IA para facilitar prescrição de medicamentos está em desenvolvimento na UFMG

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está coordenando um projeto que propõe a criação de um sistema, com uso de Inteligência Artificial (IA), para geração de orientações para os usuários sobre a prescrição dos medicamentos.
O programa será desenvolvido por refinamento de modelos de linguagem (LLM) capaz de gerar texto e imagens em resposta a solicitações dos usuários, como orientações nas prescrições, acessíveis e adaptadas ao contexto cultural e ao grau de letramento específico do paciente.
A previsão é que o novo sistema seja aplicado ao atendimento de atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, médicos, dentistas, enfermeiros e outros profissionais que prescrevem medicamentos, vão montar as receitas no sistema eletrônico, seguindo regras e preenchendo campos padronizados criados para diminuir a chance de erros por parte dos usuários dos medicamentos.
Uma vez estabelecidos os comandos, a IA elabora o texto: chama a pessoa pelo nome, diz o nome completo do medicamento, explica como usar e ainda recomenda medidas de segurança, como a forma adequada de guardar o remédio.
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Segundo a professora da Faculdade de Medicina da UFMG, coordenadora do projeto e do Centro de Informática em Medicina da unidade, Zilma Nogueira Reis, o sistema do SUS é excelente, no entanto, a linguagem é de difícil entendimento para a população em geral.
“Palavras e termos técnicos favorecem apenas quem prescreve e quem entrega o medicamento. Nosso objetivo é, por meio da inteligência artificial, também ajudar o paciente a usar os medicamentos de forma correta”, considerou.
A professora da UFMG acredita que o uso da IA é promissor na área de saúde. “Estamos em fase de testes bem adiantados, no entanto, é uma tecnologia que, como qualquer outra na área, é necessário comprovar que não vai trazer nenhum risco. Aí entra o papel da pesquisa e da universidade. Então, no nosso cronograma, queremos entregar um primeiro protótipo, em uma etapa chamada de prova de conceito, até maio de 2025. Para isso, os médicos vão avaliar e vão, sob determinados critérios, dizer se o que está escrito é seguro”, explicou.

Ela advertiu, no entanto, que é um trabalho que tem que ser feito com muita cautela. “Com mais segurança, vamos começar a introduzir em cenário real, o que não significa que vai estar disponível para o Brasil inteiro. Deveremos fazer uma implantação piloto, escolhendo um município ou algumas unidades de saúde, o que ainda vamos alinhar com o Ministério da Saúde, para avaliar bem antes de colocar em uso nacionalmente”, afirmou.
Zilma Reis está à frente de equipe multidisciplinar de pesquisadores trabalhando com IA – incluindo estudantes de graduação e de pós-graduação – da UFMG, da Universidade Federal de São João del-Rey, da Universidade do Porto (Portugal) e da Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, e técnicos do Ministério da Saúde do Brasil.
A iniciativa tem parcerias com universidades de Portugal e de Moçambique e conta com recursos da ordem de R$ 500 mil da Fundação Bill e Melinda Gates, que selecionou propostas de uso equitativo da inteligência artificial para melhorar a saúde global.
Os grupos-alvos do sistema são pacientes (ou seus cuidadores) suscetíveis a erros no uso de medicamentos por dificuldades na interpretação das receitas: pessoas com baixa escolaridade, pessoas de comunidades indígenas, idosos, pessoas com insuficiência visual ou auditiva.
A professora explicou que, informações como idade, escolaridade e região de residência do paciente vão subsidiar uma orientação compreensível para a preparação para o uso do medicamento, a aplicação propriamente dita e procedimentos posteriores, quando for o caso.
Ela exemplificou também que, diante da prescrição de se tomar um comprimido “de oito em oito horas”, muitas pessoas entendem “às oito da manhã e às oito da noite. Uma solução seria orientar para a ingestão dos comprimidos às 6h, às 14h e às 22h, como uma das possibilidades de horários. Essa forma de orientação esclarece o conceito de intervalo entre as doses”, disse a professora da UFMG.
De acordo com a professora, o grupo fez uma ampla revisão de literatura, em várias línguas, e não achou nenhum outro trabalho do gênero. Embora o apoio da Fundação Bill e Melinda Gates tenha sido oficializado recentemente, estudos vêm sendo feitos desde janeiro deste ano.
“Já estamos utilizando um software livre de inteligência artificial, no qual podemos fazer as adaptações necessárias. E temos um protótipo do sistema em funcionamento e um artigo aceito por revista especializada”, enumerou Zilma Reis.
Os planos incluem a realização de estudo de validação da tecnologia, em parceria com a Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde. Será feita avaliação em cenário real, envolvendo conjunto significativo de prescritores que já utilizam o Prontuário Eletrônico do Cidadão do Sistema e-SUS Atenção Primária à Saúde, para verificar aceitabilidade e viabilidade do uso da tecnologia por profissionais da linha de frente.
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