Política

Wanderson Rocha propõe estatizar os serviços essenciais

Servidor público municipal, professor e sindicalista, Wanderson Rocha é candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pelo PSTU
Wanderson Rocha propõe estatizar os serviços essenciais
Wanderson Rocha questiona o modelo de gestão compartilhada entre os setores público e privado | Crédito: Diário do Comércio / Breno Ribeiro

Servidor público municipal, professor e sindicalista, Wanderson Rocha é candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pelo PSTU. Com uma trajetória marcada pela defesa dos trabalhadores e de políticas públicas de qualidade, usa como mote de campanha algumas das bandeiras de seu partido: a taxação dos super-ricos e municipalização e estatização de serviços essenciais, como transporte público, saúde e educação.

Wanderson Rocha critica o modelo de gestão compartilhada entre o setor público e o privado, sob o argumento de que nem mesmo os altos investimentos ou subsídios foram capazes de garantir melhorias significativas na qualidade dos serviços. Suas propostas envolvem ainda a criação de conselhos populares, formados por usuários, especialistas e trabalhadores em vistas de garantir uma gestão mais democrática e eficiente nas diferentes áreas da sociedade e também convencer os representantes de outras esferas de poder.

“A Belo Horizonte que eu sonho é a Belo Horizonte governada pelos trabalhadores e pela juventude. É uma cidade sem exploração e gente oprimida. […] A gente está apostando muito nos conselhos populares, que é uma forma de a população estar com o governo municipal. Quando o povo trabalhador se organiza, os governantes têm receio (e atendem)”.

A menos de duas semanas para o primeiro turno das eleições municipais 2024, que acontece no domingo, dia 6 de outubro, o candidato encerra a série de entrevistas do Diário do Comércio com alguns dos principais concorrentes ao cargo de prefeito de Belo Horizonte. A proposta era ouvir oito dos dez postulantes, porém, a equipe do prefeito Fuad Noman (PSD), candidato à reeleição, remarcou a conversa várias vezes e terminou não confirmando uma data para a entrevista.

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Vale lembrar que os agendamentos levaram em consideração os resultados da pesquisa de intenção de votos mais recente até o início dos convites, que ocorreu em meados de agosto. Trata-se da pesquisa Datafolha publicada no dia 22 daquele mês, realizada nos dias 20 e 21, ouvindo 910 pessoas na cidade. Como critério, convidamos os concorrentes com pontuação igual ou superior a 1% no levantamento.

Todas as conversas tiveram duração de 45 minutos e a economia como tema central. Ouvimos de cada candidato, suas análises e propostas acerca dos desafios existentes na cidade. Falamos de presente, mas principalmente, de futuro, com perguntas dentro das mesmas temáticas, mas contextualizadas com o histórico e plano de governo proposto pelo candidato ou candidata. Já a ordem de publicação seguiu a agenda e disponibilidade de cada concorrente.

Por que você quer ser prefeito de Belo Horizonte?

Eu vim do movimento estudantil, estudei na Universidade do Estado de Minas Gerais, na Faculdade de Educação, formei em Pedagogia, e participava do movimento estudantil, que  me despertou essa ânsia de discordar do mundo que a gente vive. Um mundo em que você tem uma concentração de riqueza nas mãos de poucos. E um mundo que não tem problema nenhum em ampliar as diferenças sociais e econômicas. Lá eu lutei muito pela valorização da prestação de serviço público da universidade, na época não existia política estudantil e a gente conseguiu, mais adiante, garantir a gratuidade no campus de Belo Horizonte. Além disso, entrei na prefeitura em 2004, sou professor alfabetizador, trabalho com as crianças de 6 anos, 7 anos de idade. E todo esse envolvimento e engajamento que tive no movimento estudantil também está nas principais lutas dos trabalhadores da rede municipal para garantir valorização e melhores serviços para a população. E neste processo eleitoral, o PSTU vê como natural se colocar como alternativa para os trabalhadores, porque os patrões vão ter seus representantes. Então, o PSTU não pode se furtar em apresentar uma candidatura com firmeza ideológica, que sabe de que lado está, uma firmeza que compreende que esse sistema capitalista precisa ser banido e derrubado, que a gente viu na própria pandemia, o tanto que ficou demonstrado a desigualdade existente no nosso País. Enquanto víamos bilionários aumentarem suas fortunas em detrimento de pessoas morrendo por causa da Covid. Governos que eram negacionistas, não ajudavam o País naquele momento. Sou candidato à Prefeitura de Belo Horizonte, representando a ideologia em que o dinheiro público tem que ser usado a serviço público e não para terceirização e privatização. Por isso, a gente se coloca como alternativa, neste momento, à Prefeitura de Belo Horizonte, junto com a minha vice Andréia, uma lutadora, também professora da rede municipal e estadual, defensora da causa animal e uma das principais lideranças do movimento sindical voltado à defesa dos direitos dos trabalhadores e dos serviços públicos de qualidade.

