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Corrida por talentos na reforma tributária

Estamos diante de uma nova era de valorização das carreiras fiscais e tecnológicas no Brasil
Corrida por talentos na reforma tributária
Empresas enfrentarão um cenário fiscal complexo e exigente. Crédito: Adobe Stock

A reforma tributária, que entra em vigor no início do próximo ano, nasce sob a promessa da simplificação. Mas, por trás desse discurso, já se desenha uma corrida silenciosa dentro das empresas brasileiras: a busca por profissionais capazes de traduzir a nova lógica fiscal em inteligência operacional.

O mercado começa a viver uma verdadeira “dança das cadeiras”. Os talentos mais disputados serão aqueles que vão além do domínio técnico e conseguem transformar a complexidade da reforma em vantagem competitiva. Nesse novo cenário, o diferencial está em unir conhecimento tributário e capacidade analítica, conectando legislação e estratégia de negócio.

Essa movimentação representa mais que uma simples readequação técnica, trata-se de uma questão de sobrevivência profissional. A convivência entre dois sistemas tributários (o atual e o novo modelo de IVA Dual) criará um ambiente de complexidade sem precedentes. As empresas terão de lidar simultaneamente com regras que não conversam entre si, exigindo revisões profundas em suas estruturas fiscais e tecnológicas.

A adaptação manual tende a ser inviável. Mecanismos como o split payment e as regras de transição exigirão uma verdadeira reengenharia digital nos sistemas corporativos. Nesse contexto, profissionais que entendam o impacto dos diferentes regimes na carga tributária e consigam orientar decisões estratégicas serão essenciais. A demanda deixará de ser apenas por executivos de alto escalão: o foco estará em analistas e líderes capazes de transformar dados fiscais em inteligência operacional.

Com isso, surgem e se consolidam novas funções. Entre elas, o cientista de dados fiscais, responsável por gerir repositórios estratégicos de informação, identificar ineficiências e otimizar cargas tributárias. Outra posição em ascensão é o PMO Tributário, ainda raro no Brasil, que atua como ponto de integração entre áreas antes isoladas, Fiscal, TI, Jurídico, Operações e Finanças, sob uma mesma agenda de eficiência.

Mais do que novos cargos, esse movimento representa uma mudança de mentalidade. As empresas que enxergarem o aparato fiscal como instrumento de eficiência, e não apenas de conformidade, alcançarão um novo patamar de maturidade. Essa transição cria trilhas de carreira que combinam raciocínio lógico, gestão de projetos e fluência tributária, competências que tornam os profissionais peças-chave em um cenário de transformação.

Estamos diante de uma nova era de valorização das carreiras fiscais e tecnológicas no Brasil. As organizações que compreenderem isso investirão em automação, dados e capacitação contínua para reter talentos e garantir consistência operacional. Já aquelas que ainda tratam o time fiscal e de TI apenas como áreas de suporte pagarão caro, em retrabalho, multas e perda de competitividade.

No fim, a verdadeira disrupção da reforma tributária não está nos novos tributos, mas em quem consegue traduzi-los em vantagem competitiva. O futuro pertencerá às empresas que souberem unir inteligência humana e tecnologia, transformando complexidade em previsibilidade. São elas que estarão um passo à frente quando o novo sistema começar a rodar.

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