Carlos Viana defende novo projeto de desenvolvimento para Belo Horizonte

Senador por Minas Gerais eleito em 2018, Carlos Viana (Podemos) tem mandato até 2027, mas se licenciou do cargo para concorrer à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) nestas eleições. Em 2022, havia feito o mesmo para disputar o cargo máximo do Executivo estadual, encerrando o pleito em terceiro lugar, com 7,23% dos votos.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio, Viana defende que Belo Horizonte precisa de um novo projeto de desenvolvimento, principalmente na área da mobilidade urbana, um dos principais gargalos que afetam a qualidade de vida da população.
Ele também apresenta propostas para a recuperação econômica da Capital, abordando caminhos que vão desde a revisão do plano diretor até a revitalização das áreas centrais da cidade, passando pela implementação de equipamentos culturais e ampliação dos convênios com os governos estadual e municipal, sempre com foco em atrair investimentos – públicos e privados para o município.
O candidato faz ainda uma análise crítica sobre o atual cenário político da direita, defendendo que é necessário superar o bolsonarismo e criar um grupo de direita mais conectado com as camadas populares.
“Eu sou de direita, liberal, capitalista, defensor do Estado menor, conservador na questão da família e da liberdade religiosa. A questão é que a direita ficou resumida somente ao bolsonarismo e o bolsonarismo é pequeno. […] A direita, que não é uma só, precisa aprender a conversar com todas as camadas da população. A esquerda fez isso com muito mais competência”.
Por que você quer ser prefeito de Belo Horizonte?
Eu não vim para a política num projeto de crescimento econômico. Estou na política depois de 35 anos na iniciativa privada, uma carreira como empresário bem-sucedida, de muito aprendizado, uma carreira como jornalista e professor, graças a Deus, também muito bem realizada, muito bem-sucedida. E eu decidi colocar o meu nome como senador e tenho trabalhado muito. Fui eleito ano passado como o melhor senador do Brasil com transparência e gastos e eu não respondo a nenhum processo. Tudo isso tudo conta muito. Fui o senador que mais apresentou projetos e propostas, sou o senador que mais trouxe recursos para Minas Gerais e eu entendo que esse aprendizado precisa crescer. Coloquei meu nome ao governo do Estado e fiquei em terceiro lugar. Entendo que foi muito bom, porque eu não venho de uma trajetória política e tive uma votação, a meu ver, muito bem-sucedida. E agora para Belo Horizonte, onde eu sou muito conhecido e conheço bem os problemas da cidade.
Você diz que tem uma candidatura independente. Mas críticos falam em isolamento. O que é, de fato?
Eu tenho um grupo político de quase 200 vereadores que faz parte da minha base de apoio. Então não há de se falar em isolamento neste momento. O problema dos oponentes é que todos eles têm compromissos. E compromisso em política é algo comum. O problema é conchavo. Por que o sistema não me queria senador? Eu tive a maior dificuldade para candidatar e vencer a eleição, porque eu não faço esse tipo de acordo. Por que não me queriam como candidato a prefeito? Porque eu não devo nada às empresas de ônibus que mandam na cidade. R$ 500 milhões no ano passado, mais R$ 350 milhões esse ano. O prefeito e o presidente da Câmara fazem o que as empresas mandam. Então, para começar, eu vou colocar ordem nisso. Ou as empresas fazem o que a prefeitura determinar, atendem melhor a população, ou vamos tirar os contratos e colocar as multas no que for preciso.
Como você avalia o loteamento de cargos para atrair apoio dos partidos?
Para trazer apoio de um ou de outro, você tem que negociar secretarias. Eu não vou fazer isso, porque quando a gente senta para conversar, um quer a Belotur, o outro quer a Urbel, o outro quer a Secretaria de Educação, o outro quer a Secretaria de Obras. Isso já aconteceu em diversas prefeituras no Brasil e deu cadeia, como no Rio de Janeiro e eu não quero meu nome envolvido nisso. Então, o meu isolamento, a minha dificuldade, é exatamente por conta disso. O partido político chega e pede as joias… não vou entregar. Ou a gente entrega um programa de governo bom para fazer a cidade crescer, ou então é melhor não ter política. Esse é o meu pensamento. Ou a gente faz um projeto para poder tornar Belo Horizonte uma cidade melhor, com a boa política, ou então eu prefiro ficar sem grupos assim, ou podem me chamar de isolado, não tem problema nenhum. Eu prefiro não ter meu nome envolvido em nenhum tipo de escândalo. Mas eu vou ser o prefeito que vai ter condições de defender, de fato, os interesses da cidade.