No País e mais precisamente agora em São Paulo, vivemos um cenário de polarização empobrecendo os debates. Você acha que esse cenário se repete aqui em Belo Horizonte?

Aqui está um processo diferente, não tem cadeirada, não tem uma agressividade no campo pessoal. Somos firmes em fazer críticas aos candidatos que consideramos que representam um setor, porque somos um partido classista e fazemos questão de reforçar isso. Em São Paulo, mesmo aqueles que falam que são antissistema estão ligados ao sistema. Em Belo Horizonte não fizemos a unificação da esquerda, que é um debate que vem sendo feito. Mas o PSTU tem uma base programática que os outros candidatos não queriam abraçar. A primeira é ter a firmeza de que a cidade precisa ser governada com os trabalhadores e tanto a Duda (Salabert) quanto o Rogério (Correia) vêm com discurso de que vão governar para todos. A gente acha até estranho. Eles fazem parte da base do atual prefeito, o Fuad, e saem como oposição? Por isso não tivemos uma oposição parlamentar de esquerda em Belo Horizonte. O PSTU foi um dos poucos partidos que sempre efetuou críticas à atual gestão. Então não foi possível, do nosso ponto de vista, fazer essa unificação. Isso é enganar as pessoas.

A sua proposta para solucionar os problemas de mobilidade da cidade é municipalizar o transporte público?

Sim, como está há 30 anos privatizado, nas mãos de empresários, e nada é feito, nosso ponto de vista é de que tem que fazer a municipalização. A gente está propondo também ter conselhos populares com usuários do transporte, especialistas da área de mobilidade e os próprios trabalhadores. Tem uma lei já aprovada na Câmara Municipal, que fala sobre a encampação. A encampação estabelece que se as empresas não estão cumprindo o contrato, a prefeitura tem, nessa legislação, o poder de absorver os ônibus e os trabalhadores. Ou seja, já está com meio caminho andado com essa lei, porque são as empresas que estão gerando multas e multas e não fazem o pagamento. A tendência mais adiante é essas empresas terem o perdão das dívidas. E daqui para o final do ano, a única certeza que temos é: ou vai aumentar o preço da passagem, ou vai aumentar o subsídio. Quem vai pagar o preço disso aí é o trabalhador que levanta às 5 horas da manhã.

O que pode ser feito após a municipalização ?

A gente está trabalhando a questão da própria mobilidade. Sou da região do Céu Azul, em Venda Nova, e pego o corredor que vai até a estação Pampulha, na avenida Portugal. Ali existe um gargalo já previsto à época das obras para a Copa (do Mundo de 2014); de termos alguns locais que se poderia considerar como pista exclusiva de ônibus, porque ali vira um caos. A própria José Cândido da Silveira estava no projeto. Se a gente for pegar também a saída para Pedro II, se pegar a avenida Tancredo Neves, existia a previsão de um BRT, uma estação ali e isso não se efetivou. Até desapropriaram os moradores da Vila São José e não houve mudança significativa. Nossa proposta é, além da municipalização, também criar alguns modais. A gente vai solicitar ao governo do Estado, ao governo federal os recursos.

