MPEs de panificação e vestuário lutam pela sobrevivência em Minas Gerais

1 de maio de 2020 às 0h19

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Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo DC Pão Boa Vida

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) colocou em xeque a subsistência de parte de diversos setores da economia. Aqueles que contam com um grande número de micro e pequenas empresas (MPEs), muitas vezes, têm sentido mais ainda os impactos dessa crise. É o caso, em Minas Gerais, dos segmentos de panificação e vestuário, por exemplo.

De acordo com o vice-presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest-MG), Rogério Vasconcellos, as perdas da área no Estado deverão ser de cerca de 50% neste semestre e de no mínimo 40% no ano. Muitas empresas, diz ele, irão fechar as portas, até porque não foram contempladas pela linha de crédito do Programa Emergencial de Suporte a Empregos.

Rogério Vasconcellos lembra que o programa do governo federal é voltado apenas para empreendimentos que têm uma receita bruta anual de R$ 360 mil a R$ 10 milhões, o que não é o caso de muitos pequenos negócios em Minas Gerais, que estão em uma situação verdadeiramente crítica. Aproximadamente 90%, afirma ele, estão sem funcionar por causa das medidas de isolamento social como forma de combate ao novo coronavírus.

“Os empresários têm aluguéis para pagar, há impostos sendo prorrogados, mas que também deverão ser quitados. As faturas dos investimentos que foram feitos estão vencendo”, diz ele.

O vice-presidente do Sindivest-MG destaca que mesmo o e-commerce não tem se mostrado uma alternativa para muitas empresas no momento. Além de diversos consumidores não gostarem de comprar roupas pela Internet, conforme destaca Rogério Vasconcellos, os pequenos negócios também não conseguem, em vários casos, um alcance eficaz nas redes, pois não têm recursos suficientes para investir em boas estratégias de marketing.

Para Rogério Vasconcellos, o setor precisa de uma linha de crédito que possa beneficiar a microempresa, que atenda às suas necessidades. Além disso, ele destaca a importância de redução do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) na entrada de matéria-prima, “que era de 6% e passou para mais que o dobro, 17,3%. Queremos que volte a 6% ou que isente”, diz.

O vice-presidente do Sindivest-MG também espera dos governos e entidades um evento, ao término da pandemia, que supra a ausência do Minas Trend, que foi cancelado por causa de toda essa crise na saúde.

“Somos muito dependentes do lançamento do Minas Trend. Os clientes, em geral, preferem ir para São Paulo do que vir para Minas Gerais. Precisamos de um apoio governamental para incentivar esse consumo no Estado. Pode-se realizar outro evento, em outro formato”, analisa ele.

Padarias – A situação no setor de panificação também é preocupante. De acordo com o presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão), Vinícius Dantas, as padarias das regiões centrais das maiores cidades de Minas Gerais registraram queda de 60% a 70% no movimento devido ao fechamento do comércio. Já os estabelecimentos de bairro viram uma perda de 25%.

Vinícius Dantas explica que o isolamento social fez com que menos pessoas fossem aos estabelecimentos e, geralmente, vai apenas um indivíduo por família. Além disso, as pessoas estão mais precavidas em relação ao consumo, por causa da instabilidade econômica.

Em meio a tudo isso, os empreendimentos da panificação, segundo o presidente da Amipão, estão tendo dificuldades de conseguir recursos juntos aos bancos, sejam eles públicos, sejam eles privados, por causa, entre outros fatores, da burocracia.

“Acredito que 30% do segmento irá fechar durante a pandemia, não vão dar conta. Já tem algumas padarias que fecharam. As expectativas são de um recuo de cerca de 35% nas vendas neste ano”, diz ele.

Vinícius Dantas lembra que o setor é muito importante e um grande gerador de empregos. “Devemos nos preocupar com quem gera emprego. A cada R$ 8.500 de venda, a panificação gera um novo posto de trabalho por mês. É preciso um olhar clínico. Se nós financiarmos só quem está automatizado, não vamos resolver a empregabilidade” destaca ele.

Apenas 1% do financiamento da folha foi aprovado

Rio – A linha de crédito emergencial operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dirigida para ajudar empresas médias e pequenas a pagarem salários teve aprovada até agora cerca de 1% da dotação orçamentária, segundo dados divulgados na quinta-feira (30) pelo banco de fomento.

A proposta do governo federal é de que a linha seja usada pelas empresas por dois meses, em duas tranches de R$ 20 bilhões. Até agora, no entanto, foram aprovadas operações apenas R$ 206,7 milhões em empréstimos. Foram 9.995 operações aprovadas para esse fim até agora.

O financiamento é dirigido a empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Como condição para tomar o empréstimo, o empresário não pode demitir empregados. O banco estimou no início da operação que poderiam ser beneficiadas 1,4 milhão de empresas e 12,2 milhões de pessoas.

O Programa Emergencial de Suporte a Empregos voltado para a folha de pagamento foi anunciado em 27 de março pelo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, e ficou disponível em 8 de abril.

“Ainda estamos com dados de abril; quando virarmos a folha de maio teremos uma noção mais clara”, disse uma fonte próxima as operações”, análise confirmada por uma segunda fonte a par do assunto. Ambas as pessoas pediram anonimato.

Dentre as demais medidas adotadas para tentar conter o impacto econômico do coronavírus, o BNDES criou uma linha de dois bilhões de reais para financiar a compra de equipamentos médicos para combater a pandemia e outra de cinco bilhões para capital de giro de pequenas e médias empresas, além da suspensão por seis meses da amortização de empréstimos tomados atuais.

Segundo dados do BNDES, na linha de capital de giro para empresas com faturamento anual de até R$ 300 milhões já foram aprovadas operações que somam R$ 1,4 bilhão.

Outros R$ 5 bilhões foram aprovados para suspensão temporária dos pagamentos de parcelas de empréstimos. Já o crédito para área da saúde teve até agora apenas quatro operações aprovadas, com um valor total de R$ 163 milhões.

Na quinta-feira, o presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari, disse que o governo provavelmente terá que fazer ajustes nas linhas de crédito para financiar o pagamento de salários, uma vez que a demanda pelo produto tem sido menor do que a esperada. (Reuters)

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