Política envolve bom relacionamento entre os poderes. Como você avalia sua atuação no Legislativo?
Eu fui vice-líder do governo Bolsonaro por três anos, então tive uma experiência de base muito boa. Na questão econômica, não há o que se reclamar do governo Bolsonaro. Ele tinha lá as questões dele de fala, de vacina, mas na economia nós avançamos muito. E a base que tínhamos foi fundamental para votar os assuntos. A reforma da Previdência, uma série de medidas, a questão do auxílio emergencial, os acordos de governo, a redução da carga tributária. Hoje, o problema da Linha 2 Calafate-Barreiro está resolvido. Não é uma promessa. Está resolvido porque, como senador, eu consegui R$ 2,8 bilhões. O único que deu a cara a tapa, que enfrentou todas as críticas, fui eu.
Como você pretende lidar com os governos estadual e federal caso seja eleito prefeito de Belo Horizonte?
Agora, em Minas, é muito mais complexo, porque você vai ter, por exemplo, um governo do Estado que não ajuda em nada. Qual foi a obra que o Zema fez em Belo Horizonte? Quantas passarelas ele fez? Se a gente olhar no Estado, não vai ter nada, mas é o governador. Se você pegar o ex-prefeito, que falou que não ia fazer nada, ele não fez mesmo. Belo Horizonte começou a perder empreendimentos e renda com o ex-prefeito, que começou a tratar os empreendedores como inimigos. Precisamos trazer isso de volta. Eu, como prefeito, quero criar uma tarifa de integração para o transporte. Para isso, terei que conversar com o governo de Minas, porque o transporte metropolitano é responsabilidade da Secretaria de Transportes do Estado. Hoje, Belo Horizonte não tem projetos de mobilidade junto ao governo federal. O prefeito não mandou nada. E há muitos anos Belo Horizonte vem vivendo do próprio orçamento. Estamos atrasados. Salvador é uma capital que avançou muito mais do que a gente.
Um dos principais problemas que a cidade enfrenta é a mobilidade urbana. Você acredita que a solução passa pelo metrô?
São pelo menos 20 anos de atraso. Nesses 20 anos, Belo Horizonte parou no tempo. Minas Gerais parou no tempo. Ficou aquela briga entre PSDB e PT e Minas ficou no centro dessa disputa, e não avançamos, não duplicamos estradas, não melhoramos. Por isso, o atraso não é só de Belo Horizonte, é do Estado todo. E Belo Horizonte é uma cidade adensada, não tem mais área rural e vem enfrentando vários problemas. A gente precisa trazer novos investimentos, construir prédios novamente, atrair o mercado de luxo em áreas onde é possível construir para a cidade voltar a crescer, porque a cidade está morrendo. O Prado está morrendo, o Barro Preto está morrendo, a Barroca está morrendo, Santa Tereza está morrendo, a Lagoinha morreu. Por quê? Porque não temos um projeto de crescimento para a cidade. E essa questão da mobilidade vai passar por obras, principalmente de trincheiras e túneis. Além disso, a integração com o metrô vai nos ajudar. Porque o ônibus tem que sair da região metropolitana, entrar em Belo Horizonte, ir à região hospitalar, no Centro, e voltar? Porque as empresas querem, para obrigar os passageiros, a pagarem R$ 10 de tarifa. Porque as empresas é que mandam, não é a prefeitura que determina. A hora que a gente pegar todos os ônibus, não deixar mais ir para a estação do metrô e com a mesma tarifa vir até o Centro, vamos diminuir o fluxo e isso vai nos dar mais capacidade e menos tempo de congestionamento. Esse trabalho de planejamento precisa ser feito, especialmente com relação à inteligência. Hoje nós temos o Google, que nos ajuda muito. Tem várias soluções, mas a gente precisa começar a resolver um problema de cada vez. E a mobilidade, a meu ver, é o mais complicado de todos.
