Política

Heron Guimarães: Aeroporto de Betim promete novo ciclo de desenvolvimento; veja entrevista

Com cerca de 30% das obras concluídas, expectativa é que o terminal entre em operação até 2027
Heron Guimarães: Aeroporto de Betim promete novo ciclo de desenvolvimento; veja entrevista
Crédito: Diário do Comércio / Breno Araújo

Importante polo industrial do Estado, com um Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de R$ 33,1 bilhões, Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), sempre teve forte contribuição para o desenvolvimento econômico de Minas Gerais. Por meio da Refinaria Gabriel Passos (Regap) e da Fiat Automóveis, hoje Stellantis, e também por ser cortada por importantes rodovias, a cidade abriga empresas de diferentes portes e setores, e agora pode estar próxima de viver mais uma grande transformação.

É que o Aeródromo de Betim, como foi batizado o projeto, lançado em 2018, está com cerca de 30% das obras concluídas, já recebeu investimentos entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões e deve começar a operar até 2027. Pelo menos esta é a aposta de Heron Guimarães (União), prefeito eleito para governar a cidade a partir do próximo ano.

Jornalista e publicitário, Heron integrou a equipe do atual prefeito, Vittorio Medioli (sem partido), tendo passado pelas Pastas de Comunicação, Gabinete e Saúde. Com o apoio de Medioli, inclusive, obteve 52,46% do total de votos válidos.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio, o futuro prefeito de Betim falou sobre o aeroporto e também sobre outros projetos que prometem alavancar ainda mais a economia da cidade, de seu entorno e do Estado, como a construção de um autódromo, de um parque de exposições e um estádio.

Por falar em Estado, ele também revelou que tentará convencer a equipe de Romeu Zema (Novo) a alterar o traçado do Rodoanel Metropolitano por meio do diálogo e antecipou o que espera de sua relação com os demais gestores públicos e instâncias de poderes.

Vamos começar falando um pouco sobre Betim? Qual o perfil econômico e social da cidade? 

Betim é uma cidade de porte médio, tem 411 mil habitantes. É uma cidade majoritariamente industrial, mas outros setores começam a se desenvolver e a gente começa a planejar um terceiro ciclo de desenvolvimento, com a diversificação das atividades com o fortalecimento de outras áreas como logística, por exemplo. Temos também uma parte da economia baseada na própria agricultura, um cinturão verde importante e a atividade de serviços com grande relevância também. E o comércio, forte e policentrado, também contribui significativamente para a economia local, culminando com uma arrecadação de aproximadamente R$ 3 bilhões, sendo R$ 2,2 bilhões de receitas próprias. Desde 2017, sob a gestão do empresário Vittorio Medioli, Betim enfrentou grandes desafios financeiros. Naquele ano, a cidade acumulava uma dívida superior a R$ 2 bilhões, exigindo medidas drásticas de recuperação. Em 2024, ao final de seu mandato, Medioli entrega a cidade com superávit e sem endividamento, uma condição muito superior à encontrada há oito anos.

Seu trabalho vai ser de continuidade?

Continuidade com aperfeiçoamento. O progresso foi evidente em áreas críticas. Na Saúde, 24 das 44 unidades básicas existentes foram construídas na atual gestão, todas em prédios próprios, substituindo estruturas alugadas e precárias. O Hospital Regional precisou ser interditado devido à presença de superbactérias, mas foi recuperado. Em termos de equipamento estamos bem, mas a atenção básica ainda precisa ser aprimorada, sobretudo no acolhimento. Na Educação, a rede municipal atende 68 mil alunos, com creches de padrão internacional. Durante o mandato, foram inauguradas 15 novas creches com capacidade para 2 mil crianças, e projetos para novas unidades já estão prontos, com recursos garantidos. E a infraestrutura urbana também recebeu grandes investimentos, com avenidas amplas e melhorias na interconexão entre as 10 administrações regionais. Além disso, a rede de acolhimento social foi fortalecida, consolidando Betim em uma situação muito mais estável e promissora do que em 2017.

