Agronegócio

Dia da Cachaça: Minas investe na promoção e regularização

Devido à importância econômica, ações estão em desenvolvimento com o objetivo de estimular a regularização e promover as cachaças regulares.
Dia da Cachaça: Minas investe na promoção e regularização
Foto: Divulgação Ibrac/Apar

Nesta quarta-feira (13 de setembro) é comemorado o Dia Nacional da Cachaça. A produção da bebida, que é feita a partir da destilação da cana-de-açúcar, enfrenta diversos desafios em Minas Gerais. Devido à importância econômica e cultural, várias ações estão em desenvolvimento com o objetivo de estimular a regularização de empreendimentos e também para promover as cachaças regulares do Estado. As medidas são importantes para que os produtores acessem novos mercados, agreguem valor e tenham políticas públicas mais efetivas.

Dentre as ações, estão o Projeto de Promoção da Cachaça de Alambique de Minas Gerais e um diagnóstico do setor, onde produtores regularizados responderão ao Formulário de Produção da Cachaça Regularizada de Minas Gerais.

De acordo com a diretora de Comercialização e Mercados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Jaqueline de Fátima Santos, o objetivo é organizar, mapear os dados e promover a regularização dos alambiques e a cachaça no mercado. As ações são importantes para reduzir o alto índice de alambiques irregulares, resolver os problemas sobre a falta de dados de produção e para servir de base para a criação de políticas públicas que promovam a produção da cachaça.

“Hoje, nós temos diversas frentes em desenvolvimento. No Estado sempre houve diversas ações voltadas para a cachaça, mas, elas eram desenvolvidas de forma pulverizada. Agora, estamos organizando estas ações em conjunto”.

Um dos projetos mais importantes é o programa “Promoção da Cachaça de Qualidade em Minas Gerais”. São quatro frentes a serem trabalhadas, baseadas nos maiores gargalos enfrentados.

Conforme Jaqueline, a primeira frente é o incentivo à formalização dos alambiques.

“Por meio de ciclos palestras abordamos sobre educação sanitária, sobre os processos para a legalidade e damos o passo a passo para que o produtor regularize o alambique. Ele tem todas as informações de como proceder. Caso não regularize, ou ele sai do mercado ou fica sujeito à fiscalização”.

Bebida tradicional em Minas Gerais, cachaça é feita a partir da destilação da cana-de-açúcar e tem vários desafios no Estado | Crédito: Divulgação/Flor das Gerais

Promoção da cachaça

Outra frente é a promoção da cachaça regularizada. “Ao longo do ano, promovemos as rodadas de negócios. Inclusive, no início do mês, realizamos uma em parceria com o Sebrae. A iniciativa é importante por colocar o produtor em contato direto com o mercado, gerando, assim, oportunidades de negócios”, explicou a diretora da Seapa.

A rodada de negócios do Sebrae teve como tema Alimentos e Bebidas. Foram reunidos 40 produtores e fornecedores, sendo 10 de cachaças, e 20 compradores de Minas Gerais, São Paulo, Manaus e Rio Grande do Sul.

“Tanto os produtores como os compradores gostaram da iniciativa, que foi um sucesso. Estamos planejando mais quatro rodadas para a cachaça em 2024. Queremos manter uma média mínima de dois ou três eventos por ano”.

Como forma de promover a cachaça, há também incentivos para a exportação. A Seapa, em conjunto com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), tem levado a bebida para eventos internacionais, despertando, então, o interesse de compradores de vários países. Em novembro, por exemplo, as cachaças mineiras estarão na Expo Paraguai 2023.

“Estamos conseguindo colocar a cachaça no calendário de eventos e levando produtores regularizados que podem exportar. Nosso objetivo é apresentar o produto e promover a geração de negócios”.

Capacitação

Outra frente trabalhada é a realização de eventos institucionais e de capacitação técnica. Entre as ações, o governo de Minas e a Universidade Federal de Lavras (UFLA) vão promover o Simpósio Brasileiro de Cachaça de Alambique em conjunto com o 5º Seminário Mineiro da Cachaça. O evento será de 21 a 23 de setembro, em Lavras, no Sul de Minas.

“A parceria do governo de Minas e da UFLA é importante. Os dois eventos são tradicionais, mas, vamos uni-los. Nele, teremos um parte voltada para as novas tecnologias, vamos mostrar o que tem de última geração para o setor. Também serão apresentados os estudos científicos e haverá a premiação dos melhores trabalhos. Vamos discutir, em palestras, a educação sanitária, a legislação atuação IMA. Teremos, ainda, a parte cultural do evento”.

