Setor de materiais de construção comemora expansão em meio à pandemia

14 de novembro de 2020 às 0h15

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Pagamento do auxílio emergencial e as taxas de juros baixas estão entre fatores que contribuíram para incremento no mercado da construção | Crédito: Alisson J. Silva

Daniel Vilela

O aumento na demanda por materiais de construção no Brasil durante a pandemia pegou muitos empresários e especialistas de surpresa. Nos dois primeiros meses da disseminação da Covid-19 no País, uma nuvem negra e espessa cobriu a economia e visão de futuro de trabalhadores, empresários e especialistas. Porém, inesperadamente, dessa névoa surgiu uma onda de consumo que reaqueceu o mercado imobiliário e de construção.

Tal fenômeno trouxe efeitos positivos, negativos e ainda perguntas a serem respondidas sobre suas causas. Fato é que, nos últimos meses, revendedores de materiais de construção têm comemorado o aumento nos ganhos, o preço de vários insumos subiu e fornecedores se esforçam para suprir uma demanda crescente.

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os índices de evolução do nível de atividade da indústria da construção se mantêm acima da divisória de 50 pontos há dois meses. Números acima de 50 indicam aumento na atividade, em uma escala que vai até 100 pontos.

O índice de evolução do número de empregados cresceu para 50,1 pontos em outubro, uma alta de 0,6 ponto em relação a setembro. Essa é a quarta alta consecutiva do índice, que, no momento, apresenta o melhor desempenho desde abril de 2012, quando alcançou 51 pontos.

A economista e assessora econômica do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Ieda Vasconcelos, utiliza o cenário imobiliário de Belo Horizonte para explicar o aquecimento vivenciado em vários locais do País.

“Nos primeiros oito meses do ano, houve aumento de 20% no número de unidades imobiliárias vendidas na Capital e de 40% na quantidade de unidades lançadas no mercado. O isolamento e o home office trouxeram um novo significado para a casa própria. Muitas pessoas decidiram reformar ou buscar novos imóveis. E, por último, a indústria imobiliária reagiu rápido e se adaptou às vendas digitais”, elencou a especialista.

A economista ainda aponta as taxas de juros baixas e o auxílio emergencial como catalisadores do aumento do consumo e das vendas no mercado da construção. “A taxa  Selic proporcionou a redução nos juros do crédito imobiliário e as pessoas tiveram acesso a parcelas reduzidas nos financiamentos. Muitos também se organizaram e utilizaram parte do auxílio emergencial para melhorar suas residências”, afirmou.

“Aumentou o consumo formiguinha, que tem um peso extraordinário para o setor”, destacou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção, Tintas, Ferragens e Maquinismos de Belo Horizonte e Região (Sindimaco), Júlio Gomes Ferreira.

Escassez de insumos – Porém, o aumento do consumo de materiais de construção trouxe duas consequências: a alta dos preços e a escassez de algumas matérias-primas e insumos. “O tijolo aumentou 90%, o cimento, 30%. A tinta aumentou 20%, o que foi um dos menores aumentos da cadeia”, exemplificou o presidente do sindicato.

“O comércio está abastecido, mas a velocidade de reposição está comprometida. Alguns fornecedores estão prometendo entregas somente para janeiro ou fevereiro de 2021”, alerta Júlio Gomes.

Gabriel Teixeira Gonçalves é sócio de uma loja de materiais de construção. Ele comemora os resultados das vendas do ano, mas também chama atenção para a alta dos preços e a escassez de produtos. “Falta PVC, os materiais hidráulicos estão com atraso, faltam louças e alumínio, a entrega do cobre está com atraso. O cimento subiu cerca de 60%, o tijolo, 40%, e barra de ferro também subiu 40%”.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também apontam para a alta do custo médio da construção. Em outubro, esse índice apresentou variação de 1,96% em Minas Gerais e 1,71% no Brasil. Nos últimos 12 meses, as variações foram de 6,51% em Minas Gerais e de 6,48% no Brasil.

Em Minas Gerais, o custo por metro quadrado atingiu R$ 1.173,21, sendo R$ 643,26 referentes aos materiais e R$ 529,95 à mão de obra. Ainda segundo o IBGE, o saco de 50 quilos de cimento subiu de R$19,90 em maio, para R$24,40 em setembro, um aumento de 22,61%. A unidade do bloco cerâmico, que custava R$ 1,42 em maio, passou a custar R$1,77 em setembro, um acréscimo de 24,60%. E o vergalhão de aço, que custava R$5,13 em maio, em setembro passou a ser vendido por R$ 6,15, aumento de 19,80%.

Vendas devem diminuir ritmo no fim do ano

Apesar do aumento observado durante o ano, Gabriel Teixeira Gonçalves, sócio de uma loja de materiais de construção, não acredita que as vendas continuarão a crescer no último bimestre de 2020. “Esperamos uma queda, o fim de ano é historicamente mais baixo. Têm as férias das construtoras, e as pessoas também costumam viajar no final do ano e deixar as obras e reformas para depois”, lamenta.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Linhares, acredita que o crescimento vivido entre julho e setembro não retornará nos próximos meses ou em 2021. “Acredito que os preços vão se estabilizar e que as indústrias voltarão a suprir a demanda. Mas alguns produtos ainda continuarão sendo um problema, como o cobre e o PVC”, pondera.

Para o presidente do Sindimaco, Júlio Gomes Ferreira, o fim do auxílio emergencial também traz incertezas. “Ainda não temos como aferir como o mercado vai responder quando acabar a ajuda do governo”, disse.

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