Dia do Economista abre discussão sobre desafios da atualidade

Guardiões da casa. Assim podem ser chamados os profissionais que cuidam da economia, palavra de origem grega e que se desdobra a partir dos significados de oikos (casa) e nomos (lei ou costume). Neste 13 de agosto, quando é celebrado o Dia do Economista, o convite à reflexão sobre o papel das pessoas que estudam essa ciência é substancial.
Esse exercício torna-se quase obrigatório quando avaliado o contexto pandêmico que o mundo como um todo atravessa. Segundo o economista e ex-ministro da Fazenda do Brasil, Paulo Haddad, o olhar histórico sobre as pandemias que afetaram a humanidade revelam uma desorganização muito forte.
“No caso brasileiro, temos três problemas: as pessoas pobres foram para a miséria social e muitas pessoas da classe média se empobreceram. Nós vamos sair mais pobres e miseráveis da pandemia”, afirma Paulo Haddad.
Reservatórios que demoram a subir
E o cenário, de acordo com o economista, não tem previsões de avanços significativos, já que a retomada do crescimento depende de estratégias contundentes do governo federal, o qual não tem sinalizado muito à população.
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“A grande ilusão que pode acontecer é que vamos entrar em um período de renivelamento. Vamos imaginar um lago que seca. Com a água das chuvas, ele vai sendo preenchido. Vão aparecer taxas de crescimento, mas isso não significa a retomada. É por isso que você precisa de estratégias para a retomada”, explica Paulo Haddad.
A não retomada deve manter em alta, por exemplo, os números do desemprego no país. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o primeiro trimestre de 2021 fechou com 14,8 milhões de brasileiros desocupados, número que considera pessoas que estão em busca de uma nova oportunidade de trabalho. Além disso, a quantidade de desalentados, pessoas que desistiram de procurar emprego, é de 6 milhões.
Antes e além da pandemia
Segundo a presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon), Tânia Cristina Teixeira, a crise vivida na economia brasileira não acontece apenas em função da pandemia, mas por problemas antecedentes que foram agudizados com a crise sanitária.
Em Minas Gerais, de acordo com a presidente do Corecon, os recentes dados do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro mostram a participação da agropecuária e da indústria extrativa como um grande motor da economia. “A curto prazo, isso pode refletir em um atenuante. Mas a longo prazo precisamos encontrar mecanismos para incentivar o crescimento da indústria e do setor de serviços com vistas a promover o desenvolvimento social e econômico do estado e, quiçá, do Brasil”, afirma Tânia.
Vale lembrar que, conforme levantamento da Fundação Dom Cabral sobre o PIB do Estado, a agropecuária apresentou 0,8 % de crescimento em relação ao 1º trimestre de 2020 e a indústria extrativa teve alta de 7,4%, no Valor Bruto da Produção, quando comparado ao mesmo período do ano passado.
O olhar a longo prazo é, para o economista Paulo Haddad, um dos desafios dos economistas. Em observância à tendência mundial da economia verde, na qual o bem-estar social e a preservação ambiental figuram como principais metas, o país pode estar, cada vez mais, distante do conceito, principalmente se questões estruturais não forem dirimidas.
“Eu considero que nós temos dois problemas estruturais no Brasil. O primeiro é a crise social, já que somos um dos países com a maior concentração de renda do mundo. E o outro é a crise ambiental. Nós estamos destruindo nossos ecossistemas. O desmonte das políticas ambientais e o enfraquecimento dos órgãos que fiscalizam e formulam políticas de preservação estão sendo incentivados pelo governo. O meio ambiente parece um mega almoxarifado que serve à destruição, ao garimpo ilegal”, aponta Haddad.
Diante do cenário, o economista aponta, ainda, para as soluções mais urgentes e necessárias do momento, que passam pela consolidação de estratégias de retomada de crescimento econômico, pelo fortalecimento das instituições, pelas tratativas aos problemas estruturais e pela criação de políticas de recuperação e preservação do meio ambiente. “Os economistas estão preocupados com questões de curto prazo, que também são importantes, mas precisamos cuidar das questões ambientais, sociais e estruturais”, assevera.
Atuação humana e respeitosa com o meio ambiente
Para Tânia Teixeira, do Corecon MG, o grande chamado do economista neste século é pensar pelo tripé do desenvolvimento econômico, humano e social e atuar de forma a otimizar recursos e respeitar as questões ambientais e humanas.
“No caso daqueles economistas que atuam na área pública, em suas diversas áreas, é importante repensar o modelo atual e repensar também a questão da proteção social, a qual está sendo deixada de lado. Esse é o grande chamado para os economistas mineiros e brasileiros: pensar a recuperação econômica e a estabilidade social”, afirma a presidente do Corecon MG.
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