Copom mantém a Selic em 2% ao ano

17 de setembro de 2020 às 0h11

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Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Brasília – O Banco Central manteve ontem a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano após nove cortes consecutivos, conforme esperado pelo mercado, e, num comunicado sem grandes novidades quanto à política monetária, reconheceu que a inflação deve acelerar no curto prazo.

“Contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade”, disse o BC.

Ao falar sobre seu balanço de riscos para a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) introduziu uma nova mensagem ao ponderar, quanto à possibilidade da derrocada da economia produzir inflação abaixo do esperado, que a ociosidade está notadamente concentrada no setor de serviços.

De qualquer forma, o BC não mudou a avaliação de que há uma assimetria em seu balanço para o lado altista por duas razões já citadas em comunicado anterior. De um lado, o BC destaca eventual elevação dos prêmios de risco pela frustração com reformas ou por políticas fiscais que deteriorem de forma prolongada as contas públicas. De outro, a autarquia menciona chance de os programas do governo de estímulo ao crédito e de apoio direto à renda durante a crise do coronavírus impulsionarem a atividade para além do esperado.

No comunicado, o BC também repetiu a existência de um pequeno espaço, se algum, para cortar os juros à frente. E reiterou a orientação futura, já divulgada anteriormente, de que não pretende elevar a taxa básica “a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta” em seu horizonte relevante, que atualmente inclui 2021 e, em grau menor, 2022.

O BC frisou que o chamado forward guidance é condicional à manutenção do atual regime fiscal – o qual prevê obediência à regra do teto de gastos – e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.

Com a decisão, o BC interrompeu um ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto do ano passado que contou com nove reduções consecutivas da Selic, resultando numa diminuição total de 4,5 pontos. 

IPCA – Com indicadores recentes mostrando uma aceleração na inflação, movimento que tem como pano de fundo uma elevação nos preços dos alimentos, o BC ajustou seus cálculos para o IPCA.

A conta da autoridade monetária para a inflação em 2020 agora é de alta de 2,1% pelo cenário híbrido, que considera a trajetória dos juros da pesquisa Focus e a taxa de câmbio constante em R$ 5,30. Em agosto, a autoridade monetária via um IPCA de 1,9% para este ano.

Também pelo mesmo cenário, a perspectiva passou a ser de elevação da inflação de 2,9% em 2021 (3,0% antes) e 3,3% em 2022 (3,4% antes). (Reuters)

Empresariado mineiro faz avaliação positiva

A decisão do Copom de manter a taxa Selic em 2% ao ano foi bem avaliada pelo empresariado mineiro. Entidades do setor produtivo apontam que a medida poderá ajudar em uma recuperação da economia, além de evitar uma potencialização da desvalorização da taxa de câmbio.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em nota, aponta que a decisão é condizente com o cenário atual, que enseja a manutenção do estímulo à atividade econômica, visando à redução da ociosidade e à aceleração da retomada do crescimento econômico do País, fortemente afetado pela crise sanitária global causada pela Covid-19 e pelos seus desdobramentos.

No âmbito interno, mesmo considerando as surpresas positivas dos indicadores recentes de atividade, o nível de ociosidade continua elevado e os núcleos de inflação bem comportados. Ademais, percebe-se uma retomada desigual entre os setores, visto que a recuperação do setor de serviços continua defasada em relação à da indústria e à do comércio, aponta a entidade.

No cenário externo, apesar dos sinais promissores de retomada da atividade nas principais economias do mundo, o panorama para as economias emergentes segue desafiador.

“Nessa perspectiva, a decisão de manter a taxa Selic em 2% a.a. é fundamental para a continuidade da recuperação da economia. Adicionalmente, a indústria mineira espera o prosseguimento da agenda de reformas, com destaque para as reformas tributária e administrativa, sob pena da piora da situação fiscal inviabilizar a retomada do crescimento sustentável da economia brasileira”, conclui.

Comércio – O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas), Aguinaldo Diniz Filho, afirma, em nota, que a decisão pode ser explicada pela armadilha de liquidez – cenário ocasionado por uma taxa de juros extremamente baixa.

De acordo com Diniz, neste contexto, o custo de oportunidade de reter moeda é absolutamente nulo, isto é, os bancos comerciais irão preferir manter os recursos na tesouraria da instituição ao invés de assumir o risco elevar a oferta de crédito, ou seja, o risco da inadimplência.

“Então, para o Banco Central não vale a pena lançar mão de uma nova redução da Selic, porque o efeito da política monetária expansionista será nulo”, disse.

Além disso, uma nova redução da Selic poderia potencializar a desvalorização da taxa de câmbio. A desvalorização detém impactos negativos sobre a inflação do país, porque alguns insumos e produtos consumidos no mercado interno são adquiridos de fornecedores externos.

“A desvalorização cambial observada neste ano já afetou o custo de alguns produtos alimentícios típicos da cesta básica do brasileiro, como o arroz. Então, a alta de preços destes produtos afeta, especialmente, as famílias mais pobres” conclui o presidente da ACMinas.

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