Quais os principais desafios?

Os desafios futuros incluem ampliar a capacidade da Saúde, no acolhimento e na manutenção e valorização dos profissionais; melhorar a mobilidade urbana com novas licitações, com algumas já tendo que ser realizadas no ano que vem; e expandir as políticas sociais, como o atendimento a pessoas com autismo e a adaptação ao envelhecimento da população. Essas demandas, embora não sejam novas, exigem atenção crescente dos gestores públicos.

Gestão pública e Brasil nos remetem logo à polarização. Como que você avalia o cenário nacional e como será sua relação com os demais poderes?

Sou filiado ao União Brasil, um partido que tem evitado extremismos e adotado uma postura de centro-direita em nível nacional. Um exemplo disso foi em Goiânia, onde, apesar da participação do ex-presidente Bolsonaro, o partido não caminhou ao lado dele. Em Betim, nossa coalizão abrangeu partidos diversos, como PL, PSB, PDT e, de forma não formal, até o PCdoB. Essa diversidade reflete nosso foco naquilo que a cidade precisa, acima de posicionamentos extremos. A relevância do município e de uma política de coalizão se sobressai à questão do radicalismo. Em termos de composição partidária, nossa situação é sólida. Dos 23 vereadores, 22 foram eleitos por partidos da nossa base, resultado do apoio de 18 legendas. Ainda assim, reconhecemos a importância do contraditório. Um governo sem críticas corre mais riscos, e a oposição cumpre um papel fundamental para apontar caminhos e alertar sobre problemas. Nossa relação com o Poder Judiciário e o Ministério Público é muito boa. Esses órgãos terão papel essencial em projetos como o aeroporto, que será inaugurado nos próximos anos, exigindo a colaboração de entidades como TCE (Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais) e TCU (Tribunal de Contas da União). Nossa gestão será pautada pela transparência, atendendo tanto à população quanto aos requisitos legais.

Como está o projeto de implantação do Aeroporto de Betim? 

O Aeroporto de Betim é um projeto estratégico, que combina investimento privado e infraestrutura pública. A pista, de mais de 2 km, é pública, resultado de uma permuta com a Prefeitura, e será utilizada para pousos, decolagens e abastecimento, que já será vocacionada para a área de cargas e também para voos chárteres, voos executivos. Os royalties gerados ajudarão a sustentar o Instituto de Previdência. Já a parte privada, liderada pela Orion Empreendimentos, será responsável pela exploração dos hangares, além de desenvolver uma aerocity com indústrias e serviços ligados à aviação, como escolas de pilotagem e manutenção aeronáutica. O empreendimento, atualmente com 25% a 30% das obras concluídas, já recebeu investimentos entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões e conta com todas as liberações ambientais necessárias. A expectativa é que a conclusão impulsione um novo ciclo de desenvolvimento econômico em Betim, diversificando a economia e consolidando a cidade como um polo logístico e industrial.

Você tem dito que será um novo ciclo de investimentos para a cidade…

Historicamente, Betim teve dois grandes momentos de crescimento econômico: em 1968, com a instalação da Refinaria Gabriel Passos (Regap), e entre 1974 e 1976, com a chegada da Fiat, hoje Stellantis. O aeroporto será o terceiro ciclo, não apenas fortalecendo a arrecadação, mas também planejando o crescimento do vetor Sul da cidade, trazendo benefícios como formação técnica, diversificação econômica e ampliação da infraestrutura logística. É isso que nós estamos fazendo. Além de todo o benefício financeiro de arrecadação de impostos, nós vamos poder também trabalhar um crescimento para um outro vetor da cidade. Eu dizia no início da entrevista que nós temos a vocação industrial, mas a logística vai ser uma pegada muito grande. Com a chegada do aeroporto, a gente imagina também que a logística vai ganhar mais corpo do que a própria indústria.

E já tem data para ser inaugurado? Como estão as autorizações junto aos órgãos de aviação?

