Eleição de Kast no Chile não deve prejudicar relação comercial com Minas Gerais
A eleição do empresário José Antonio Kast à presidência do Chile não deve alterar a relação comercial que o país e Minas Gerais vêm construindo ao longo dos últimos cinco anos, período em que foi aberta a ProChile, agência voltada à facilitação das exportações de bens e serviços do país, no Estado mineiro. É o que apontam professores de Relações Internacionais.
As exportações mineiras para o país andino representaram, em 2024, US$ 273,6 milhões, com destaque para produtos siderúrgicos, automóveis e alimentos. Já os chilenos enviaram para Minas Gerais US$ 210,8 milhões, principalmente em fios de cobre, salmão, avelãs e ferro-molibdênio.
Apesar de Kast ter feito discursos sinalizando um alinhamento ideológico com lideranças da extrema direita global, especialistas apontam que essa posição não deve ter efeitos nas relações comerciais entre Minas Gerais e o país andino, nem em relação ao Brasil.
“Nada disso (alinhamento com países de direita) compromete a pauta comercial entre os dois países. O aspecto político, quase personalista, de todos os estadistas que assumiram a função não influencia nessa agenda”, afirmou o professor de Relações Internacionais da Skema Business School, Wilson Mendonça.
O professor pontuou que, historicamente, o Chile passou por uma série de alternâncias no principal cargo do Executivo, mas que, independentemente da ideologia do ocupante, o país manteve boas relações comerciais com o Brasil. Nos últimos 20 anos, o Chile teve três presidentes, sendo dois à esquerda, Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018) e Gabriel Boric (2022-2026); e Sebastián Piñera (2010-2014 e 2018-2022).
O comércio entre Minas Gerais e Chile, até outubro de 2025, foi responsável por um fluxo de quase US$ 340 milhões. Destacam-se, na balança comercial entre os dois, as exportações de automóveis e peças, produtos derivados da soja, carnes e café. Já cobre, ferro, frutas e peixes são os principais itens importados pelo Estado.
A relação minerária entre as duas regiões, já que o Chile é o maior produtor de cobre do mundo, também foi mencionada por Mendonça como um ponto forte, com destaque para a troca de tecnologia na atividade mineral.
A professora de Relações Internacionais da UNA, Andréa Resende, aponta que o relevo do país, com grande presença de cadeias montanhosas, como a Cordilheira dos Andes, além do deserto do Atacama, ao norte, e da Patagônia Chilena, ao sul, dificulta a produção de diversos itens.
“O Chile é um país pequeno, em grande parte montanhoso, e que tem dificuldade de produzir algumas coisas. Por exemplo, a carne bovina lá é muito cara e difícil de encontrar como encontramos aqui no Brasil, justamente por eles não terem condições de produzir gado. O terreno não favorece. Não tem como o Chile se isolar no continente”, observou.
Alinhamento com Trump e direita internacional
O político de extrema direita José Antonio Kast, frequentemente comparado ao presidente americano Donald Trump, já afirmou que sua gestão terá uma política externa alinhada a setores conservadores da direita internacional, principalmente aos Estados Unidos e à Argentina.
Apesar disso, a professora Andréa Resende não vê o país sul-americano em condições de adotar medidas semelhantes às tomadas pelos americanos, como a aplicação de tarifas sobre diversos produtos importados, inclusive brasileiros. Após reuniões com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, boa parte dessas tarifas foi retirada por Trump.
“É difícil prever o que vai acontecer, mas acredito que as chances de haver maior conciliação com os governos da América do Sul sejam boas, maiores do que no caso dos Estados Unidos, até porque o Chile não tem condições de adotar esse tipo de medida”, afirmou a professora.
A primeira agenda internacional de Kast após a eleição sinaliza essa busca por alinhamento com nomes da extrema direita global. Nesta terça-feira (16), o chileno deve se reunir com o presidente argentino Javier Milei, na Casa Rosada, em Buenos Aires.
Milei defende, desde a campanha, que a Argentina deixe o Mercosul, sendo um crítico de acordos multilaterais, mas não retirou o país do bloco durante seu mandato. Em relação ao Chile, que é um Estado associado, há receio de um eventual afastamento do grupo.
Minas Gerais e ProChile em 2026
O escritório mineiro da agência de promoção de bens e serviços chilenos, ProChile, celebra a relação entre as duas regiões e já prepara aumentar a participação em áreas como mineração, energias limpas e alimentação.
“Minas Gerais ocupa hoje posição de destaque no comércio bilateral, sendo um dos principais estados brasileiros importadores do Chile, com forte demanda por insumos para mineração, alimentos premium e soluções industriais”, afirmou à agência.
A participação de tecnologia chilena no setor de mineração foi destacada pela ProChile, com o sistema Kimbo para maior segurança e eficiência nos processos de manutenção para operações de grande porte. Tecnologias para eficiência energética também serão um dos alvos.
A agência reforçou a intenção de consolidar o Chile como principal fornecedor de vinhos para o Brasil, trabalhando a promoção de vinhos, com foco em explorar nichos gastronômicos e o enoturismo; e expandir a presença de avelãs, nozes e produtos saudáveis na alimentação dos mineiros.

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