Política

Gafes demonstram dificuldades

Brasília – Gafes cometidas por Paulo Guedes, que pediu pressão sobre o Congresso para aprovar medidas de interesse do novo governo, e o desconhecimento sobre a votação do Orçamento foram pontos que, para alguns políticos, mostraram a dificuldade do novo governo de entender os meandros da capital federal, mesmo com um presidente que passou quase três décadas na Câmara dos Deputados e um ministro da Casa Civil também parlamentar como Onyx Lorenzoni.

Um deputado experiente na Casa conta que, apesar de ser parlamentar há quatro mandatos, o futuro ministro da Casa Civil nunca foi um nome com trânsito na Câmara. Responsável pela redação das chamadas dez medidas contra a corrupção, Onyx não só não conseguiu votos para aprová-las – apesar do apoio popular – como criou mais inimizades.

“Ele não tem trânsito. Como é que esse governo vai negociar?”, disse o parlamentar. “Uma coisa é aprovar redução da maioridade, mudanças no estatuto de desarmamento, que são coisas com apoio popular. Outra bem diferente é conseguir apoio para uma reforma da Previdência, que as pessoas não querem.”

Por sugestão das bancadas partidárias, Bolsonaro montou um time de ex-parlamentares na Casa Civil para “ajudar” Onyx nas negociações. Serão responsáveis por atender deputados e senadores, ouvir as demandas, levar ao ministro.

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Insistem os novos governistas que o reforço não será para um toma lá, dá cá, como são chamadas as trocas de votos por emendas ou cargos, mas sim para melhorar o fluxo e o relacionamento com os parlamentares.

“Minha dúvida é: esse grupo vai atender todos os parlamentares? Ou vai acabar atendendo só o partido dele? E se for um rival na mesma região? A verdade é que as coisas não mudam assim de repente”, avaliou o dirigente partidário.

Outro líder ouvido pela reportagem admite que boa parte do Congresso não “mudou o chip” – ou seja, ainda não aceita que a maneira de negociar com o novo governo vá ser diferente e ainda não sabe lidar com o que vem por aí.

“Tem um início aí de 75% de expectativa positiva. Com uma agenda inicial positivada, de coisas que interessam aos Estados, acho que ele vai poder ter diálogo com o Congresso”, disse o líder. “O teste vai ser na reforma da Previdência, em que não há apoio popular.”

O parlamentar lembra que Bolsonaro tem o hábito de usar as redes sociais para atrair seus simpatizantes para o que quer fazer e criar pressão. Essa, diz, é uma estratégia que funciona em questões populares, mas não para questões mais complexas como a Previdência. “As pessoas não querem a reforma, é um processo que não tem o mesmo respaldo. Você não vai para as redes sociais e vira as pessoas a favor da reforma”, disse.

Escalado para a Secretaria de Governo da Presidência, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, hoje um dos nomes mais próximos ao futuro presidente, diz que as dúvidas são normais com o novo modelo, mas que as pessoas, os políticos e os partidos irão se acostumar. (Reuters)

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