Falta de trigo onera custos da panificação no Estado

10 de março de 2020 às 0h20

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Crédito: Pixabay

Os baixos estoques de trigo na Argentina, principal fornecedor do produto para o Brasil, podem provocar um aumento dos custos da indústria da panificação em Minas Gerais.

Desde o ano passado, com a mudança da política no país vizinho, o Brasil encontra dificuldades em adquirir o produto e precisará buscar a commodity em outros mercados como nos Estados Unidos e Rússia, o que eleva os custos com a logística.

A alta dos custos da indústria panificadora também terá influência da desvalorização do real frente ao dólar.

O presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), Vinicius Dantas, explica que a situação difícil é vivida desde 2019.

“Desde 2019, o setor vem vivendo momentos difíceis resultado da mudança política na Argentina em relação ao mercado do trigo. Além da taxação de 20%, o país vizinho abriu negociações com o mercado mundial, deixando de exportar exclusivamente para o Brasil. Isso reduziu a oferta e teremos que buscar o trigo em outros países”, disse.

A situação foi agravada com a desvalorização do real frente ao dólar e a baixa produtividade do trigo no Sul do País, o que vai elevar o volume de trigo a ser importado para atender o setor de panificação.

“Com o avanço do coronavírus houve uma disparada do dólar e, isso, vai encarecer as importações de trigo. Os moinhos terão que importar o produto de outros países, como dos Estados Unidos e Canadá, por exemplo. A distância é maior e a logística de transporte será diferente, por isso, o custo será ampliado, explicou Dantas”.

De acordo com o analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra, o Brasil é o maior consumidor do trigo argentino. Ele explica que no ano passado, a Argentina colheu um supersafra que superou 19 milhões de toneladas.

“A estimativa é que, dessa safra de 19 milhões de toneladas, 14,5 milhões de toneladas já foram vendidas para outros países, como os da Ásia. Nós consumimos, no País, cerca de 12 milhões de toneladas de trigo ao ano, sendo necessário importar em torno de 6,5 milhões a 7 milhões de toneladas. Só de trigo da Argentina, normalmente, compramos 85% do volume consumido. A estimativa é que o trigo disponível na Argentina está em torno de 4,5 milhões de toneladas, insuficiente para atender a nossa demanda”, explicou Coimbra.
De acordo com Coimbra, a tendência é importar o trigo dos Estados Unidos e da Rússia, o que vai onerar o setor da panificação.

O representante da Amipão explica que o setor está buscando meios para evitar o encarecimento dos produtos para o consumidor final. “O mercado ainda está inseguro sobre quais medidas tomar, o reajuste nos preços do trigo já passam de 10%. As padarias estão evitando o reajuste e somente o farão aquelas em que os reajustes do trigo estejam tornando a situação inviável. Dentre os produtos mais afetados está o pão de sal, que é o mais consumido”.

Ainda segundo Dantas, hoje, as padarias estão diversificando os serviços oferecidos, o que pode ajudar a diluir os custos mais altos com o trigo. Ao oferecer os serviços, como café da manhã e da tarde, por exemplo, o que é confortável para o consumidor, é possível agregar valor e ampliar a margem de lucro.

“O momento exige que o empresário seja criativo”, disse Dantas.

Safra – Mesmo com a demanda aquecida pelo trigo, a tendência é que a safra mineira do produto não seja ampliada de forma expressiva. Este ano, além de não contar com políticas específicas para a cadeia, existe a concorrência com o milho, que também está com preços elevados e é mais tradicional na agricultura mineira.

A produção estadual de trigo, na safra 2018/19, ficou em 200 mil toneladas, queda de 30% frente ao ano anterior. O consumo estadual do cereal em grão está em torno de 1 milhão de toneladas ao ano.

“Minas Gerais responde por cerca de 4% da produção nacional de trigo. A cultura, no Estado, é mais utilizada no sistema de rotação e concorre com itens mais tradicionais, como o milho, por exemplo. Por estes fatores, a tendência, mesmo com a demanda em alta, é que não ocorra um avanço significativo no plantio”, explicou.

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