Demanda por chips preocupa montadoras

9 de junho de 2021 às 0h26

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Crédito: Leo Lara

A crise no fornecimento de insumos para a fabricação de autopeças, que obrigou a Fiat a conceder férias coletivas nos meses de março e abril em uma linha de produção na planta em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), ficou para trás. Dimensionada, o grande desafio das montadoras para o próximo semestre será garantir a demanda por componentes eletrônicos, que não funcionam sem os semicondutores — os chamados chips responsáveis pela tecnologia embutida nos carros.

Segundo Fábio Sacioto, diretor Regional do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e presidente do Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (Ciemg), não existe, no Brasil, uma fábrica de semicondutores automotivos, quase totalmente produzidos em países da Ásia.

Apesar de 15% da fabricação mundial de semicondutores estar destinada ao setor automotivo, sua demanda aumentou exponencialmente, em 2020, para a composição de computadores, games, smartphones e outros equipamentos eletrônicos. A adoção do trabalho remoto foi uma das causas, mas há a implementação da nova tecnologia 5G.

“Será uma crise com solução a médio e longo prazos, que assinala a necessidade de uma política nacional que incentive a instalação de empresas que produzam itens estratégicos para a indústria. Situação semelhante ao atraso das vacinas, pois o Brasil não produz o IFA. Precisamos desenvolver nossa própria tecnologia”, avaliou Sacioto.

A escassez mundial de semicondutores, que causou a paralisação de montadoras de veículos em todo o mundo, não só no Brasil, levou a Bosch a antecipar em seis meses a inauguração de uma fábrica de componentes na Alemanha, que abastecerá o mercado local e possivelmente o Brasil. “O problema é mundial. Algumas montadoras, como a Fiat, têm maior capacidade de produção e de compra no exterior, podendo redimensionar sua produção e ter um impacto menor. Mas há casos de montadoras que estão tendo que paralisar a linha de montagem”, destacou. 

A Fiat informa que a escassez de semicondutores não tem alterado sua linha de montagem, pois ampliou sua equipe de compras, dedicada ao contato permanente com fornecedores, buscando soluções logísticas e financeiras para manter o ritmo de entregas e custos. Ao mesmo tempo, a Fiat administra a escassez alterando o ritmo da produção de maneira pontual. “Não é uma situação normal, mas temos conseguido mitigar os efeitos”, garantem.

Como resultado, o Grupo Stellantis, multinacional formada pela fusão da Fiat Chrysler Automobiles com a montadora francesa PSA Group, garantiu, de janeiro a maio, 30,4% do mercado brasileiro de venda de automóveis. Somente a Fiat comercializou mais de 179 mil unidades (21,3%).

Nos últimos anos, os chips se tornaram componentes essenciais na segurança e no rendimento dos motores de automóveis, controlando sistema de freios ABS, airbags, injeção eletrônica, computador de bordo e direção elétrica. Um automóvel atual possui de 10 a 15 semicondutores, mas há veículos, como alguns dos novos SUV, que utilizam um número bem maior.  

Tempos conturbados

Desde o ano passado que a indústria automobilística brasileira tem administrado a escassez de insumos. Em setembro, houve falta de aço e de embalagens. No início do ano, faltou resina plástica, que, no Brasil, possui apenas um fornecedor.

A medida levou a Fiat, principal montadora do Estado, a conceder férias coletivas para parte dos trabalhadores do 2° turno, na unidade de Betim, que foi seguida por grande parte da indústria de autopeças, que têm a montadora como principal parceira. Segundo o Sindipeças, que possui 65 associados em Minas, e a Fiat, esses problemas já foram superados. Resta agora normalizar a escassez dos semicondutores.  

Montadoras operam abaixo da capacidade

São Paulo – As montadoras de veículos do País atingiram uma espécie de teto de produção nos primeiros cinco meses deste ano, bem abaixo de sua capacidade e do desempenho apresentado antes da chegada da pandemia ao país, em meio a problemas que incluem a crise global na oferta de chips.

Usados em veículos em sistemas que vão dos freios, passando pelo motor e até em entretenimento e comunicação, os chips são essenciais no processo produtivo do setor automotivo. E a crise na oferta de semicondutores tem feito a indústria de veículos global trabalhar com a perspectiva de amargar uma perda de produção de 3% a 5% no número de unidades montadas este ano.

“Chegamos a um platô ao redor de 200 mil veículos (por mês) nos primeiros cinco meses por conta da restrição na oferta de componentes, em especial de semicondutores”, disse o presidente da associação brasileira de montadoras de veículos, Anfavea, Luiz Carlos Moraes, a jornalistas.

“As montadoras estão tentando mitigar o risco de parada de produção por falta de semicondutores”, afirmou, referindo-se ao segundo semestre e avaliando que apenas em 2022 é que a indústria global poderá ter uma situação de equilíbrio entre oferta e demanda do componente.

Embora a produção de veículos tenha subido 55,6% nos primeiros cinco meses do ano em relação ao mesmo período de 2020, para 981,5 mil unidades, a capacidade do setor é de cerca de 5 milhões de unidades por ano. Em 2019, a indústria fabricou 1,24 milhão de veículos no mesmo intervalo.

Como as vendas no período subiram quase 32%, para 891,7 mil veículos, o setor terminou maio com estoques suficientes para 15 dias de vendas, ou 96,5 mil unidades, segundo os dados da Anfavea. Antes da crise, o setor considerava normal um volume suficiente para pelo menos um mês de vendas.

Moraes afirmou que diante de uma série de incertezas que vão muito além da própria crise de oferta de semicondutores, algo que inclui o quadro macro da economia, o lento processo de vacinação e riscos de crise de energia por causa do baixo nível de reservatórios de hidrelétricas, a Anfavea não vai alterar suas projeções para ano.

Ele, porém, afirmou que as estimativas para caminhões, cujas vendas dispararam cerca de 64% no acumulado do ano puxadas pelo agronegócio, poderão ser revistas para cima no próximo mês.

A Anfavea divulgou no início do ano que espera crescimento de 25% na produção total de veículos e alta de 15% nas vendas..

Outra dor de cabeça do setor são os reajustes nos preços de matérias-primas. Segundo Moraes, as siderúrgicas estão negociando com as montadoras novos reajustes nos preços de aço nos contratos que vencem no meio do ano. Ele não deu detalhes.

Em maio, as montadoras de veículos instaladas no País produziram 192,8 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, um crescimento de 1% em relação a abril. As vendas avançaram 7,7%, a 188,7 mil veículos.

O setor apurou exportações 37 mil veículos em maio, uma expansão de 9,1%, ante abril. No acumulado dos cinco primeiros meses, as vendas externas alcançaram 166,6 mil veículos, expansão de 66,5% sobre o mesmo período de 2020. (Reuters)

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