Agronegócio

Mudanças climáticas prejudicam agronegócio na região do Cerrado

Estudos do Ipam mostram que aumento da temperatura vem afetando crescimento agrícola e de plantas nativas
Mudanças climáticas prejudicam agronegócio na região do Cerrado
Mudanças no regime de chuvas e no aumento da temperatura, observadas hoje, tendem a se agravar e trazer prejuízos aos biomas, como o Cerrado | Crédito: Divulgação

As mudanças climáticas estão interferindo de forma negativa nos biomas. Um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostrou que a mudança climática reduzirá a capacidade de sobrevivência de espécies no Cerrado. Com o aumento da temperatura, a germinação e a distribuição de espécies serão afetadas e plantas tenderão a migrar em busca de habitats com condições favoráveis para o crescimento.

Além de prejudicar a vegetação nativa, o aumento das temperaturas também vai interferir na produção agrícola. Essas mudanças, no Centro-Oeste do Brasil, por exemplo, fizeram com que 28% das áreas agrícolas produtoras de milho e soja saíssem do ideal climático, diminuindo a produtividade da soja e da safrinha do milho.

O pesquisador no Ipam e um dos autores do estudo Filipe de Arruda explica que as mudanças climáticas vêm acontecendo ao longo dos anos e têm impactado o meio ambiente. A pesquisa realizada observou a Apuleia leiocarpa, espécie de árvore do Cerrado popularmente conhecida como garapa, garapeira, grapiá e amarelinho.

“As mudanças climáticas vêm interferindo na biodiversidade. Existem dois cenários futuros de mudança climática em perspectivas que variam de otimista, com aumento de até 2º na temperatura global, e a pessimista, que sugere um aumento de até 5º. Queríamos trabalhar com uma planta do Cerrado e escolhemos a Garapa. Avaliamos a germinação, o vigor da planta e a parte de crescimento em diferentes temperaturas”.

A produtividade das plantações de milho diminui com aumento das temperaturas | Crédito: Divulgação

Ainda segundo Arruda, em estufas, com temperaturas de 21º a 41º, graduada a cada dois graus, foi visto que, com o aumento da temperatura, a espécie, que tem ótima condição de germinação e desenvolvimento a 31º, foi perdendo a taxa de germinação e vigor. Nas temperaturas mais altas, a planta sequer germinou.

“Percebemos que, se esquentar, a taxa de germinação e vigor vai diminuir. As áreas apropriadas vão reduzindo e a tendência é a planta se deslocar. A melhor região para esse deslocamento seria a Sudeste, que já tem pequena porcentagem de vegetação nativa e possibilitaria o crescimento e distribuição na região. Porém, o grande problema é que a área considerada para o deslocamento já está ocupada”.

O impacto do aquecimento global é ambiental, social e econômico, já que a garapa é bastante usada para construção de coxo e construção civil, gerando renda para a população local. Além disso, há impacto no ecossistema. “O bioma do Cerrado já está muito devastado, a árvore atrai aves, como tucanos, sanhaço. Esse aumento da temperatura faz com que a biodiversidade fique prejudicada”.

Agricultura

Assim como na vegetação nativa, as mudanças climáticas também interferem na produção agrícola. Mudanças no regime de chuvas e no aumento da temperatura, que já são observadas hoje, tendem a se agravar ainda mais nos próximos anos, e os impactos serão sentidos principalmente no Cerrado brasileiro.

Arruda explica que um trabalho coordenado pela pesquisadora do Ipam Ludmila Rattis mostrou que, até o momento, o aumento das temperaturas já fez com que 28% das áreas agrícolas produtoras de milho e soja saíssem do ideal climático na região Centro-Oeste do País. Essas condições adversas já diminuíram a produtividade da soja e da safrinha do milho na Região do Matopiba e em Mato Grosso, e perdas na produção deixaram áreas agrícolas sem plantar a segunda safra, principalmente a partir de 2012.

Se nenhuma mudança ocorrer, em uma década, essa produção pode ser afetada em 50% e nos próximos 30 anos em 70%.

“A pesquisa foi feita no Mato Grosso, onde foi possível reunir informações do clima durante as últimas décadas. Mas o estudo se aplica para todos os estados, uma vez que as mudanças climáticas são globais. Tudo está interligado”, disse Filipe de Arruda.

No estudo, a pesquisadora Ludmila Rattis explica que a vegetação nativa funciona como uma usina natural que regula o microclima local. Se suprimir essa vegetação, a área da lavoura fica mais seca e isso atrapalha o ciclo de crescimento de plantas como a soja e o milho, impactando a produtividade da safra. “Quem corta a vegetação natural está plantando a seca”, disse a pesquisadora no estudo.

De acordo com Arruda, contra as mudanças climáticas várias ações devem ser adotadas, como a redução da emissão de gases e o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável, respeitando, inclusive, a vegetação nativa.

“Na agricultura há muitas medidas mitigadoras que podem ser aplicadas, como, por exemplo, usar outras plantas para não deixar o solo descoberto em período de entressafra. O agricultor pode ser o responsável por grande parcela na modificação do modelo de produção e essa mudança passa por grandes e pequenos produtores. Eles são uma das partes mais interessadas, a agricultura está ligada ao clima e à temperatura.

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