e social, o que pode aumentar o fluxo de refugiados para o Brasil.
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A questão migratória também foi citada pelo professor de Direito Internacional da Skema Business School Brasil, Dorival Guimarães. “Vinte e cinco por cento (25%) da população venezuelana já deixou o país e isso pode se agravar se o país se mantiver sob o comando de Maduro”, avalia.
Guimarães acredita num impacto político maior que o econômico. “O Brasil está numa posição errônea, na minha visão e delicada. Não temos uma posição oficial da Venezuela ainda. Vários países se posicionaram contra o resultado divulgado até então. A oposição da Venezuela já disse que o Brasil não é um ator confiável nesta questão. E embora o Lula não tenha se manifestado ainda e o Itamaraty dizer que está aguardando informações mais definitivas, o Partido dos Trabalhadores (PT) se manifestou a favor”, pontuou. Na visão dele, essa situação coloca o Brasil numa “posição indesejável que apoia uma ditadura e a continuidade de um governo por meio de uma eleição fraudulenta”, avalia.
No cenário político, o professor do Ibmec, Adriano Cerqueira, avalia que o Brasil tome uma posição alinhada com a posição tomada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) de não reconhecer o resultado. Porém, também questiona a nota divulgada antes da posição oficial do governo brasileiro pela Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) reconhecendo o resultado. Na visão dele, uma atitude “catastrófica” que mostra que o governo “não está preparado para esse desafio que se apresentou”.
Ele acredita que, em função desses cenários, os impactos possam chegar num segundo momento no sentido de aumentar a desconfiança em relação a investimentos estrangeiros na região. “Isso gera incerteza, e a situação econômica do Brasil já não está muito boa, com investimentos caindo, o Real se desvalorizando em relação ao dólar e o aumento da desconfiança com relação à política monetária e econômica do País”, avalia.
Avaliando o cenário de Minas Gerais, o professor entende que o Estado não é tão dependente da Venezuela e sofrerá os impactos que o Brasil, mas não deixa de pontuar a renegociação das dívidas de Minas com a União. “Se houver um agravamento da questão fiscal da União, o que acho pouco provável, poderia prejudicar as negociações da dívida de Minas com o Governo”, analisou.
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