Como você avalia o processo de concessão do metrô?

A gente tem uma crítica forte em relação ao próprio metrô. O governo Bolsonaro iniciou a privatização do metrô, a partir da concessão pedida pelo governo do Estado, Romeu Zema, e a gente lamentou muito o governo Lula não ter rompido a continuidade da privatização. Por que eu digo isso? Já tem estipulado R$ 2,8 bilhões para concessão ao longo de 30 anos para essa empresa. Uma empresa que ganhou um consórcio por R$ 25 milhões. E se a gente for comparar foi a preço de banana, em que a empresa ainda vai conseguir recurso federal e recurso estadual, que está dando mais R$ 400 milhões do dinheiro do acordo da Vale, a contrapartida dessa empresa assassina, para tentar amenizar e repassar o dinheiro para os governos, no caso o governo estadual, sem ter resolvido até a minha situação dos moradores de Brumadinho, da região de Mariana. Por isso, a gente também vai defender, caso ganhe a prefeitura, ter uma conversa com o governador Romeu Zema e com o presidente Lula para repassar a responsabilidade da gestão do metrô para a prefeitura. Porque a prefeitura não teria gasto nenhum. Imagina você ter R$ 2,8 bilhões em caixa mais R$ 400 milhões do governo do Estado… seria pouquíssimo e privatizou, piorou ainda mais para a população. O metrô passou de R$ 1,80 para R$ 5,50 e reduziu drasticamente os usuários. A tendência daqui a pouco é tentarem dar subsídio para essa empresa.

Essa reestatização é legal? É viável?

Para o transporte coletivo de ônibus, sim. Para o metrô a gente está apostando muito nos conselhos populares, que é uma forma da população estar com o governo municipal e quando o povo se organiza, o povo trabalhador, os governantes têm receio. Se a gente conseguir uma forte mobilização em Belo Horizonte, é natural o governo federal e o governo estadual se reunirem de forma urgente e repassar. Agora, para o transporte coletivo de ônibus é legal, já tem a encampação, que é uma lei municipal. E a previsão do contrato é para 2028. Então pega a próxima legislatura. Então, como a gente já percebeu que não estão cumprindo o contrato, a gente já, na transição, vai mudar isso e absorver os trabalhadores para evitar que o transporte pare na nossa cidade. A gente vai ter tranquilidade de conversar e vai ter muita mobilização da população e se ela compreender que, de fato, para ter transporte de qualidade em nossa cidade, para que o trabalhador não tenha que pagar passagem, ela vai se mobilizar. Hoje o desempregado para ir ao centro de Belo Horizonte tem que gastar R$ 10,50, já que é R$ 5,25 a passagem. É um absurdo. Para você se locomover dentro do bairro, você paga R$ 5,00. Da estação até o centro, R$ 0,25. Isso cerceia a mobilidade não só do trabalhador e daquele que está desempregado, mas da nossa própria juventude. Se a gente for pensar que é uma juventude que tem que conhecer vários espaços da cidade, investimentos em cultura para que a juventude tenha acesso, ela é cerceada pelo fato de ter uma passagem cara e não ter nenhuma gratuidade.

Como que seriam esses conselhos?

