Bons ventos e surpresas

Afinal, não foi preciso esperar muito para que a boa química percebida pelos presidentes Lula e Trump em seu rápido encontro na abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York produzisse desdobramentos. E eles vieram na segunda-feira (6), não sem alguma dose de surpresa, exatos 13 dias após o encontro e na forma de um telefonema entre os dois. Novamente, e conforme as primeiras avaliações de um e de outro lado, com resultados promissores e a partir de declarações mútuas de simpatia e boa vontade na construção de um entendimento que conduza à superação das dificuldades atuais e aponte o rumo da preservação dos interesses bilaterais.
À primeira vista parece mais do que se poderia esperar, face à impertinência de algumas colocações de Washington, especialmente explícita tentativa de interferência em assuntos internos, na condução do Judiciário brasileiro, além de sanções a autoridades locais. Na conversa de 30 minutos na manhã de segunda, em que a falta de referência a quem, precisamente, tomou a iniciativa, sugere que démarches aconteceram em sigilo, envolvendo interlocutores das esferas diplomática e comercial. São lacunas, no mínimo curiosidades, que o tempo cuidará de suprimir, sendo mais relevante lembrar que o presidente Trump confirmou sua boa impressão com relação a seu colega brasileiro, disse que as conversas foram limitadas às questões comerciais e repetiu que a possibilidade de um encontro presencial prossegue na pauta.
Um clima afinal muitíssimo diferente que começou a ser criado a partir do momento em que foi divulgada carta endereçada ao presidente Lula, mas nunca formalmente entregue contendo o que seria quase um ultimato sobre os rumos de questões políticas internas, seguida da imposição de sanções comerciais. O Brasil simplesmente fez saber que assuntos domésticos não estavam em negociação, lembrou que a balança comercial entre os dois países pende para a favor dos Estados Unidos e fez saber que estaria disposto a conversar.
Resultados definidos como promissores pelas duas partes vieram mais rápido do que se poderia esperar e prosseguirão, agora nas mãos do vice-presidente Geraldo Alkmim e do Secretário de Estado Marco Rubio. Para o Brasil, conforme foi dito na segunda, trata-se de suspender, ou reduzir, substancialmente a sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, além de retirar sanções impostas a autoridades locais.
Levar esta tarefa a bom termo, não temos dúvidas, é algo que interessa – e muito – aos que agora se aproximam da mesa de negociações.
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