Economia

Cotação do minério de ferro tem volatilidade com demanda menor

Desaceleração econômica, sobretudo na China, afeta os preços da commodity
Cotação do minério de ferro tem volatilidade com demanda menor
O preço do minério de ferro já acumula uma desvalorização de 15,6% em junho | Crédito: Divulgação

O preço do minério de ferro vive um cenário de volatilidade. A desaceleração econômica assinalada por Estados Unidos e Europa e já evidente na China, devido aos recentes lockdowns, tem feito despencar os valores desta e de outras commodities no mercado mundial. O movimento é consequência da menor demanda global e do esperado aumento das taxas de juros que devem permanecer pelos próximos meses em todo o mundo.

Ontem, o minério de teor 62% foi cotado no mercado internacional a US$ 111 a tonelada, recuperando a mínima de 16 semanas atingida um dia antes (US$ 105 a tonelada) na bolsa de Dalian. Com isso, a desvalorização do insumo siderúrgico acumulada em junho foi reduzida a 15,6%. No ano, a commodity soma baixa de 2,5%.

A variação ocorreu após promessa do presidente chinês Xi Jinping de tomar medidas mais eficazes para alcançar as metas de desenvolvimento econômico e social do gigante asiático. O país é o maior produtor mundial de aço e principal consumidor de minério de ferro – e desde março vem sofrendo com novos lockdowns que paralisaram grandes centros devido a novos surtos de Covid-19.

Apesar dos ganhos de ontem, o minério de ferro e outros produtos siderúrgicos permanecem com fortes perdas. Isso porque o aumento dos estoques de aço e as margens fracas na China provocaram uma desaceleração na produção. O acúmulo de estoques tem levado, inclusive, algumas siderúrgicas a paralisar os altos-fornos para reduzir as perdas.

Mas a preocupação não para por aí. Especialistas alertam que a expectativa mundial de aumento de taxas de juros coloca ainda mais pressão na atividade econômica, e por conseguinte no minério. De toda maneira, as mineradoras não devem suspender projetos de expansão, pois poderiam comprometer a atuação em um momento de retomada de demanda.

“O que se adequa é a oferta. Com a demanda mais fraca, as mineradoras podem simplesmente reduzir a oferta, visando segurar os preços. O trimestre que se encerra neste mês também deverá ter reflexo desse movimento de menor demanda. E vale lembrar que, nos primeiros três meses do ano, as chuvas mais intensas que o normal no Brasil afetaram a produção e as vendas foram atendidas por estoques”, explica o analista de investimentos da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi.

Segundo ele, a pressão nos preços do minério a partir da economia chinesa deve continuar até que o governo tenha sucesso na contenção da Covid e reabra a economia. O que, para o especialista, ainda deve demorar alguns meses. “Até lá, o preço pode testar a casa de US$ 100 a tonelada, um patamar ainda interessante para as mineradoras brasileiras diante do cenário de inflação alta, juros subindo nos Estados Unidos, guerra e Covid na China”, completa.

O diretor-presidente da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, reforça que o primeiro semestre do ano para o minério de ferro foi marcado por bastante volatilidade, isso em função de questões que afetam a demanda global da construção, bens de consumo e automobilístico e outras cadeias de produção que dependem da commodity. E, claro, da China.

“A expectativa mundial de aumento de taxas de juros é um fator a mais neste movimento de pressão na atividade econômica e nos preços do insumo siderúrgico. Já sob o ponto de vista das mineradoras, a Vale (que é referência) tem mantido a produção razoavelmente estável, mas, num cenário de potencial arrefecimento da demanda global, terá que compensar uma eventual queda de preço”, avalia.

Estagflação

Já o economista da Valor Investimentos, Piter Carvalho, reforça que o contexto que tem causado a volatilidade do minério de ferro inclui a desaceleração econômica mundial num movimento de estagflação – quando há baixo crescimento econômico somado à elevação dos preços – além da própria China. Segundo ele, o efeito ocorre com todas as commodities e com o minério não seria diferente.

“A China quer crescer, mas não quer pagar caro pra isso. Tem comprado petróleo russo com desconto e vai fazer de tudo para não pagar mais caro pelo minério também. O presidente Xi Jinping mantém a projeção de crescimento de 5%, e para o país crescer neste patamar terá que voltar principalmente a atividade imobiliária, que é a maior consumidora de aço e de minério. Para isso, haverá muitos incentivos e juros baixos, alavancando a demanda como um todo. No meio de um cenário complexo, podem surgir outras oportunidades”, conclui.

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