Os conselhos vão ser temáticos. Para a saúde, educação, mobilidade e transporte. Diferente dos conselhos municipais e diferente do orçamento participativo, porque nossa ideia é descentralizar as decisões da prefeitura. Uma eleição não tem uma neutralidade, já que têm os financiadores das campanhas. Os conselhos vão ser uma forma de descentralizar essas decisões. Não é igual o orçamento participativo, que era uma porcentagem mínima, que fazia com que as pessoas brigassem dentro do bairro. Com o orçamento da prefeitura, que vem aumentando a cada ano acima da inflação, a nossa ideia é descentralizar as decisões da cidade e com isso garantir que os recursos de fato cheguem até a ponta, seja para a cultura, para a saúde, para o transporte, para a moradia da nossa cidade, para a própria educação da nossa cidade também. Acho que vai ser um modelo novo e diferente que vai dar o poder das pessoas definirem e decidirem, não simplesmente daqui a quatro anos, vota hoje, não gostou do político, daqui a quatro anos vai pensar se muda ou não. Se você envolve a população nos espaços decisórios, a cidade vai ganhar e muito. Uma cidade que foi construída há mais de 126 anos pelas mãos de ex-escravizados, de operários e até de trabalho infantil… quem construiu a riqueza dessa cidade foi sendo expulso para as vilas e favelas e atualmente, para outros municípios, porque o preço alto do IPTU, o custo de vida em Belo Horizonte está expulsando as pessoas. Lá no Serra Verde, onde teve a construção da Cidade Administrativa próximo, houve um boom imobiliário e isso vem forçando as pessoas a saírem de lá e irem para Santa Luzia ou para Ribeirão das Neves. Por isso estamos defendendo uma nova fórmula para o IPTU. A cidade tem uma dívida histórica e econômica com os nossos antepassados, com o povo que ajudou a construir a riqueza dessa cidade. A gente vai trabalhar com a renda para garantir até a gratuidade. 

E como fica a arrecadação? O município vai perder dinheiro? 

A nossa ideia é ter um imposto progressivo. Por exemplo, a gente tem metros quadrados, como a Savassi, de mais de R$ 11 mil. É inadmissível você ter uma cidade com metros quadrados com esse valor, enquanto há pessoas na extrema pobreza. Saiu agora um estudo da UFMG dizendo que 40% das pessoas de vilas e favelas está passando fome em nossa cidade. Imagina uma cidade rica, que tem um PIB de mais de R$ 105 bilhões, convivendo com a extrema pobreza, pessoas passando fome e desempregadas. Então, para os super-ricos, a gente vai aumentar o IPTU como uma forma de retribuir o histórico de dívida que a cidade tem. A cidade também deve muito aos pequenos comerciantes, que são aqueles que de fato geram emprego em nossa cidade. Cerca de 80% tem até dez empregados. Então, o nosso compromisso hoje é com os trabalhadores, com os pequenos comerciantes, diante da dívida que a cidade tem com essas pessoas.

Você defende a revisão do plano diretor?

O plano diretor é um plano muito disputado por vários setores da sociedade. E mais uma vez os conselhos populares serão fundamentais, porque se a gente for jogar a discussão só para a Câmara Municipal, vai ter muita dificuldade, porque a composição da Câmara sempre não favorece muito os trabalhadores. Por mais que você possa ter algumas pessoas que venham das regiões periféricas, boa parte ali está compromissada com seus interesses. A gente tende a fazer uma rediscussão do plano diretor, mas essa discussão só virá depois que a gente organizar os conselhos populares para que, de fato, a gente tenha peso social para convencer os vereadores, porque, do contrário, vai ser chantagem. Atualmente é assim. Nosso sistema político tem uma centralização no poder Executivo, porque ele que tem o recurso financeiro, mas agora acabaram inventando essas emendas impositivas que, do nosso ponto de vista, piorou a situação, porque praticamente quase não tem renovação. Não queremos cair no “toma lá, dá cá”, como acontece hoje, não só em Belo Horizonte, mas no País todo.

E o que você pensa sobre os projetos minerários na Serra do Curral? 

