Caso de “vaca louca” prejudica Minas Gerais

Após a confirmação de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (mal da “vaca louca”) em uma propriedade de Marabá, no Pará, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) suspendeu os embarques de carne bovina para a China. A medida deve afetar Minas Gerais, uma vez que o país asiático é o maior importador da carne bovina do Estado. Somente no ano passado, os embarques do produto mineiro para a China somaram US$ 1,1 bilhão, respondendo por 79% do valor movimentado e somando 165 mil toneladas de carne bovina
De acordo com a nota do Ministério da Agricultura, após confirmada a enfermidade em um animal macho de 9 anos, o Mapa tem adotado todas as providências governamentais para o mercado de carnes brasileiras. Já foi feito o comunicado à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e as amostras foram enviadas ao laboratório de referência da instituição em Alberta, no Canadá, que poderá confirmar se o caso é atípico.
Ainda segundo o Mapa, o animal criado em pasto, sem ração, foi abatido e a carcaça incinerada. O serviço veterinário oficial brasileiro está realizando a investigação epidemiológica que poderá ser continuada ou encerrada de acordo com o resultado.
De acordo com o subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, a suspensão dos embarques traz preocupação para o setor produtivo, que tem a China como principal destino da carne bovina exportada.
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“Para Minas Gerais é uma situação preocupante porque a China é nosso principal cliente. A China vem se destacando, nos últimos anos, em vários produtos como a soja e as carnes. É um fator de preocupação já que teremos que dar, temporariamente, uma parada nas exportações. Vale lembrar que isso já ocorreu aqui, quando uma vaca de idade, em Minas Gerais, teve esse mesmo quadro há tempos atrás (2021)”.
Ainda segundo Albanez, apesar da suspensão temporária, a decisão do Mapa é assertiva e atende às exigências de acordos firmados com a China, o que mostra transparência e pode contribuir para que a suspensão seja revogada o mais breve possível.
“O mais importante é a transparência do governo brasileiro que está mostrando todos os procedimentos para que o nosso principal comprador perceba que estamos tratando do caso e que todo o protocolo sanitário está sendo adotado. Acreditamos que iremos superar essa mesma situação como superamos a ocorrida há tempos atrás, quando tivemos dois casos atípicos aqui no Brasil, sendo um em Minas. Esperamos que, o mais breve possível, tenhamos uma retomada”.
Caso a suspensão dos embarques se prolongue, pode haver prejuízos para a cadeia mineira. De acordo com os dados da Seapa em 2022, as exportações mineiras de carne bovina alcançaram US$ 1,4 bilhão, com o embarque de 233 mil toneladas. Deste total, somente a China respondeu por US$ 1,1 bilhão (79%) e 165 mil toneladas.
Em janeiro deste ano, as exportações do segmento alcançaram US$ 81 milhões, com o embarque de 17 mil toneladas. A China manteve a posição de liderança, respondendo por 83% das vendas mineiras (US$ 67 milhões), com o embarque de 13 mil toneladas. Na comparação com janeiro de 2022, os embarques para a China cresceram 47% no valor e 87% no volume.
“Se essa paralisação demorar muito tempo pode afetar o mercado e as exportações, mas acreditamos que isso vai ser superado o mais rápido possível”, explicou Albanez.
O superintendente de Relações Institucionais da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Altino Rodrigues, explica que a vaca louca atípica é recorrente no Brasil e que, normalmente, ocorre em animais velhos, de pasto.
“Isso caracteriza que nós não temos a vaca louca clássica, que é aquela que ocorre quando o bovino alimenta de proteína animal, normalmente, farinha de carne que é adicionada à ração. No nosso caso, essa prática é extremamente proibida pelo Ministério da Agricultura. Não podemos adicionar farinha de carne na ração. Então, é um caso ‘típico de vaca louca atípica’”.
Ainda segundo Altino, como a convenção internacional determina que o exame de confirmação da vaca louca atípica tem que ser feito no laboratório de referência, no Canadá, isso gera uma burocracia: “Normalmente, há demora de alguns meses até a diplomacia resolver esses problemas com os nossos parceiros internacionais”.
E completa: “Então, claramente nós não temos a vaca louca clássica. Não há razão para que tenhamos uma movimentação no comércio tão forte, sendo que nossos animais são alimentados a pasto”.
O presidente do Sistema Faemg, Antônio Pitangui de Salvo, explica que a suspensão das exportações para a China causam um “congestionamento dentro da cadeia” e que os impactos são gigantescos.
“Nós sabemos que, nem sempre, os governos agem com a rapidez necessária. Nós vamos ter embargos de países que importam a nossa carne e, isso, entope toda a cadeia. Quem estava pronto agora no início da safra para começar a vender o gado, para vender a carne para os países compradores não vai poder vender. O pecuarista não vai poder comprar reposição, quem vende a reposição – que é bezerro ou novilho – não compra sêmen e reprodutores para cruzar as vacas. Enfim, isso dá um congestionamento muito grande e é muito negativo para o Brasil e para a pecuária de corte”, explicou Pitangui.
Mesmo com a suspensão dos embarques, a tendência é que a oferta interna não aumente, uma vez que a produção de carne bovina tem o Brasil como maior consumidor, respondendo por 70%.
“Não haverá aumento da oferta interna. O mercado está abastecido. O Brasil vende 70% da carne bovina internamente. A carne não está sendo comprada ou está com consumo baixo exatamente pelo baixo poder aquisitivo existente hoje no Brasil, pela crise e pela inflação que nós estamos vivendo aqui nesse momento. Então, mesmo que tenha mais carne no mercado interno, isso não vai fazer com que o brasileiro coma mais carne”, diz ele.
Ainda segundo Pitangui, a exportação é importante para gerar divisas e melhorar a renda do brasileiro. “O importante é nós continuarmos vendendo tudo o que nós pudermos vender como superávit para poder melhorar a nossa balança comercial e equilibrar as contas brasileiras e, aí sim, melhorar a vida de cada um dos brasileiros”, disse.
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