Caso seja eleito, qual a proposta para impulsionar as obras de infraestrutura necessárias na Capital?
A gente precisa de obras importantes, de trincheiras. Eu não gosto de elevados, eu acho que elevado estraga a paisagem, é muito invasivo. Mas trincheira e túnel, a gente precisa fazer. Vamos fazer uma trincheira na Contorno com Cristóvão Colombo, com Nossa Senhora do Carmo. Como? Vamos abrir, mudar o zoneamento. Ter um novo plano diretor e permitir mais construções, trazer de volta os empreendedores e eles fazerem as obras de mobilidade como contrapartida para a cidade. Essa união já funciona tão bem, Betim faz isso com muito competência. Belo Horizonte optou pela chamada outorga onerosa, que aumentou a arrecadação, mas expulsou o empreendimento, foi todo mundo para Nova Lima. Está na hora de a gente trazer de volta. Matou o centro da cidade. Estamos com prédios vazios, morador de rua para todo lado, porque não tem uma política para poder resolver esse assunto. E como vamos fazer obras? Vamos ter projetos com o governo federal, porque eu converso bem com os ministros, muitos são senadores. Com o governo do Estado para a gente poder entender onde o governo pode voltar a ajudar a Belo Horizonte e buscar os parceiros do setor privado. Quem quiser empreender em Belo Horizonte vai receber da parte da prefeitura todo apoio.
Moradia popular é uma questão muito comentada nestas eleições. Qual é a sua proposta nesta área?
Aqui não temos um projeto de construção de moradia popular. O governo de Minas não fez, a prefeitura não fez. Belo Horizonte tem áreas e eu, como prefeito, quero construir moradias populares e dar dignidade para vilas e aglomerados. Porque é o que a gente precisa.
Você tem sido um crítico da direita. E chegou a falar, inclusive, que o Bolsonaro é passado. Onde você acha que a direita errou e qual seria o caminho?
Eu sou de direita, liberal, capitalista, defensor do Estado menor, conservador na questão da família e da liberdade religiosa. A questão é que a direita ficou resumida somente ao bolsonarismo e o bolsonarismo é pequeno. O bolsonarismo gerou problemas. Eu falei que Bolsonaro é do passado, porque o Bolsonaro está caçado. Precisamos achar um novo projeto, mais vozes da direita para criar mais oportunidades. A direita não conversa com os mais pobres, só conversa com os empresários. A extrema-direita, que tem inclusive concorrente em Belo Horizonte, não sabe o que é depender de uma UPA, não sabe o que é não ter uma sala de aula em escola pública digna, não sabe o que é um professor público maltratado, não sabe o que é andar de ônibus, porque é muito cômodo você criar um discurso elitista economicamente. A extrema-direita é assim. Nós não. A direita, que não é uma só, precisa aprender a conversar com todas as camadas da população. A esquerda fez isso com muito mais competência. Inclusive a esquerda hoje já se deslocou mais para o centro. O atual governo concessionou a BR-381 num projeto que fizemos na época do Bolsonaro. Nós fizemos. Eles foram lá e concessionaram a rodovia – como concessionaram a BR-040. Quando a gente imaginava que a esquerda iria concordar em privatizar a estrada? A direita continua só nesse nicho empresarial. Resultado, perde as eleições. Aí colocam um líder como Bolsonaro, por exemplo, que não teve habilidade nas palavras, não teve habilidade em conversar com todo mundo, brigava com a imprensa todo dia, infelizmente perdemos a eleição. Então, a direita, se quiser sair dessas cordas, porque a gente está nas cordas, vai ter que superar essa fase e ter novas vozes defendendo nossos princípios, que continuam muito firmes e que não se limitam aos bolsonaristas.
Belo Horizonte, nos últimos anos, perdeu uma série de investimentos e pessoas para cidades da região metropolitana, especialmente para Nova Lima. A reversão desse processo inclui a reformulação do plano diretor?
