Editorial

Pancada não doeu

Brasil foi capaz de abrir novos mercados em meio ao cenário do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos
Pancada não doeu
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Será erro primário creditar à conta do acaso o telefonema entre os presidentes Lula e Trump na segunda-feira (6). Na verdade, a ligação da Casa Branca ao Palácio do Planalto foi o resultado final de um belo trabalho de bastidores e evidência do sucesso da diplomacia quando conduzida nos seus melhores termos. Diplomatas brasileiros, donos de tradição e reconhecimento, atuaram com competência, abriram as portas certas e não faltou sequer encontro entre nosso chanceler e seu equivalente em Washington.

Também não faltou, e dizem ter produzido resultados relevantes para o desfecho, a visita de um diplomata norte-americano a Brasília, onde foi possível constatar – e rapidamente – que as versões apresentadas a Washington não guardavam equivalência com a realidade. Daí ao entendimento, conforme palavras do presidente Trump, de que Lula seria “um homem bom” a distância foi pequena e tudo mais aconteceu rapidamente.

Sobre o assunto também cabe registrar a importância das pressões exercidas por empresários norte-americanos, aqueles que têm negócios com o Brasil e estão pagando preço desnecessariamente alto pelas tarifas alfandegárias em vigor. Caso específico de quem compra e vende café, agrupados numa poderosa entidade que soube demonstrar a escalada dos prejuízos sofridos, e dos vendedores brasileiros de carne bovina, mais amplamente de “proteína animal”. Esses, líderes no mercado local e responsáveis por grandes investimentos no país, teriam batido diretamente às portas da Casa Branca. E levaram argumentos que foram ouvidos.

Nestes rápidos comentários e registros também cabe anotar como de efeitos relevantes a divulgação mais recente de números sobre os resultados do comércio exterior brasileiro este ano. No geral as exportações, no seu todo, cresceram na comparação com igual período do ano anterior, o que significa que o País foi capaz de encontrar novos mercados. Assim, e mesmo que as vendas diretas aos Estados Unidos tenham encolhido em cerca de 18%, no período as exportações brasileiras apresentaram crescimento de 3%. Trocando em miúdos e escapando do economês, a pancada doeu muitíssimo menos do que se imaginava, provavelmente também do que esperavam os donos do martelo.

Tudo isso parece estar fazendo muito bem ao Brasil, que na vitrina das relações externas ganhou pontos importantes e ao mesmo tempo parece ter conseguido, com devida elegância, reduzir a nada, ou quase, movimentos que de dentro para fora atuaram na direção contrária. Enquanto isso o presidente da República ganha pontos nas pesquisas de opinião e assim vê sua imagem em franco processo de recuperação. Que seja também um sinal mais verdadeiro de pacificação.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas