Museu Boulieu em Ouro Preto mostra Barroco internacional

Rio de Janeiro – Quem visitar Ouro Preto vai encontrar na entrada da cidade mineira o novo Museu Boulieu, que ocupa as instalações do antigo Asilo São Vicente de Paulo e acolhe a coleção do casal que dá nome à instituição.
A recuperação do imóvel levou quatro anos para ser concluída, em função da pandemia de Covid-19, e foi realizada pelo Instituto Pedra, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que desenvolve ações na área do patrimônio cultural.
O patrocínio foi do Instituto Cultural Vale, que investiu no projeto cerca de R$ 8 milhões por meio da Lei de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet. O novo equipamento foi inaugurado ontem e ficará aberto ao público a partir de hoje, às 10h.
O diretor-presidente do Instituto Pedra, Luiz Fernando Almeida (Nando), informou que além da restauração, coube à instituição realizar a museografia, estudo das peças e montagem do projeto expográfico, entre outras ações. “Foi um projeto integral”.
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A edificação tem área de quase 400 m² para exposição no pavimento superior, compreendendo seis salas. No térreo, abriga saguão de entrada, bilheteria, café/loja, sala multiuso, sala do Educativo, espaços administrativos e reserva técnica.
A coleção (foto), doada pelo casal Jacques e Maria Helena Boulieu, reúne, em sua maioria, obras de origem asiática e latino-americana, com destaque para o período barroco. “Principalmente o que a gente pode chamar de diáspora do barroco ibérico para a Ásia e para a América Latina. É um museu raro no Brasil, porque o acervo é mais internacional do que brasileiro. É importante, porque está em Ouro Preto e contextualiza o que a gente tem como fenômeno universal”, afirmou Nando Almeida.
O curador da exposição foi Angelo Oswaldo, antes de se tornar prefeito de Ouro Preto. Estarão em exibição 1.050 peças do total de 2.500 da Coleção Boulieu. As peças restantes vão possibilitar exposições temporárias e uma dinâmica do próprio acervo. “Você vai substituindo as peças em exposição. É essa a ideia. Há sempre um atrativo novo para o público”, disse ele.
O museu é gerido pelo Instituto Boulieu, criado com essa finalidade em 2008, sob o nome de Instituto Cultural Brasileiro do Divino Espírito Santo (ICBDES).
No saguão, o visitante conhece a história do casal Boulieu e a origem da coleção. No piso superior, ele é recebido, na entrada, por poemas de Fernando Pessoa e Luiz de Camões, na voz da cantora Maria Bethânia.
O diretor-presidente do Instituto Pedra disse que uma narrativa leva o público a uma viagem pelo novo caminho para as Índias, pelo Oriente, e depois chega à América e ao Brasil. “Chega à alma das pessoas e encontra civilizações que interagem com o barroco europeu, criando outra coisa”. Ali, com novos materiais e nova iconografia, o mundo ocidental se encontra e dialoga culturalmente com as tradições milenares locais. “As grandes navegações europeias contribuíram para propagar a fé e os impérios”, destacou.
Para Nando Almeida, o mais interessante que o Museu Boulieu oferece ao público é essa narrativa do olhar para fora do Brasil, para entender o processo todo como algo que ocorreu no mundo. “Essa é uma dimensão. Outra é que havia civilizações e que isso gerou uma coisa nova. O barroco brasileiro, por exemplo, não é igual ao barroco português. O barroco do altiplano andino não tem nada a ver com o barroco espanhol. Ele tem dimensão própria, que se deu exatamente a partir do encontro de várias culturas”.
Exposição
Fazem parte também da exposição duas obras cedidas temporariamente pela Coleção Ivani e Jorge Yunes, inaugurando o Programa Acervos em Diálogo.
Completa a programação de abertura do novo espaço a mostra temporária Aleijadinho – fotografias de Horacio Coppola, feita em parceria com o Instituto Moreira Salles. O conjunto de fotografias retrata as obras do escultor brasileiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a partir da viagem feita por Coppola a Minas Gerais, em 1945.
Serviço
O Museu Boulieu fica na Rua Padre Rolim, 412. A instituição vai funcionar às segundas, quintas e sextas-feiras e aos sábados e domingos, das 10h às 18h, com entrada a preços populares de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Às terças-feiras, o museu não abre e, às quartas, a entrada é gratuita das 13h às 22h.
Visitas monitoradas podem ser agendadas pelo e-mail [email protected]. Maiores informações podem ser obtidas no site museuboulieu.org.br.
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