Hoje somos a sexta capital em população. Fomos a terceira. O último censo já mostrou que perdemos 80 mil habitantes de um levantamento para o outro. Essa população mudou da Capital, porque a prefeitura passou a tratar, especialmente os prédios mais ricos, como inimigos da cidade. Outorga onerosa, que é você pagar mais pela construção, é uma ideia muito boa. Mas é uma ideia meio socialista, de quem bebe champanhe em Paris e acha que todo rico tem que ser taxado. O dinheiro não leva desaforo para casa. Quando Belo Horizonte começou a fazer isso, mudou todo mundo. E o centro virou um problema. Primeira coisa, vamos flexibilizar o uso do solo no centro da cidade. Permitir o uso comercial e o uso residencial em prédios mais antigos. Se uma pessoa quiser alugar uma sala, quiser alugar um andar e fazer um apartamento, qual é o problema? Ele pode morar no centro da cidade, vai morar mais perto, vai ajudar a pagar o condomínio e manter o prédio em dia. Segundo ponto, vamos trazer de volta as empenas. Aquelas empenas digitais bonitas, iluminadas, que a gente vê na China, em Nova York, em todo lugar. Porque Belo Horizonte à noite é uma escuridão só. Essas empenas vão ajudar a diminuir o preço dos condomínios e vão ajudar na reocupação. Os prédios vazios, que são da União, que é uma boa parte, a prefeitura vai assumir para diversas coisas. Precisamos fazer com que Belo Horizonte replique uma experiência muito bem-sucedida em Florianópolis e que o Maranhão está fazendo. Os alunos das escolas públicas são selecionados e as pessoas que querem uma nova profissão, ganham kits, internet e durante dois anos cursos de linguagem. Os melhores são contratados pelas empresas patrocinadoras. E a prefeitura paga aluguel de um prédio de luxo ali na Augusto de Lima com Goiás, onde era um antigo hotel. E tem o prédio da antiga faculdade de engenharia vazio. Eles querem ceder para nós. Vou transferir o centro administrativo para aquela região da Praça da Estação. Recuperar todos aqueles casarões e fazer igual Buenos Aires fez na Rio Madeiro, criar ali um centro de gastronomia, cultura e música, porque o único lugar que BH pode ter 24 horas de música é ali naquela região, já que não tem morador. Existem vários casarões fechados, abandonados na cidade. Vamos transformar tudo. E o principal, vamos trabalhar retirando os moradores de rua.
Como seria feito este trabalho de reduzir a população de rua na Capital?
Metade da população de rua de Belo Horizonte não é de Belo Horizonte. É gente que veio para cá de outras capitais, principalmente de Recife e do Maranhão. E do interior, que os prefeitos colocam dentro dos carros da ambulância e deixam em Belo Horizonte. Vamos controlar essa população, porque se eu abrir 10 mil vagas de abrigo, vai aparecer 20 mil moradores de rua. Então, vamos procurar saber de onde são, como vieram parar aqui e saber se eles querem voltar. Vamos devolver. Se vier novamente, vamos pedir o Ministério Público para notificar o prefeito. Porque o prefeito tem que resolver lá, ele não pode passar para cá, não. Outra coisa, a distribuição de comida em Belo Horizonte virou um problema, porque todos os voluntários fazem um trabalho maravilhoso, as igrejas, os centros espíritas, só que chega um, põe a marmita, aí a pessoa come, daí a pouco chega outro com a marmita, ele pega só a carne e joga a comida fora. Aí as áreas ficam imundas. Está na hora da gente chamar esses voluntários e organizar isso. Precisamos devolver as calçadas para os pedestres e trazer de volta o comerciante. Senão, o centro de Belo Horizonte vai morrer por completo.
Belo Horizonte precisa de uma interlocução com as cidades da região metropolitana. Mais do que isso, o prefeito, enquanto o administrador da Capital, precisa ser o líder. Como fazer essa integração?
