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VIVE EM VOZ ALTA | Mestres que passam por nós e marcam nossas vidas

Aprovado no vestibular em dezembro de 1988, passei os primeiros seis meses do curso de Direito da UFMG no antigo prédio da Fafich na rua Carangola, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte, onde fiz o chamado ciclo básico. As disciplinas, se não me falha a memória, eram Introdução ao Estudo do Direito, Sociologia, Filosofia, Lógica e Política. O professor dessa matéria era o francês Michel Marie Le Ven, dono de sofisticado repertório intelectual e de rara erudição. O conteúdo que estudamos sob sua orientação era amplo e profundo, incorporando a obra dos mais importantes filósofos e cientistas políticos do Ocidente e promovendo a reflexão pertinente sobre as relações entre a Política e a vida. Com a iminência da realização das primeiras eleições diretas para presidente desde 1960, vários candidatos visitaram a escola, participando de debates com a comunidade acadêmica. A consciência de viver um momento histórico animava a todos e o clima era de alegria e esperança. Na Fafich também tive a oportunidade de assistir a uma inesquecível palestra da filósofa Sônia Viegas, que me impressionou profundamente, pelo vigor de sua inteligência e pelo brilho de seu pensamento. Sua lembrança me veio muitas vezes à mente ao longo deste ano, quando estive envolvido na viabilização da publicação de sua biografia, o que ocorrerá até o final do ano, no BDMG Cultural. Outro conferencista que me marcou foi o embaixador Sérgio Paulo Rouanet, com quem travei relacionamento mais tarde, por conta de seu importante trabalho sobre a correspondência de Machado de Assis, que lançamos aqui na Academia Mineira de Letras. A partir do segundo semestre de 1989, já no prédio da Faculdade de Direito, na Praça Afonso Arinos, passei a conviver mais no meio jurídico e a lidar com grandes professores. Rigoroso, o professor João Baptista Vilela, de Direito Civil, era altamente comprometido com a excelência acadêmica e estimulava os estudantes a melhorar, cada vez mais, sua performance. Também tenho saudades da professora Elza Maria Miranda Afonso, que lecionava com clareza e profundidade, ao mesmo tempo (o que nem sempre é fácil). Paraninfa de nossa turma, a excelente Misabel de Abreu Machado Derzi – depois procuradora-geral do Estado e hoje uma das tributaristas mais respeitadas do Brasil – igualmente tornou-se exemplo de professora competente e dedicada. Merece uma nota especial o fascinante Artur José de Almeida Diniz, titular da cadeira de Direito Internacional Público. Corajoso, ousado, criativo, relacionava sua disciplina à Filosofia, à Literatura e até à Religião e à Espiritualidade, campos que não tinha medo de incluir em sua reflexão intelectual. Amigo dos alunos, aberto ao contato de igual para igual com as novas gerações, ficará para sempre na minha memória como referência de pensador inquieto, indignado com as injustiças do mundo e com os dramas do sofrimento humano. * Jornalista. Da Academia Mineira de Letras

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