O preço da pressão política nas taxas de juros
Debates sobre as taxas de juros frequentemente dominam o noticiário. Em 2024, o Brasil viu o governo federal pressionar abertamente o Banco Central por cortes na taxa Selic. Do outro lado do polo, mais recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem feito ataques recorrentes à atuação do Federal Reserve, exigindo juros menores.
Para muitos, essa tensão pode parecer apenas parte do jogo político: um governo eleito que busca crescimento econômico de curto prazo em conflito com uma burocracia técnica focada na estabilidade de longo prazo. Contudo, um artigo seminal de Thomas Drechsel, da Universidade de Maryland, intitulado “PoliticalPressureontheFed”, mostra que isso não é apenas um ruído.
Ao analisar quase um século de interações entre presidentes dos EUA e diretores do Fed, de 1933 a 2016, o estudo isola os efeitos concretos de quando a política tenta ditar os rumos da moeda. A principal descoberta é a de que a pressão política para forçar uma redução nos juros provoca um aumento forte e persistente da inflação e esse efeito não é trivial. Uma simulação baseada nos dados históricos mostra que exercer, por seis meses, uma pressão equivalente à metade daquela que o presidente Nixon impôs ao Fed no início dos anos 70, resultaria em um aumento permanente de cerca de 7% no nível de preços da economia.
Esse sacrifício no poder de compra, no entanto, não vem acompanhado de benefícios para a economia real. O estudo demonstra que, embora a pressão política seja eficaz em reduzir as taxas de juros, elanão consegue gerar um efeito positivo no PIB ou no emprego. Logo, a nação arca com o custo de uma inflação mais alta sem colher os frutos de um maior crescimento econômico. De forma agregada, a pressão é malsucedida.
Alguém poderia argumentar que um corte de juros é um corte de juros, não importa a motivação. No entanto, a pesquisa mostra que o mecanismo de transmissão para a economia é fundamentalmente diferente quando há percepção de interferência política. Quando o público e os agentes de mercado percebem que o banco central está cedendo a pressões, a confiança em sua capacidade de controlar a inflação no futuro é abalada. Isso desencadeia uma reação em cadeia. A pressão política tem um impacto muito mais forte sobre as expectativas de inflação do que uma decisão técnica de política monetária.
As investidas de governos contra a autonomia dos bancos centrais, em qualquer lugar do mundo, não devem ser vistas como mera retórica política. A interferência corrói o poder de compra da população com uma inflação mais alta e persistente sem oferecer a contrapartida de um maior crescimento econômico. Ela desancora as expectativas, destrói a credibilidade institucional e torna o trabalho de estabilizar a economia no futuro muito mais difícil e custoso. A independência de um banco central não é um capricho tecnocrático.
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