BC deve injetar R$ 1,2 trilhão no sistema financeiro

24 de março de 2020 às 0h18

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Crédito: Adriano Machado/Reuters

Brasília – O Banco Central (BC) tem grande arsenal para fazer frente a qualquer tipo de crise, afirmou nessa segunda-feira (23) o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, após a divulgação de medidas e ações em estudo que, juntas, implicam uma injeção de liquidez potencial de R$ 1,2 trilhão no sistema financeiro nacional.

Em entrevista coletiva virtual, Campos Neto defendeu que o sistema financeiro brasileiro é sólido e está bem capitalizado, habilitado para “funcionar perfeitamente”. Ele disse ainda que o BC “está absolutamente tranquilo” e disponível para prover o incentivo que for necessário.

“A gente está falando mais ou menos de 16,7% do PIB (Produto Interno Bruto), comparando com o que foi feito em 2008, que foi 3,5% do PIB”, disse Campos Neto, ao falar sobre as medidas para injeção de liquidez.

“O que nós estamos querendo passar é que nós temos uma ampla capacidade de atuação. O que já foi feito e o que está sendo anunciado hoje representa o maior plano de injeção de liquidez da história do País”.

Mais da metade do montante vem de uma medida ainda em fase de elaboração final: a concessão de empréstimos pelo BC a bancos com lastro em letras financeiras garantidas por operações de crédito. Só com a investida, Campos Neto previu uma liberação de R$ 670 bilhões.

Na prática, a ideia é que os bancos ganhem aval para empacotar suas carteiras de crédito e emitir letras financeiras em cima desses ativos. O BC, então, emprestará recursos a essas instituições tomando as letras financeiras como garantia.

“É basicamente você pegar a carteira de crédito que o banco tem, securitizar em formato de letra financeira, e passar a financiar isso”, disse Campos Neto.

“Essa é uma forma de dar liquidez em troca de uma carteira de dívida privada, que vai fazer com que o banco tenha recursos para fazer mais dívida. Então a gente entende que o direcionamento vai chegar nas empresas”, completou.

O presidente do BC avaliou que a crise desta vez vem da economia real, diferentemente da de 2008, que decorreu de grande alavancagem financeira, gerando uma percepção de que os bancos como um todo tinham problemas.

Agora, a turbulência econômica desencadeada pelo coronavírus é “totalmente diferente”, sem problemas identificados nos balanços das instituições, frisou.

O BC enxergou a crise “em ondas”, disse Campos Neto, indicando que inicialmente o temor era de que ela iria atrapalhar a produção de bens, especialmente em grandes centros afetados, como China, Coreia e Estados Unidos, em um choque de oferta. Como a avaliação era de que a economia brasileira é relativamente fechada, o efeito no País acabaria menor.

Em uma segunda onda, entretanto, o BC passou a antever forte impacto na área de serviços por conta das quarentenas, com um efeito indireto também importante, ligado à redução da renda e perda de valores financeiros e com a busca por liquidez tanto no sistema financeiro quanto no setor real promovendo um encarecimento do crédito.
“Só as perdas na bolsa somam R$ 1,6 trilhão”, afirmou Campos Neto.

Demanda por liquidez – A necessidade de liquidez, de acordo com o presidente do BC, se dá para garantir o provimento de fluxo de caixa às empresas para que atravessem o período de isolamento imposto para frear a disseminação do vírus.
Campos Neto argumentou que essa nova dinâmica de distanciamento social quebrará cadeias produtivas e impactará fortemente o setor de serviços, que representa 63% do PIB brasileiro. Por isso, o BC também está estudando medidas para assegurar o direcionamento do crédito para pequenas e médias empresas, partindo do pressuposto de que elas sofrerão mais.

Novas liberações de compulsórios também estão na mesa, pontuou ele.
Também ontem, o BC anunciou a redução temporária da alíquota do compulsório sobre recursos a prazo de 25% para 17%, com liberação de R$ 68 bilhões extras na economia.

Em 20 de fevereiro, o BC já havia anunciado uma redução do recolhimento compulsório dos bancos sobre depósitos a prazo e um ajuste em regra de exigência de liquidez das instituições que, juntos, abriram caminho para liberação de R$ 135 bilhões. (Reuters)

Ações do País devem ter mesmo efeito que do Fed

Brasília – Após o Federal Reserve, BC norte-americano, ter anunciado ontem que começará a respaldar uma gama de créditos sem precedentes para famílias, pequenas empresas e grandes empregadores, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que o BC “não tem operacional” para ir pelo mesmo caminho, comprando diretamente as dívidas de empresas.

No entanto, ele pontuou que, com as medidas já anunciadas e outras que estão sendo estudadas, o Brasil está tomando ações que têm “efeito muito parecido”.

Além dos empréstimos do BC a bancos com lastro em letras financeiras, ele citou nesse sentido a autorização já feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ontem para que o BC conceda empréstimos a bancos com garantia em debêntures, buscando prover liquidez ao mercado secundário de dívida corporativa.

“O banco vai ter liquidez para fazer mais empréstimos privados, então chega nas empresas”, disse.

Segundo o presidente do BC, a medida envolvendo debêntures veio após um problema de liquidez ser identificado nesse mercado, já que, em meio a pedidos de resgate em fundos de títulos de dívida privada, os gestores não estavam conseguindo vender na velocidade adequada.

Campos Neto afirmou que o volume de debêntures que precisava ser vendido para equacionar a questão era da ordem de R$ 20 bilhões e que o programa do BC é de R$ 90 bilhões, sendo suficiente, portanto, para resolver esse descompasso.

Novo DPGE – Ontem, o BC também anunciou a autorização para que instituições financeiras possam captar por meio de depósitos a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), em um instrumento preventivo para ajudar especialmente pequenos e médios bancos neste momento.

Campos Neto destacou que esse tipo de depósito a prazo, conhecido como DPGE, vai possibilitar que R$ 200 bilhões sejam concedidos em crédito. “A última medida que foi feita nesse mesmo sentido, em 2009, liberou R$ 30 bilhões (em crédito), então é medida muito mais poderosa do que foi feita em 2009”, afirmou.

O DPGE deve ter valor mínimo de emissão de R$ 1 milhão, com prazo mínimo de 12 meses e máximo de 24 meses, sendo vedado o resgate antecipado.

As instituições financeiras poderão captar em DPGE o valor equivalente ao seu patrimônio líquido, limitado a R$ 2 bilhões por conglomerado, e as emissões poderão acontecer até o início de 2022. A garantia do FGC será de até R$ 20 milhões por titular.

O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello, afirmou que todas as instituições associadas ao FGC poderão emitir DPGE, incluindo bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de desenvolvimento e sociedades de crédito.

O valor máximo de emissão é hoje de R$ 20 milhões – mesmo teto de 2009 -, mas o FGC está avaliando aumentá-lo, disse o diretor. (Reuters)

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