A quarta frente trabalhada é a atualização da legislação da cachaça. “Já temos um projeto de lei na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que visa adequar a legislação atual. Assim, nosso objetivo é incentivar a promoção e a proteção da cachaça mineira”, acrescenta Jaqueline Santos.

Dados da cachaça ainda são desafio

Em Minas Gerais, um dos principais desafios do setor produtivo da cachaça é o mapeamento da produção. Sem dados oficiais do volume produzido e número de alambiques existentes a criação de políticas públicas é afetada.

Mesmo com o desafio, no que se refere a estabelecimentos regularizados, Minas lidera o ranking entre os estados que possuem maior número de estabelecimentos produtores de cachaça.

De acordo com o Anuário da Cachaça 2021, divulgado em 2022 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Estado possui 353 estabelecimentos registrados, mais do que o dobro de São Paulo, que aparece na segunda posição com 143 cachaçarias.

Salinas, no Norte de Minas, é a cidade brasileira com maior número de cachaçarias, ao todo, são 16 estabelecimentos.

Apesar dos dados disponibilizados pelo governo federal, existe, conforme a diretora de Comercialização e Mercados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Jaqueline de Fátima Santos, uma grande necessidade de levantar dados mais específicos no Estado.

Para resolver o problema, por isso o governo do Estado desenvolveu um questionário para levantar o perfil e, assim, realizar um diagnóstico preciso da cadeia produtiva no Estado.

O Formulário de Produção da Cachaça Regularizada de Minas Gerais deve ser preenchido pelos produtores e é considerado essencial para a evolução do setor.

“As perguntas são direcionadas, exclusivamente, aos empreendimentos registrados no Mapa. As respostas coletadas serão utilizadas para a elaboração de políticas públicas voltadas para que o setor seja atendido de uma forma mais eficiente”.

Ainda segundo ela, o questionário pode ser respondido até 15 de setembro. “Precisamos de informações simples, como volume produzido, de onde vem a cana usada na fabricação, se o produtor é meeiro. São questões simples para o produtor regularizado, mas que serão de grande contribuição para as políticas públicas”.

Com várias ações em curso, as expectativas quanto ao avanço da cadeira produtiva da cachaça são positivas. De acordo com a diretora da Seapa, a estimativa é encerrar 2023 com aumento no número de alambiques registrados, resultado de um amplo trabalho de conscientização e fiscalização.

“Com os eventos de promoção, palestras e fiscalização feitas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), o número de cachaçarias registradas em Minas vem crescendo. No próximo Anuário da Cachaça, teremos um salto de mais de 200 registros, somando cerca de 550 estabelecimentos ante os 353 vistos na edição atual”.

Setor aprova projeto de promoção e estímulo à regularização da cachaça

Com projetos de estímulo e regularização, produtores têm boas perspectivas de resultados | Crédito: Divulgação/IMA

A produção de cachaça de alambique em Minas Gerais vive um momento positivo. Com os projetos de estímulo e regularização, os produtores do setor, além de se sentirem valorizados, também têm boas perspectivas no que se refere aos resultados.

De acordo com o presidente da Associação Nacional de Produtores de Cachaça de Qualidade (ANPAQ), Roger Sejas Guzman Júnior, o cenário para o setor, em especial para a cachaça de alambique, é muito positivo.

“Hoje, sentimos que há um terreno muito fértil para desenvolvimento de ações do governo para a cachaça de alambique. Finalmente, parece que a bebida tem entrado na pauta das políticas públicas do Estado. Há ações das secretarias e do governo que estão estimulando muito o comércio, abrindo frentes para a cachaça, inclusive, no mercado internacional”.

Ainda segundo Guzman, as ações de desenvolvimento e turismo, como a inclusão da cachaça na gastronomia, desenvolvimento de identidade do Estado e a promoção da cachaça no exterior, são fundamentais para a valorização e divulgação do produto.

Um dos principais avanços que o setor conquistou é o diagnóstico mais completo da produção. As informações, que ainda estão em período de coleta, serão essenciais para balizar os trabalhos para a melhoria da produção.

“O governo está fazendo um diagnóstico do setor. Esse levantamento vai trazer os dados que faltam para o governo desenhar uma política pública mais assertiva”.

No que se refere ao mercado para a cachaça, que foi bastante afetado ao longo da pandemia, o mesmo segue aquecido.

“O mercado de consumo vai muito bem. As pessoas voltaram aos bares, às festas, resultando, assim, em melhores resultados. A cachaça está se reinventando, se posicionando tanto no consumo do produto puro, como na composição de drinks. Há ainda um avanço importante na cultura gastronômica, onde a cachaça é utilizada na harmonização de pratos”.

