A contaminação da cerveja Belorizontina, da Backer, sediada na capital mineira, suspeita de estar associada à morte de quatro pessoas e da intoxicação de outras 15, já afeta as vendas de alguns estabelecimentos comerciais. Apesar disso, o setor de cervejas artesanais mineiro mantém a projeção de crescimento da ordem de 20% para este exercício e fábricas instaladas no Estado confirmam as expectativas.
Em diferentes supermercados de Belo Horizonte, é possível observar os corredores das cervejas artesanais vazios e as gôndolas de outras marcas cheias e com muitas promoções. Funcionário de uma rede da Capital, que pediu para não ser identificado, informou que há encalhe dos produtos. Em outra, porém, a informação foi de que “as vendas não caíram. As pessoas trocaram a marca (da cerveja)”.
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Procurada, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) informou, por meio da assessoria de imprensa, que ainda não existem dados sobre o desempenho das vendas da bebida nos estabelecimentos em janeiro. E que um balanço deverá ser divulgado em março.
Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas-MG) e diretor da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Marco Falcone, disse que a identificação de substâncias tóxicas na cerveja Belorizontina trará consequências negativas para o mercado mineiro pelo fato de a empresa Backer ser a maior do setor. A produção de cerveja artesanal no Estado gira em torno de 1,5 milhão de litros por mês, dos quais a marca respondia por 800 mil.
“Nas demais cervejarias, creio que não houve impacto e que não haverá. Nosso setor desenvolveu um público maduro e esclarecido, que aprendeu a gostar da cerveja artesanal e não volta atrás”, disse, na última semana.
Empresas – Na Krug Bier, localizada em um dos polos cervejeiros de Minas Gerais, no bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e que produz 300 mil litros mensais de cerveja, as projeções para o ano estão mantidas. De acordo com o diretor da marca, Alexandre Bruzzi, a empresa deverá crescer cerca de 25% em 2020.
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“O mercado, de maneira geral, está apreensivo, o que é normal. Alguns consumidores questionam o processo produtivo e as substâncias utilizadas, mas não deixaram de comprar. Pelo contrário, observamos até uma elevação nas consultas com a suspensão das vendas da Backer”, explicou.
É que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu, no último dia 17, a venda de cervejas da marca com data de validade igual ou posterior a agosto de 2020.
A Cervejaria Bruder, de Ipatinga (Vale do Aço), terceira maior cervejaria independente do Estado, com produção mensal em torno de 2 milhões de litros ano, com oito diferentes rótulos e atuação, principalmente, em Minas Gerais e Espírito Santo, também não observou qualquer diferença.
“Nossas vendas estão dentro da previsão para essa época do ano, até um pouco acima de nossas expectativas iniciais”, comentou o diretor da empresa, Rildo Souza. Segundo ele, a marca vem promovendo degustação de seus produtos em supermercados da RMBH e tem notado que os consumidores não estão generalizando o problema.
A Prússia Bier, com fábrica em São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central, também estima uma elevação de 20% a 25% nos negócios no decorrer deste exercício, conforme o diretor-executivo da cervejaria, Fernando Cota. A empresa fabrica 20 mil litros por mês, entre cerveja e chope – sendo que este último é o carro-chefe da marca.
“Nosso volume de cerveja é menor, mas, de qualquer maneira, temos monitorado nossos distribuidores e comerciantes e não identificamos qualquer alteração nas vendas. Há muita informação desencontrada e confusão entre os consumidores. Por isso, a importância de as cervejarias acompanharem de perto suas equipes de vendas e o setor ser o mais transparente possível no repasse de informações”, ressaltou.
Já a Cervejaria Loba, sediada em Santana dos Montes, também na região Central, produz atualmente 40 mil litros de cerveja artesanal mensalmente e volta, neste momento, os esforços para a qualidade dos 22 rótulos diferentes que comercializa. Segundo o proprietário da marca, Aloísio Rodrigues Pereira, as vendas estão estáveis.
“Nossos consumidores estão comprando normalmente, tanto nos bares, quanto nos supermercados, padarias e restaurantes. Só não vamos aumentar as vendas neste exercício, porque estamos no limite da capacidade e focando no controle de qualidade antes de expandir a produção”, justificou.
Backer – Procurada pela reportagem, a Backer reafirmou que nunca comprou e nem utilizou o dietilenoglicol em seus processos de fabricação e reforçou que a substância empregada pela cervejaria é o monoetilenoglicol, cujas notas fiscais de aquisição já foram compartilhadas com a Polícia Civil e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A empresa disse ainda que aguarda os resultados das apurações e continua à disposição das autoridades.