Acredito que entre dois, três anos, a obra já vai estar com a possibilidade de ser inaugurada. Mas isso cabe também a outros fatores. A Anac já deu a outorga da liberação do aeródromo. Mas têm outros órgãos. O Ibama já liberou e a Secretaria de Meio Ambiente também. Betim tem autonomia ambiental na liberação de alguns licenciamentos, então,  isso tudo já foi feito. Hoje lá estão grandes tratores e caminhões trabalhando, retirando esse material, fazendo a terraplanagem, para ir para um segundo momento, que já será o de construção da pista. Um investimento que vai mudar muito, não só Betim, mas toda a região metropolitana e, por que não, Minas Gerais também.

Qual a situação do transporte público de Betim?

O transporte público em Betim apresenta características únicas. Atualmente, 30% do sistema é operado por uma empresa convencional, enquanto os outros 70% são realizados por transporte de baixa capacidade. São duas licitações distintas: a do transporte de baixa capacidade estava suspensa por ação judicial, mas foi liberada recentemente, garantindo a continuidade desse serviço. Já para os 30% operados pela empresa convencional, uma nova licitação será necessária. O contrato venceu em 5 de novembro e foi prorrogado pela Câmara por mais 12 meses, permitindo o planejamento de um edital focado na eficiência e no usuário final. O novo modelo buscará integrar o transporte do Centro para as regionais e, dessas, para os bairros, com linhas mais rápidas e ágeis, incluindo opções como ligeirinhos e linhas circulares regionais. Essa reestruturação representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para melhorar a mobilidade urbana local. 

E o transporte intermunicipal? 

É um problema crítico. Como município de perfil pendular, muitos moradores de Betim trabalham em Contagem ou Belo Horizonte e vice-versa. A ausência de uma agência estadual eficiente para regular esse sistema sobrecarrega a cidade, que arca com os impactos negativos. Essa situação reflete a falta de coordenação e investimento estadual e federal em transporte metropolitano. O impacto é visível. Há mais de 20 anos, o trajeto entre Betim e Belo Horizonte podia ser feito em até duas horas; hoje, leva mais de três. Essa ineficiência exige maior atenção do Estado e das autoridades, que precisam compreender a realidade enfrentada por quem depende do transporte coletivo diariamente. 

A questão do Rodoanel continua parada?

Se depender de Betim, que tem autonomia nos seus licenciamentos, não vai da forma que o Estado quer, porque é extremamente prejudicial para a cidade. Estamos falando de lucros cessantes dos comerciantes, que o Estado não leva em conta na hora de fazer a licitação, o Estado não leva em conta as desapropriações que são bilionárias e não prevê nos custos da concessão para as empresas que vão explorar essa rodovia. Pensam apenas no traçado. Mas a construção de um anel dessa magnitude, não dá para pensar somente num traçado ou no pedágio que vai cobrar nesse traçado. Tem que ver o impacto social, as desapropriações, o lucro cessante, a separação de uma escola dos estudantes, de uma unidade policial da zona quente de criminalidade…. A questão do próprio transporte público que vamos ter dentro do projeto do Estado são três transposições desse anel. Ao analisar esse traçado, vimos que seriam necessários pelo menos 17 pontes e viadutos e não existe essa previsão. Um caos, um desserviço para a região metropolitana, caso aconteça do jeito que está sendo programado.

Mas houve avanços nas negociações? O governo do Estado parou para ouvir vocês?

Apesar do impasse, acho que temos tudo para reestabelecer um diálogo. Tive reuniões com o vice-governador Mateus Simões e com o governador Romeu Zema, que me apoiou em Betim. Acho que com o diálogo eles vão entender que é opção, mesmo que já tenha sido licitado. Esse projeto não é a melhor solução para Betim, Contagem ou qualquer outra cidade da região metropolitana, já que os problemas de congestionamento, como na Praça da Cemig, persistirão. O problema do anel para Belo Horizonte vai continuar se o modelo adotado for esse. E pelo andar da carruagem, não acho que essa obra chega a Contagem e Betim antes do término do mandato do governador. Entao, teremos condições de ter novas conversas com melhores condições de negociação.