Voltando a conversar com os prefeitos. Esse atual prefeito não sabe nem o que está fazendo lá. Foi vice, de repente se tornou prefeito. O Kalil prometeu para a gente um economista de primeiro mundo e nos entregou um economista do Paraguai. Depois de 20 anos, Belo Horizonte tem um déficit de quase R$ 100 milhões. Se não resolvemos isso no ano que vem, 2026 vai ser R$ 200 milhões. Porque você paga os juros, deixa de aplicar e vai caindo. E por que Belo Horizonte tem um déficit depois de 20 anos? Por causa de obra de maquiagem. Praça da Estação, ciclovia subindo rua que ninguém usa. Obras importantes são as bacias, que estão todas paradas ou avançando lentamente. Essas são as obras que a cidade precisa. O prefeito tem que ter prioridades. Você resolve os problemas da cidade aos poucos. Por isso, vamos colocar Belo Horizonte novamente com o orçamento equilibrado. O que for supérfluo, vamos tirar e que for importante continua. E vamos buscar soluções, especialmente de mobilidade. As UPAs são as maiores reclamações da população. A pessoa vai em centro de saúde e não tem um exame para fazer, leva 60 dias para marcar. Os centros de saúde estão sucateados. E 30% do movimento das UPAs não é de Belo Horizonte. Precisamos conversar com esses prefeitos e pleitear algum tipo de recurso ou de material. E tenho para mim que vamos conseguir resolver isso também com os hospitais filantrópicos. Como senador, eu coloquei R$ 100 milhões na saúde pública de Minas Gerais. As Santas Casas, Hospital da Baleia, Hospital Evangélico podem receber uma demanda da prefeitura de cirurgia eletiva. A prefeitura mandou embora ou não renovou os contratos dos pediatras. Deu um problema sério, porque o terceiro médico, o plantonista, foi mandado embora. A gente precisa trazer de volta esse terceiro médico pediatra para poder atender e resolver o problema.
Além de convênios, essas propostas precisam também de dinheiro, de recursos. Para você, então, a equalização do orçamento hoje passa muito mais por uma reorganização do que por um aumento da arrecadação?
Perfeitamente. O aumento da arrecadação virá à medida que a gente for reduzindo a tributação daqueles que investem para gerar nova renda. O que optamos foi por aumentar a carga e espantamos o investimento. Precisamos começar a fazer essa balança mudar. A prefeitura vai abrindo mão de uma parte à medida que outros investimentos vão chegando. Mas hoje, Belo Horizonte tem um descontrole orçamentário muito grande. O Ministério da Saúde tem vários repasses, o Programa de Saúde da Família, que é fundamental para a prevenção e as equipes do PSF hoje em Belo Horizonte estão totalmente desestruturadas. Quando você não tem PSF estruturado, o Ministério da Saúde não te repassa o dinheiro do programa. Os Agentes Comunitários de Saúde, que são fundamentais para a prevenção à dengue, para o cuidado do idoso que não pode sair de casa, para marcar um exame. Esses ACS hoje são usados em portaria do centro de saúde, são usados para poder fazer dispensação de medicamento. Ou seja, temos um descontrole em Belo Horizonte. Na educação, quero deixar o aluno do ensino médio na prefeitura. Isso é possível fazer. O governo do Estado pode fazer um convênio e repassar o dinheiro do Fundeb ou do FNDE. Quando você pega um aluno do ensino médio e deixa ele pela manhã na escola, tradicional, vamos dizer assim, e à tarde você coloca num curso técnico, o repasse é o dobro. Em Minas não tem um aluno nessa condição. No Maranhão tem 100 mil. Olha para você ver como que é uma questão de você buscar o recurso, onde o recurso existe. Em Belo Horizonte, estamos num berço esplêndido de quem falou assim, ‘ah, não vou fazer nada’, e não fez mesmo. Fui repórter por 23 anos e cansei de subir morro para fazer matéria com adolescente de 16 anos assassinado. Jovens que podiam estar aí brilhando com o futuro, mortos. Por que isso acontece? Porque ele sai da escola no ensino médio? Ele não sabe ler direito, ele não sabe escrever direito, ele vai para um subemprego ou ele é contratado pelo crime. Eu vou no Alto Vera Cruz, nos bairros de aglomerados e nas esquinas, têm seis, sete jovens que nem estudam, nem trabalham e não têm condição de fazer nada. Está na hora de a gente mudar isso. Isso não é discurso não, é necessidade. O Brasil precisa que essa mão de obra se torne qualificada, caso contrário, vamos ser um País insustentável em termos de previdência. E os prefeitos têm uma responsabilidade muito grande. Quero esses alunos na prefeitura e fazer parcerias para cursos técnicos com a Fiemg, Sesi e Senac. E não vai precisar tirar do caixa da prefeitura, porque se recebe o dobro. É uma questão de interlocução entre os vários poderes.
