Sustentabilidade

UFMG identifica espécies que podem ajudar a recuperar bacia do Rio Doce

Estudo identifica espécies que ajudam no processo e alerta para risco de homogeneização ambiental
UFMG identifica espécies que podem ajudar a recuperar bacia do Rio Doce
A variação dos solos possibilita que muitas espécies diferentes de plantas possam coabitar na área| Crédito: Carlos Alberto

Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificou as espécies vegetais nativas das margens do Rio Doce que desempenham um papel crucial na restauração da biodiversidade local após o desastre causado pelo rompimento da barragem do Fundão em 2015, na região de Mariana.

O artigo, recentemente publicado na revista Nation Conservation Research, detalha as espécies encontradas e descreve as características da vegetação. Para isso, foi utilizada a técnica de “fitossociologia”, na qual áreas de floresta são selecionadas e todas as plantas são medidas, registradas e identificadas por especialistas em botânica.

Este estudo faz parte do Projeto Biochronos, liderado pelo professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG.

Há quatro anos, o grupo vem investigando os impactos do desastre ambiental na bacia do Rio Doce. A análise da vegetação e a coleta de solo foram realizadas em três distritos de Mariana: Santa Rita Durão, Monsenhor Horta e Camargos.

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Nas áreas remanescentes de floresta de referência, que não foram afetadas pela lama, o estudo identificou 174 espécies de árvores adultas e 189 espécies de plantas jovens.

De acordo com João Carlos Figueiredo, doutorando em Biotecnologia na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e um dos autores do estudo, o objetivo do artigo era investigar as espécies e suas abundâncias na vegetação nativa das margens dos rios em áreas preservadas no epicentro do desastre.

“Queríamos entender como essas espécies se comportavam em relação às características do solo, como o pH, a acidez e os nutrientes. Queríamos identificar como devem ser restauradas as áreas da bacia que foram impactadas pelo rompimento da barragem em 2015”, explica. 

Diversidade e restauração da bacia

Ao analisar as plantas jovens nas áreas florestais não afetadas pelo desastre, foi observado que a grande variedade de espécies está diretamente ligada à fertilidade do solo. Isso sugere que a diversidade do solo permite a coexistência de muitas espécies de plantas na região.

Apesar da proximidade geográfica, as áreas de mata ribeirinha estudadas pelos pesquisadores mostraram diferenças significativas, tanto na composição das árvores como nas características do solo. 

Dado que poucas espécies eram compartilhadas entre esses trechos, o grupo concluiu que há uma grande diversidade de espécies entre os locais, indicando que as práticas de restauração atualmente empregadas na bacia, que se baseiam em apenas um conjunto limitado de espécies para o plantio, estão equivocadas.

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Como ficou as áreas do rio que foram atingidas, em 2015, pelo rompimento da Barragem de Fundão em Mariana | Crédito: Fred Loureiro

O artigo enfatiza que a busca por uma solução universal para as diversas áreas de mata ciliar na bacia do Rio Doce pode resultar na homogeneização do ambiente.

“Assim, estudos como esse devem ser realizados em toda a bacia, a fim de estabelecer ecossistemas de referência que auxiliem a definir metas e monitorar o sucesso da restauração, principalmente nas florestas ribeirinhas”, comenta Figueiredo.

A restauração deve levar em conta as particularidades de cada área a ser recuperada e priorizar uma maior diversidade de espécies de plantas, a fim de reduzir os riscos de homogeneização ambiental, um fenômeno de escala global.

Aumento da biodiversidade

Para melhorar a biodiversidade local, o projeto Biochronos tem como meta avaliar e monitorar, ao longo do tempo e utilizando métodos sólidos e inovadores, a transformação da paisagem, a saúde do meio ambiente e os processos ecológicos que promovem o aumento da diversidade biológica e o funcionamento das áreas afetadas pelos resíduos da Barragem de Fundão.

Portanto, a restauração ecológica da bacia do Rio Doce busca aumentar a diversidade biológica e as interações entre os organismos de forma a melhorar a integridade da paisagem e o equilíbrio do ecossistema. 

Através de tecnologias científicas avançadas, o grupo do projeto investiga e descreve o funcionamento dos ecossistemas de referência em todos os níveis ecológicos, incluindo observações via sensoriamento remoto, com o objetivo de compreender as pressões enfrentadas pelas comunidades naturais. 

Isso envolve intervenções em vários níveis ecológicos, como solo, fungos micorrízicos, espécies vegetais e a macrofauna (incluindo polinizadores, herbívoros, detritívoros, decompositores e predadores).

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