Agronegócio

Cultivo do grão ocupa área da cana-de-açúcar

Itaí (SP) – As mudanças dos fluxos comerciais estão redefinindo a paisagem agrícola brasileira, estimulando mais produtores a alinharem as suas lavouras aos apetites chineses. As plantações de soja do País cresceram 2 milhões de hectares em dois anos – uma área do tamanho do estado norte-americano de Nova Jersey – enquanto a região usada para cana diminuiu quase 400 mil hectares, de acordo com dados do governo. A demanda crescente de carne da China supervalorizou as importações da soja usada para ração animal. O gigante asiático pagou US$ 20,3 bilhões no ano passado por 53,8 milhões de toneladas de soja do Brasil, quase metade de toda a produção nacional. Em 2012, as importações foram de 22,8 milhões de toneladas, para efeito de comparação. Uma nova tarifa chinesa de 25% sobre a soja norte-americana, em retaliação às taxas impostas ao país pelo presidente dos EUA, Donald Trump, deve levar as exportações brasileiras da oleaginosa para uma máxima da série histórica neste ano. As exportações de soja do Brasil para a China subiram para quase 36 milhões de toneladas na primeira metade de 2018, alta de 6% ante o ano passado. Em julho, houve uma alta de 46% na comparação com 2017, para 10,2 milhões de toneladas. O boom da produção brasileira de grãos colocou o Brasil como principal rival dos EUA como o maior produtor de soja do mundo neste ano, depois de ultrapassar as exportações norte-americanas nos últimos anos. Toda essa soja está consumindo o cinturão de cana do Brasil, que está sofrendo com as mínimas de múltiplos anos dos preços do açúcar. As tarifas chinesas sobre o adoçante pressionaram o mercado global da commodity, que já sofria com o excesso de oferta. Além disso, há um movimento em nações desenvolvidas de corte no consumo do produto. “Nós perdemos 3 mil hectares de área de cana para os grãos nos últimos dois anos”, informou o presidente da Nova América, Roberto de Rezende Barbosa. A empresa é uma das maiores produtoras de cana do Brasil, que gerencia aproximadamente 110 mil hectares de áreas agricultáveis. Rezende disse que ele tem visto agricultores migrarem da cana-de-açúcar para os grãos em quase todos os estados em que as duas safras são viáveis comercialmente. Usinas fechadas – A mudança eleva as dificuldades para as usinas de açúcar e etanol brasileiras. Cerca de 60 já fecharam as portas no País nos últimos anos em meio a prejuízos constantes e alto endividamento, após um longo período de baixos preços do etanol durante o governo Dilma Rousseff e muitos anos de valores reduzidos para o açúcar. As usinas que ainda resistem estão se desdobrando para garantir matéria-prima suficiente para operar durante toda a safra. A consultoria Agroconsult, uma das principais do setor agrícola brasileiro, tem recebido pedidos de usinas para realizar estudos sobre o quanto a mais elas devem oferecer para donos de fazendas para evitar que eles encerrem contratos de arrendamento para plantio de cana. Douglas Duarte, um dos diretores na usina Londra, em Itaí, em São Paulo – que costumava arrendar uma parte de uma fazenda – diz que a unidade tem planos antigos de elevar a capacidade de moagem de cana em 500 mil toneladas anuais, mas que ele ainda precisa ver como vai conseguir essa cana. Arrendamento – Com muitos agricultores na região focados em grãos, ele diz que busca casos de famílias que possuem terras agrícolas, mas que não têm intenção de se envolver diretamente na atividade, preferindo arrendar as áreas. “Em lugares onde os donos produzem e tem experiência com grãos, possuindo equipamentos e tudo mais, não dá para competir”, Duarte disse. Em outras áreas, o fechamento de usinas também levou ao fim de canaviais e abertura de novas áreas para soja e milho. O produtor Antonio de Morais Ribeiro Neto erradicou uma grande parte de cana de sua fazenda na região de Maracaju, no Mato Grosso do Sul, após a Biosev parar a operação na usina que possui no município. Ribeiro vai plantar soja em 400 hectares que anteriormente eram tomados por cana, acrescentando mais área aos 2 mil hectares de grãos que já cultivava. Para lidar com a operação de grãos maior, comprou dois novos silos, plantadeiras e colhedoras.

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