Quais investimentos privados atraídos nos últimos anos você destacaria e quais segmentos você visa trabalhar para os próximos?

Betim vive um momento de expansão estratégica, com investimentos e projetos que reforçam seu potencial de desenvolvimento econômico e urbano. A região da Icaivera, por exemplo, está se transformando em um eixo de crescimento. Como a cidade tem uma extensão geográfica muito grande, essa região está localizada a quase uma hora do centro, mas uma nova via reduzirá o tempo de viagem em 10 minutos, conectando áreas importantes como o futuro parque de exposições e o autódromo, que estão previstos no plano de crescimento da cidade, por exemplo. A obra, realizada pela iniciativa privada por meio de uma parceria público-privada (PPP), demonstra como a infraestrutura pode ser alavancada para valorizar terrenos e atrair negócios. Os projetos em andamento ainda incluem um condomínio da Alphaville e um parque automobilístico. Além disso, a recente instalação de empresas como Mercado Livre, Amazon e Shopee, já está contribuindo para o dinamismo econômico local. 

O que já é possível falar sobre esse autódromo e o parque de exposições?

O autódromo, além de fomentar o automobilismo na região, poderá ajudar a evitar problemas enfrentados em outras localidades, como os relacionados ao meio ambiente e a ocupações inadequadas da realização da Stock Car em Belo Horizonte recentemente. Temos os terrenos já bem definidos e conversamos recentemente com o Sérgio Sete Câmara, que é uma pessoa que lida com automobilismo e trouxe a Stock Car para BH. O autódromo mais próximo é o de Curvelo, onde inclusive os carros da Stellantis fazem os testes. Temos boas perspectivas para atrair investidores. Outro projeto em destaque é a construção da Arena Betim, um estádio com capacidade inicial para 10 mil pessoas sentadas, projetado também para eventos com público entre 25 mil e 30 mil pessoas. O plano inicial envolvia uma parceria com o Cruzeiro, que não avançou devido à situação crítica do clube na época. Agora, o projeto foi reformulado, visando não apenas eventos esportivos, mas também culturais.

Já conversaram com a Stellantis, para concentrar os testes em Betim? Seria um grande potencial investidor.

Acho que é automático. Porque andar quase 200 quilômetros para testar um carro não é o ideal. Que me perdoe Curvelo, mas vamos ter uma infraestrutura bem próxima da fábrica, certamente vai ser bem atraente para a empresa, que poderá atuar como um cliente do autódromo. 

Tudo isso vai ser tocado logo no início do mandato?

Está tudo previsto no plano plurianual. Vamos começar todas essas obras e imaginamos concluir em quatro anos, mas se não concluirmos, vai estar bem adiantado nesses quatro anos de governo.

E todos contando com a iniciativa privada?

Contando com a iniciativa privada, mas também fazendo a nossa parte, prospectando, trabalhando a cidade. E eu falo nós, porque faço parte de um projeto. É a continuidade de um projeto. Vamos atrair toda essa nova forma de pensar a cidade, qualificando o entretenimento, o lazer e trazendo a possibilidade até de um turismo que traga benefícios para a região metropolitana. Temos uma parceria com Brumadinho para esticarmos a Via Expressa até o Inhotim, e isso facilitaria também toda essa área de influência do museu aberto mais importante do País.

Na área de inovação, Betim tem uma vocação ou seria necessário incentivar mais empresas nessas áreas?

Nós temos a situação geográfica muito cômoda para esse tipo de trabalho, mas a precisamos desenvolver políticas públicas para isso. Estávamos conversando com a TIM recentemente, pois estamos fazendo um grande investimento para o 5G, que vai ser concluído até o fim do ano, e a partir daí a gente atuar em políticas públicas. É preciso desenvolver, sobretudo, a cultura da inovação na nossa cidade.

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