Cotação do minério de ferro tem volatilidade com demanda menor

O preço do minério de ferro vive um cenário de volatilidade. A desaceleração econômica assinalada por Estados Unidos e Europa e já evidente na China, devido aos recentes lockdowns, tem feito despencar os valores desta e de outras commodities no mercado mundial. O movimento é consequência da menor demanda global e do esperado aumento das taxas de juros que devem permanecer pelos próximos meses em todo o mundo.
Ontem, o minério de teor 62% foi cotado no mercado internacional a US$ 111 a tonelada, recuperando a mínima de 16 semanas atingida um dia antes (US$ 105 a tonelada) na bolsa de Dalian. Com isso, a desvalorização do insumo siderúrgico acumulada em junho foi reduzida a 15,6%. No ano, a commodity soma baixa de 2,5%.
A variação ocorreu após promessa do presidente chinês Xi Jinping de tomar medidas mais eficazes para alcançar as metas de desenvolvimento econômico e social do gigante asiático. O país é o maior produtor mundial de aço e principal consumidor de minério de ferro – e desde março vem sofrendo com novos lockdowns que paralisaram grandes centros devido a novos surtos de Covid-19.
Apesar dos ganhos de ontem, o minério de ferro e outros produtos siderúrgicos permanecem com fortes perdas. Isso porque o aumento dos estoques de aço e as margens fracas na China provocaram uma desaceleração na produção. O acúmulo de estoques tem levado, inclusive, algumas siderúrgicas a paralisar os altos-fornos para reduzir as perdas.
Mas a preocupação não para por aí. Especialistas alertam que a expectativa mundial de aumento de taxas de juros coloca ainda mais pressão na atividade econômica, e por conseguinte no minério. De toda maneira, as mineradoras não devem suspender projetos de expansão, pois poderiam comprometer a atuação em um momento de retomada de demanda.
“O que se adequa é a oferta. Com a demanda mais fraca, as mineradoras podem simplesmente reduzir a oferta, visando segurar os preços. O trimestre que se encerra neste mês também deverá ter reflexo desse movimento de menor demanda. E vale lembrar que, nos primeiros três meses do ano, as chuvas mais intensas que o normal no Brasil afetaram a produção e as vendas foram atendidas por estoques”, explica o analista de investimentos da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi.
Segundo ele, a pressão nos preços do minério a partir da economia chinesa deve continuar até que o governo tenha sucesso na contenção da Covid e reabra a economia. O que, para o especialista, ainda deve demorar alguns meses. “Até lá, o preço pode testar a casa de US$ 100 a tonelada, um patamar ainda interessante para as mineradoras brasileiras diante do cenário de inflação alta, juros subindo nos Estados Unidos, guerra e Covid na China”, completa.
O diretor-presidente da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, reforça que o primeiro semestre do ano para o minério de ferro foi marcado por bastante volatilidade, isso em função de questões que afetam a demanda global da construção, bens de consumo e automobilístico e outras cadeias de produção que dependem da commodity. E, claro, da China.
“A expectativa mundial de aumento de taxas de juros é um fator a mais neste movimento de pressão na atividade econômica e nos preços do insumo siderúrgico. Já sob o ponto de vista das mineradoras, a Vale (que é referência) tem mantido a produção razoavelmente estável, mas, num cenário de potencial arrefecimento da demanda global, terá que compensar uma eventual queda de preço”, avalia.
Estagflação
Já o economista da Valor Investimentos, Piter Carvalho, reforça que o contexto que tem causado a volatilidade do minério de ferro inclui a desaceleração econômica mundial num movimento de estagflação – quando há baixo crescimento econômico somado à elevação dos preços – além da própria China. Segundo ele, o efeito ocorre com todas as commodities e com o minério não seria diferente.
“A China quer crescer, mas não quer pagar caro pra isso. Tem comprado petróleo russo com desconto e vai fazer de tudo para não pagar mais caro pelo minério também. O presidente Xi Jinping mantém a projeção de crescimento de 5%, e para o país crescer neste patamar terá que voltar principalmente a atividade imobiliária, que é a maior consumidora de aço e de minério. Para isso, haverá muitos incentivos e juros baixos, alavancando a demanda como um todo. No meio de um cenário complexo, podem surgir outras oportunidades”, conclui.
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