Primeiro é preciso a gente entender que o PSTU defende outro modelo de mineração. A gente não é contra a mineração, a gente defende outro modelo. Não esse modelo que predatório, que faz cálculos para ver quantas pessoas podem morrer.  E mesmo assim, em Mariana e Brumadinho tem gente que até hoje não recebeu. Um modelo que não está nem aí para o meio ambiente, que não está nem aí para os animais da nossa fauna, nem para a nossa flora. Então, nós compreendemos que a Serra do Curral já não dá mais para utilizar para a mineração. E o que for possível, por parte da prefeitura, a gente não vai permitir que haja mineração. E pretendemos fazer um chamado também aos governos federal e governo estadual, já que são eles que dão a concessão. Vamos exigir que os governos cancelem as concessões. Aí se resolve toda a situação, não só na Serra do Curral, mas no Rola Moça também. É importante compreender que a mineração predatória contribui também pela crise climática que a gente vive. O próprio agronegócio também contribui substancialmente, cerca de 75% do que a gente vive hoje é devido às queimadas. Então, muitas vezes fazem até queimadas porque tem seguro. A gente fez um estudo que mostrou que no ano passado, o governo federal deu cerca de R$ 300 bilhões e esse ano estão previstos R$ 400 bilhões e nada de ajudar a agroecologia. A gente vai ter firmeza. 

Como impulsionar os segmentos de comércio e serviços da cidade e, ao mesmo tempo, incentivar a diversificação da economia?

Temos a Feira Hippie, que é uma referência de pessoas do mundo. Temos praticamente tudo lá. A nossa ideia é fazer a descentralização da feira, ampliar onde for possível e também levá-la para as regionais da cidade replicando o modelo. Isso também incentiva as pessoas a conhecerem as regionais, que também têm suas culturas. E tem o polo da moda no Barro Preto, que não teve quase socorro algum na pandemia. Precisamos lembrar quantos empregos aquelas empresas geram. Acreditamos que a maneira da prefeitura valorizar esse setor é descentralizando também. Também tem o BHTec, um laboratório que reúne startups, mas saem de Belo Horizonte e vão para outros estados e outros países. Pretendemos estimular parcerias com a Universidade Federal de Minas Gerais para incentivar a nossa juventude a ter outras perspectivas, porque atualmente não tem perspectiva quase nenhuma. A gente está vivendo um sistema capitalista que diz que a culpa é individual. Mas existe uma desigualdade, na qual o filho de um bilionário ou de um rico tem outras opções. O filho do pobre, do trabalhador, fica com poucas perspectivas. Por isso que a gente vai investir fortemente na parceria com a UFMG e com outras instituições públicas.

E isso passa também pela desburocratização?

Como vamos trabalhar com os conselhos, a gente vai chamar todos os agentes que compreendem o que dificulta. Eu tive no São Geraldo, numa feira, eles estavam reclamando justamente da burocracia na prefeitura. Uma das senhoras que conversei falou que tinha até a data de segunda-feira para preencher uma série de documentos, mais de 30 páginas. Ela não tinha muito domínio da tecnologia, ela não sabia onde que ela iria. Falta suporte. Não acho que a gente tenha que abolir a tecnologia, mas pensar também nesses feirantes, por exemplo, em que o processo de burocratização é tão grande que acaba que o BH Resolve não consegue resolver. A prefeitura, talvez numa canetada, num decreto, poderia resolver isso. Ou se precisar de uma legislação que possa facilitar, a gente vai ter esse compromisso para evitar que as pessoas percam muito tempo e até mesmo desistam. Também queremos auxiliar as pessoas que talvez não tenham acesso às redes sociais como deveria. As escolas podem ser um polo ou o próprio BH Resolve. Podemos ter diferentes unidades do BH Resolve para evitar que a pessoa tenha que ir ao centro da cidade resolver essas questões, porque ainda tem o preço da passagem que é um absurdo.

E para a indústria criativa, as áreas de gastronomia, turismo, cultura, que também são muito importantes para a cidade, o que você propõe?

A gente vai nesse mesmo modelo de conversa. Temos uma área gastronômica nas periferias e às vezes as pessoas não enxergam, acham que é só o Mercado Central que é o polo. Eu vou muito no restaurante do Caju, no Céu Azul. O espaço é módico, mas por que não fazer a divulgação do que existe nas regionais, do que tem nas periferias da nossa cidade? Temos diversos estabelecimentos nessas regiões e o que falta é incentivo da prefeitura até mesmo para ajudar na divulgação.

