Editorial

O sonho possível em um processo entre ambições e virtudes

Nova presidência da Câmara ainda será motivo de muito debate na política brasileira
O sonho possível em um processo entre ambições e virtudes
Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

Apesar do recesso parlamentar e das férias de verão, o mundo político permanece numa espécie de vigília, agora por conta da troca de comando na Câmara dos Deputados. Trata-se de determinar o preciso significado da substituição de Arthur Lira por Hugo Motta e, consequentemente, antecipar ganhos e perdas, tudo na construção de alianças em que é possível perceber que os maus hábitos da política no país prosseguem intocados. Trata-se de conquistar espaços e firmar posições no terreno ocupado, tudo isso num processo em que ambições são transparentes e virtudes difíceis de serem percebidas.

Assim se movimentam os dois grandes grupos da política brasileira na atualidade: bolsonaristas de um lado, petistas de outro, ambos imaginando que estão nas graças daquele que terá poder para tocar pautas, como anistia para os participantes do movimento de 8 de janeiro de 2023, aí incluído o ex-presidente da República. Na banda oposta, basta para tirar o sono a lembrança de que o presidente do Congresso tem poder bastante para desengavetar quaisquer dos pedidos de impeachment do atual presidente da República. Do topo da pirâmide para baixo, acomodam-se os mais variados interesses e deles se ocuparão estrelas menos brilhantes, porém capazes e prontas a também reclamar seu bocado. Tudo em nome e por conta da governabilidade e sem contar a necessária harmonia e equilíbrio entre os três poderes, o que significa melhorar as relações com o Judiciário, afastando-se a hipótese de fissuras mais graves.

Como se percebe, e lembrando quem ainda espera que prospere a ideia do impeachment, no Senado, de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), uma pauta um tanto sensível e repleta de armadilhas. Ainda assim, cabe registrar ou, antes, chamar atenção, para o fato de que os movimentos perceptíveis exibem tão somente interesses e interessados, nada sobrando para discussões que deveriam estar em primeiro plano e no centro das atenções quando o comando do Legislativo é renovado. Caberia lembrar, diante do vazio evidenciado, que este seria o espaço natural e próprio para discussões em torno da nação que somos e da que desejamos ser, mais amplamente de um projeto de construção nacional, com metas, objetivos e prazos claramente definidos. Ou objetivos permanentes, expressão da vontade da maioria bem refletida e abrigada pelo Parlamento, que somente assim ocuparia, de fato, seu espaço natural.

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