Pensando na atração de investimentos privados, a economia de Belo Horizonte gira em torno de comércio, serviços e turismo. Como incentivar esses setores e até mesmo trabalhar uma diversificação dessa economia?
É muito fácil falar que precisamos atrair mais turistas. Precisamos tornar Belo Horizonte uma capital atrativa. Quem vai a Inhotim, normalmente não vem a Belo Horizonte. Se vai para Tiradentes, Ouro Preto, vem para cá. Vamos pegar o Parque das Mangabeiras e transformar em uma galeria permanente de arte, igual o Inhotim, com os artistas mineiros, brasileiros. Eu chamo de Uaiotim. Vamos criar shows, circuitos culturais para a cidade ter a área de lazer e cultura. Se a gente fizer isso em Belo Horizonte, e é fácil fazer, esse público virá. O Mercado Central é a grande atração, talvez a única atração turística de Belo Horizonte. Eles queriam fazer mais andares e a prefeitura cobrou R$ 40 milhões de outorga onerosa. Eles querem gerar renda, aumentar os turistas para movimentar a cidade, e a prefeitura cobrando R$ 40 milhões. Aí eles desistiram da obra. Nós vamos fazer um centro de convenções no Mercado Central. Um centro de cultura gastronômica. Vai ser um dos pontos, vamos fazer isso. A gente é uma capital de negócios? Parece que não é, porque a gente não tem uma vocação. Belo Horizonte pode ser referência no turismo religioso, vamos ganhar uma nova catedral da Igreja Católica agora, que vai ser uma grande obra de arte, bonita e vai atrair muita gente. Belo Horizonte tem, entre nós evangélicos, grandes pastores, grandes bandas que podem fazer muitos shows. O Mineirão é uma das melhores arenas para show do Brasil, que a gente precisa incentivar. É uma questão de a gente querer trabalhar.
O que você pensa da mineração na Serra do Curral?
Sou contra. Quero colocar na Serra do Curral um grande letreiro escrito Belo Horizonte. Quero fazer lá em cima um novo mirante, porque lá já tem uma área de caminhada. Quero que as pessoas possam aproveitar a serra. Não quero mineração lá, tem que minerar em áreas onde não vai ter problema com a área urbana. Existem muitas áreas para minerar em Minas Gerais, mas a Serra do Curral, a meu ver, sem chance. Vamos transformar a serra em atrativo turístico para a cidade.
E como lidar com a realização de eventos na cidade?
O Carnaval é espontâneo, não foi a prefeitura nem foi o governo do Estado que criou. O prefeito, o governador, todo mundo querendo ganhar a paternidade. E, na verdade, foi o povo que fez. A prefeitura tem a obrigação de organizar e não atrapalhar. E é a demonstração de como a cidade tem vocação para esse tipo de evento, para sermos uma grande cidade de shows. Belo Horizonte já teve festivais importantes, que a gente precisa trazer, mas temos que preparar a cidade. Primeiro, a cidade tem que estar iluminada e limpa; segura. Temos que aumentar a Guarda Municipal e alinhar com a Polícia Militar. Você chega na Praça 7, tem um carro da Guarda de um lado e um carro da PM do outro. É uma vaidade absurda. Precisamos reorganizar o sistema de câmeras da cidade, fundamental para a prevenção. Isso tudo vai começar a atrair mais turistas e investimentos para Belo Horizonte.
Na educação, você aposta na valorização dos profissionais e também na atração de mais recursos?
O governo do Estado é o responsável pelo Ensino Médio, recebe do Fundeb o dinheiro. Esse dinheiro tem que ser repassado para cada aluno que a prefeitura assumir. O governo já fez isso em várias cidades do interior. Muito bem-sucedido, inclusive um excelente programa. Belo Horizonte vai começar a testar e eu vou ampliar. Porque o aluno sai da prefeitura com 5.6, no ensino médio e termina com 4.3 em 10. Ou seja, a gente desaprende. Temos que trazer para cá empregos de qualidade também na área digital. Temos vocação para ser uma cidade digital. A prefeitura é que tem responsabilidade. A Índia está evoluindo tanto mais que o Brasil? Por quê? Porque a Índia pegou todas as castas e está dando escola para todas elas. E olha que lá tem um problema sério de preconceito. A Índia se tornou um grande celeiro da área digital, vai passar o Brasil, vai ser a terceira economia do mundo. E a gente aqui ainda com o ensino analógico. O aluno sai da escola sem saber fazer nada.