Como professor, quais são suas propostas para a educação? Inclui a municipalização da rede de ensino. Como seria?

De 2017 para cá houve um peso da gestão do Kalil e seguiu com o Fuad de repassar o dinheiro público para as organizações sociais – as antigas creches conveniadas. As creches conveniadas tiveram um papel importantíssimo nas décadas de 70 e 80, porque era considerado assistência social, e com a Constituição a educação infantil passou a ser responsabilidade dos municípios. O crescimento dessas organizações sociais fez com que tivéssemos salas fechadas na rede própria. Hoje temos 144 escolas de educação infantil da rede própria e 244 creches conveniadas. E vamos ser sinceros, algumas creches conveniadas não tem ligação com vereador. A gente tem uma ONG chamada Bacana Demais, que um candidato a vice-prefeito é um dos fundadores e recebe verba da Prefeitura de Belo Horizonte. No formato de hoje, essas creches estão servindo muito mais para manter quem está no poder. Eles priorizaram colocar o tempo integral na rede conveniada, sendo que a gente tem uma estrutura forte da rede própria. Estão faltando cerca de 1.600 crianças para garantir o acesso a todas na cidade. E analisando, vimos que as salas fechadas do tempo integral e do berçário são suficientes para zerar a fila. E precisamos fazer a municipalização de algumas dessas estruturas. O povo de Belo Horizonte não precisa de puxadinho, precisa de escola de verdade. Para o ensino fundamental, a gente quer garantir que todas as escolas tenham biblioteca, porque tem escola que não tem biblioteca. Também precisamos de laboratórios de informática. Por fim, a valorização dos profissionais da educação. O professor hoje ganha R$ 3.200 bruto ou R$ 2.500 líquido. É um absurdo. A gente tem que valorizar o professor e vamos pagar o piso nacional que hoje é R$ 4.580,27. E aos auxiliares administrativos das escolas, vamos garantir que recebam 70% do que ganha um professor. Tem um projeto de lei no Congresso que trata dessa vertente. Já vamos antecipar isso aí. E quanto aos 7 mil trabalhadores terceirizados, vinculados à MGS ou a Caixa Escolares, nossa ideia é cancelar o contrato com a MGS, que ganha muita grana e paga um dos piores salários do Brasil, absorvê-los e ter um plano de carreira para esses trabalhadores. Equipes multiprofissionais. No ensino, como vem aumentando o número de crianças com deficiência acessando o serviço público de Belo Horizonte, vamos garantir que tenha um professor especialista em educação especial na perspectiva inclusiva, em cada turno, para que ele dê suporte ao professor na sala de aula. Só assim vamos ter, de uma inclusão. A gente não quer mais só o menino na escola, a socialização. Tem que ter aprendizagem. 

Tem recurso suficiente para fazer o que você planeja na saúde? Ampliação do Samu, UPAs, leitos e centros de saúde?

Tem recurso. Se utilizou teve R$ 1 bilhão para socorrer empresário de ônibus, tem dinheiro para investir nessas áreas. Eu estive no Risoleta Neves, que é referência no Vetor Norte da cidade e falta uma coisa simples, um hospital de leito de espera. Lá tem entrada de urgência e emergência, mas a saída complica, porque as UPAs estão lotadas e os posto de saúde têm características próprias e não poderiam absorver. Já assumi o compromisso de ter um hospital municipal, um equipamento no centro da cidade, ali na rua Paraíba, para implantar um hospital de leitos de espera e, assim, desafogar o Risoleta e o Odilon Behrens. E para o Hospital do Barreiro a ideia é municipalizar, porque aí, de fato, a gente deixa de repassar dinheiro público para iniciativa privada. Então, grana tem. É só não repassar dinheiro nosso, público, suado, dos impostos pagos pelos pequenos comerciantes, pelo trabalhador para os bolsos dos super ricos. Saúde e educação não podem ser mercadoria. Dinheiro público é do serviço e do equipamento público para atender a população.