Produção da mineira Flor das Gerais gira atualmente em torno de 10 mil litros de bebida por safra. mas a capacidade instalada da cachaçaria é de 20 mil litros/safra, segundo produtor | Crédito: Divulgação/Flor das Gerais

A demanda pelo produto também tem crescido devido à qualidade. De acordo com Guzman, os produtores têm investido em tecnologias, sustentabilidade e qualidade.

Apesar do cenário positivo, um dos maiores gargalos ainda é o alto índice de informalidade. Enquanto há no Mapa 353 estabelecimentos registrados no Estado, a estimativa é que existam mais de 5,5 mil funcionando de forma irregular.

“Nosso maior desafio é viabilizar o acesso do produtor para formalidade. Precisamos de todos os agentes, inclusive públicos, para facilitar as questões burocráticas e promover a regularização das unidades”.

Ainda segundo o representante da Anpaq, muito produtores estão sem registros devido às questões burocráticas, financeiras e também pelas exigências desproporcionais.

A formalização dos negócios é importante também para proteger o mercado, já que o produto registrado segue rígidos padrões de qualidade e sanidade.

“Muitas vezes, um produto sem controle de produção e sem as boas práticas chega ao mercado e pode denegrir a bebida. Outro desafio é coibir o falsificador. A cachaça registrada é positiva para todos, levando bons resultados para o produtor, para o consumidor, o governo – que vai aumentar a arrecadação – e para a comunidade, com a geração de empregos e renda”.

Cachaçaria Flor das Gerais, produzida em Felixlândia, na região Central de Minas, tem certificação de cachaça orgânica | Crédito: Divulgação/Flor das Gerais

Flor das Gerais

Com um mercado demandador e buscando por produtos diferenciados, a produção de cachaça de alambique, em Minas Gerais, também tem evoluído em sustentabilidade.

Produzida na Fazenda Mourões, em Felixlândia, na região Central do Estado, a Cachaça Flor das Gerais tem certificação orgânica. Além de garantir a qualidade, a certificação atesta que a produção é sustentável nos pilares econômico, ecológico e social.

De acordo com o produtor, Daniel Duarte, que juntamente com o pai, Adão Oliveira, produzem a Cachaça Flor das Gerais, a produção evoluiu muito, desde a criação, em 1912. Um dos grandes avanços foi para a produção orgânica.

Duarte explica que, em 2006, enquanto cursava agronomia, viu como os fertilizantes e defensivos eram perigosos. Na época, na fazenda, eram usados os defensivos.

“Mudar a cabeça e a forma de produzir era um desafio muito grande. Mas, mostrei que existia economia em uma possível mudança. Começamos a fazer a modificação, a otimização focados na qualidade dos canaviais e na melhoria da qualidade. Aplicamos as técnicas de produção orgânica, o que era muito difícil por não ter produtos comerciais para o controle biológico e de fitocontrole. Mas, mesmo assim, seguimos”.

Extra premium Flor das Gerais Dorna Única ganhou como melhor cachaça em concurso nacional | Crédito: Flor das Gerais/Divulgação

Em 2009, o IMA, que já certificava o café, passou a certificar a cachaça orgânica.

“Adaptamos nossa produção ao sistema de certificação. Fomos os primeiros a ser certificados e mantemos até hoje. São feitas auditorias anuais para a renovação do certificado e muitos empórios orgânicos, só compram a cachaça com esse certificado válido”.

Conforme Duarte, o valor da cachaça orgânica é maior devido ao processo de fabricação que demanda mais recursos financeiros. Por ser orgânica, a Cachaça Flor das Gerais conseguiu entrar em mercados diferenciados.

“O mais importante é que conseguimos espaço de gôndola. Às vezes, temos uma cachaça convencional com preço próximo a nossa, mas, por sermos uma cachaça orgânica, ganhamos no diferencial”.

A capacidade instalada da Flor das Gerais é de 20 mil litros, mas, hoje, a produção gira em torno de 10 mil. O portfólio da Flor das Gerais inclui três cachaças premium, envelhecidas, no mínimo por 24 meses, em Jequitibá-Rosa, Carvalho ou Blend (Jequitibá-Rosa com Amburana).

Este ano, em abril, foi lançada a extra premium 4 anos – a Flor das Gerais Dorna Única. A cachaça já conquistou o prêmio de melhor cachaça no Concurso Nacional do Rabo de Galo e foi considerada a melhor cachaça na etapa mineira do Concurso Rabo de Galo e está participando do Concours Mondial de Bruxelles.

Adão Oliveira, pai de Daniel Duarte, com a mais recente premiada | Crédito: Flor das Gerais/Divulgação
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