E na saúde, o grande problema hoje diz respeito às filas. Como resolver?
Primeira coisa, médico é para urgência e emergência e casos específicos. A pessoa que não está em urgência e emergência, existe uma solução tecnológica que funciona muito bem, chamada telemedicina. Já está regulamentada, funciona e vai resolver nosso problema, especialmente de áreas onde os médicos não querem ir, por medo de violência. Porque não adianta nada eu colocar lá um guarda municipal armado, sozinho, dois, numa área onde ele arrisca a própria vida. Porque a segurança é uma responsabilidade do governo do Estado. A Prefeitura muitas vezes sente as consequências dela. Então, chegou na UPA, é urgência, emergência, vai ter médico. Não é, vai ser atendido pela telemedicina. É assim, sabe, a gente tem que usar a tecnologia a nosso favor. A solução está em você ter médico para quem tem emergência e urgência. O que não for… Você pode trabalhar telemedicina. É uma criança que está passando por uma consulta já marcada? Vamos usar os hospitais filantrópicos. Não precisa ir na UPA.
Qual solução você propõe para aprimorar a segurança pública?
Hoje a gente tem uma redundância de gastos. A Polícia Militar faz um grande trabalho. A Guarda Municipal também, mas precisamos organizar. A gente precisa que cada uma atue em uma região da cidade. Senão, é jogar dinheiro fora. E o aumento de pessoas em situação de rua nos colocou entre as 50 cidades mais perigosas do mundo. E não somos. O problema é a quantidade de pequenas ocorrências. E isso passa por identificar e atender essa população, levar para um abrigo digno, onde as igrejas, os centros espíritas possam fazer o atendimento. Tratar com dignidade. Ter coragem para tomar decisões, para reduzir essa sensação de insegurança que está tomando conta da cidade.
O que seu plano de governo propõe para o meio ambiente?
Pretendo reduzir em 2 graus a temperatura em Belo Horizonte. Isso é possível, já foi feito em cidades da Espanha, por exemplo. É possível identificar no mapa, as áreas de Belo Horizonte onde se pode criar novas áreas verdes e proteger as que já existem. A gente tem que começar a fazer como outras capitais do mundo fazem. Pequenos locais onde a prefeitura pode pegar um determinado imóvel e tornar aquilo ali uma área de refúgio, como ganhou o nome. E nos locais onde a gente não tem como fazer arborização, fazemos cortinas verdes na parte alta dos prédios. Isso reduz a temperatura em dois pontos. E se conseguirmos o financiamento que esperamos, vamos terminar essas bacias para ajudar a reduzir as inundações. A ideia é fazer outra ali no Calafate. A exemplo do que vi em Seul, na Coreia. Lá tem um rio que corta a cidade toda, todo limpo hoje. Eles fizeram duas bacias, o rio desce totalmente purificado e as pessoas usam a beirada do rio para almoçar, jogar, fazer caminhada. Olha que incoerência: a gente vai buscar água lá em Brumadinho, com um rio inteiro totalmente poluído dentro de Belo Horizonte, que é o Arrudas. E há financiamento para isso. Eu tenho um olhar muito ousado para o futuro de um dia ver esse rio totalmente limpo. Essa seria uma das grandes contribuições para o meio ambiente aqui na nossa Belo Horizonte.
Qual a Belo Horizonte do futuro que o Carlos Viana, eleito ou não eleito, deseja?
Eu desejo uma cidade de oportunidades iguais para todos. Uma cidade onde as soluções vençam esse fosso da desigualdade que temos. E a desigualdade você não resolve com problemas emergenciais de dinheiro. Bolsa Família, isso é importante para você, num país como o Brasil, que produz tanta comida, você não tem gente passando fome. Mas a gente tem que vencer esse fosso. E isso se faz pela qualificação da mão de obra, pela escola pública de qualidade, pela valorização do professor e dos alunos. Ensinar a nova geração a gerar a própria renda, a trazer… empregos de qualidade para Belo Horizonte, a tornar a cidade mais acessível. Essa é a Belo Horizonte que eu espero e que eu quero construir como prefeito.
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