Política

Vitória de Trump trará impactos ao comércio exterior do Brasil, mas também criará oportunidades

Especialistas apontam que comércio exterior pode ser impactado, mas medidas do novo governo norte-americado podem abrir novas portas para produtos brasileiros
Vitória de Trump trará impactos ao comércio exterior do Brasil, mas também criará oportunidades
Trump assumiu a presidência dos EUA pela segunda vez | Crédito: Brian Snyder / Reuters

As medidas protecionistas prometidas pelo republicano Donald Trump, que voltará à presidência dos Estados Unidos após vencer a democrata Kamala Harris nas eleições, poderão trazer impactos tanto negativos quanto positivos ao comércio exterior do Brasil.

Nas promessas de campanha, o futuro presidente sugeriu, por exemplo, que aumentará as tarifas sobre os produtos importados pelo país da China em pelo menos 60% e de demais parceiros comerciais entre 10% e 20%. Ações de protecionismo semelhantes também foram vistas no primeiro mandato do novo chefe da Casa Branca, no período de 2017 a 2021.

A analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Verônica Winter, diz que, baseado na primeira gestão de Trump e no que ele prometeu nos palanques, existe um receio de que a siderurgia e o setor automotivo do Brasil sejam afetados se as barreiras comerciais realmente forem implementadas.

O que explica esse cenário de aflição é o fato que os chineses são grandes exportadores de aço e de veículos e, se os Estados Unidos realmente elevarem as taxas de importação, a China vai procurar outros países para receber o excedente da produção, incluindo o Brasil.

Ela pondera que, neste caso, cabe ao Brasil tomar as medidas necessárias para proteger a indústria nacional dos consequentes impactos negativos das ações protecionistas do futuro presidente. Uma alternativa, na opinião da analista, é diversificar os parceiros comerciais.

País poderá diversificar pauta exportadora para os EUA

Para Verônica Winter, também existem oportunidades para o Brasil com o retorno do republicano ao poder e estão relacionadas à diversificação da pauta exportadora.

“Pode haver a diversificação da pauta em alguns produtos da agroindústria, que até por segurança alimentar podem ser beneficiados com o Trump, e talvez em produtos voltados para infraestrutura e do setor de segurança militar”, destaca. “Mas são produtos que não tem um grande valor agregado. Com valor agregado, eles são bem restritivos”, ressalta.

O CEO da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Mario Scangarelli, tem uma visão parecida com a da analista da Fiemg. Ele diz que Trump demonstrou nos discursos e quando esteve à frente da presidência um desejo de procurar outros parceiros comerciais para não “facilitar a vida dos chineses”, o que abre brechas para o Brasil.

Conforme o executivo, o Brasil pode ter oportunidades no que diz respeito aos produtos da construção civil, das áreas de cosméticos, saúde, plástico e embalagens, além de itens de decoração, iluminação, louças e metais. Ele também ressalta que são produtos de baixo valor agregado, porém, destaca que são itens que podem ser exportados em larga escala.

Otimista, Scangarelli afirma ainda que a tradicional pauta de exportações do Brasil para os Estados Unidos, ligada ao agronegócio, será beneficiada caso o plano econômico do republicano dê certo e resulte em aquecimento do mercado interno americano.  

 “O Brasil também terá tarifas diferenciadas, mas não se comparará ao protecionismo que o Trump vai implantar em relação à China. E com o mercado aquecido, o que já exportamos para eles vai aumentar. Então, temos um potencial gigantesco de expandir a nossa pauta e elevar os volumes dos itens que já são de praxe na relação bilateral”, pontua.

Brasil terá oportunidade de fazer negócios com outros países a partir das tarifas norte-americanas

Na avaliação do economista, doutor em Relações Internacionais e CEO da Amero Consulting, Igor Lucena, o volume de embarques do Brasil para os Estados Unidos não será impactado com a volta de Trump à Casa Branca. Para ele, o que pode acontecer é uma queda na demanda no longo prazo, o que dependerá das medidas que serão implementadas.

O especialista sublinha que as tarifas de importação que o presidente adotará podem gerar oportunidades para o Brasil de abertura de negócios com outros mercados que também serão taxados, mas que não tem barreiras comerciais com os brasileiros.

“Se o Trump colocar uma tarifa linear, supondo, para a soja, e a França, por exemplo, vai tributar a importação americana de milho, é uma possibilidade do mercado de milho brasileiro começar a vender para os franceses”, exemplifica.

Dólar deverá ser fortalecido com Trump no poder

A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos também gerou expectativas sobre a cotação da moeda norte-americana, que tende a ser valorizada, sobretudo no médio e longo prazo, conforme analistas consultados pela reportagem.

O diretor de Gestão de Fundos da Oryx Capital, Luiz Arthur Fioreze, diz que as expectativas sobre o dólar estão em alta, especialmente diante do plano econômico de Trump. A intenção do republicano em reduzir gastos governamentais, cortar impostos e atingir um superávit da balança comercial, entre outras propostas, devem fortalecer a moeda no curto prazo, com impacto positivo sobre o consumo e o investimento, segundo ele.

“A formação bruta de capital fixo, ao elevar a produtividade, contribui para que o PIB dos Estados Unidos cresça de maneira sustentável, o que, no longo prazo, pressiona o dólar a se manter como uma moeda forte e atraente no cenário global”, destaca.

Já o especialista da Valor Investimentos Paulo Luives observa que a postura protecionista de Trump deve resultar em um nível de inflação eventualmente maior e, consequentemente, uma política monetária mais restritiva do banco central americano, com taxa de juros mais altas, impactando na valorização do dólar no médio e longo prazo frente a outras moedas.

Por outro lado, o assessor da iHUB Investimentos Lucas Sharau ressalta que, a curto prazo, é difícil prever como a moeda americana vai reagir à vitória do republicano. Quanto ao médio e longo prazo, na visão dele, a tendência é de valorização do dólar com um possível fortalecimento da economia americana, além do cenário de insegurança fiscal no Brasil.

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