Você fala sobre a municipalização, estatização, reestatização de diversos ativos, de diversas áreas, de diversos segmentos. Tudo isso é legal ou vocês estão apostando no apelo popular?

Tem legalidade no que compete à Prefeitura de Belo Horizonte, como eu falei, o caso dos ônibus. Alguns hospitais a gente pode fazer exigência ao governo federal e ao governo estadual porque compete a eles passar a responsabilidade para a prefeitura. E vários países fazem isso, quando veem que a situação do atendimento do público não é a ideal. Por isso o PSTU defende que o que compete à prefeitura, vai ser feito pela prefeitura. Agora, o que compete ao governo federal e ao estadual, os conselhos populares vão ser importantes para sustentar o pedido de estatização.

E no caso da segurança pública, o que você propõe?

A segurança, no todo, a responsabilidade é do governo do Estado. A gente compreende que a polícia deveria ser uma polícia única. Poderia ter a Polícia Civil, a Polícia Militar e outros braços de opressão, todos têm direito à sindicalização. A lógica militar, do nosso ponto de vista, é complicada, porque às vezes o policial mora lá na periferia, mas recebe ordens de dar um tratamento diferente. Na Savassi a ordem é uma e no Poca Oi, é outro. É isso que a gente quer mudar, tirar essa lógica hierárquica da Polícia Militar. No que compete à Prefeitura de Belo Horizonte, que é a Guarda Civil, no nosso ponto de vista, ela não tem que ser armada. Ter mais um aparelho repressor para bater em camelô, sendo utilizado até mesmo para bater em professor, não queremos. A Guarda Civil tem que ter um papel mais comunitário. O papel dela hoje é mais institucional. Esses que estão prometendo armar a guarda, aumentar o efetivo da guarda, eu que sou negro e quem mora lá no Poca Oi, quem mora lá no Suvaco da Cobra, e as demais pessoas que moram nas periferias, vilas e favelas, temos uma única certeza: que o aparelho repressor do Estado não bate no portão como na Savassi. Eles já chegam arrebentando o portão ou pulando o muro, sem mandado de segurança. A gente até defende que os delegados deveriam ser eleitos pelas comunidades, porque você cria uma relação e hoje as pessoas têm medo. A gente assume o compromisso garantir o não armamento da Guarda Civil e transformá-lo numa guarda comunitária, numa guarda que, de fato, garanta o patrimônio da nossa cidade.

Você acha que é preciso aumentar a arrecadação de Belo Horizonte para equalizar as finanças ou é uma questão de gestão dos recursos?

Tenho certeza que como existe uma dívida econômica e histórica com nossos antepassados, vamos ter que ter imposto progressivo para aqueles que ganham muito. E isso não inclui o pequeno comerciante ou o trabalhador. Eles têm uma dívida com a cidade. Tem que aumentar ainda mais a arrecadação; temos verbas federais para a saúde, educação, que são verbas carimbadas. E taxar os bilionários, porque se não fizer isso, a desigualdade vai se manter. Os super ricos têm que entender que eles precisam contribuir para mantermos um equilíbrio e as pessoas tenham condições de emprego, trabalho, educação e saúde de qualidade em nossa cidade.

Qual a Belo Horizonte do futuro você quer, sendo eleito ou não?

A Belo Horizonte que eu sonho é a Belo Horizonte governada pelos trabalhadores, é a Belo Horizonte governada pela juventude da nossa cidade, é uma cidade que não tem exploração, não tem gente oprimida, ninguém que seja explorado. Por isso que nós do PSTU temos um sonho maior ainda: defendemos outra sociedade, a sociedade socialista, porque o sistema capitalista já provou que socorre os bilionários, não o povo trabalhador.  Queremos uma Belo Horizonte da classe trabalhadora, uma Belo Horizonte da nossa juventude, para que, de fato, haja riqueza na cidade e todos possam usufruir dessa riqueza.

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