Governo avalia dois planos para grandes empresas

9 de abril de 2020 às 0h10

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Presidente do BC, Campos Neto deu detalhes de programas em videoconferência ontem com executivos do Credit Suisse | Crédito: Adriano Machado/Reuters

Brasília – O governo avalia ajuda a grandes empresas em meio à crise do novo coronavírus via apoio para contratação de dívida e por meio de títulos conversíveis, indicou ontem o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

Em videoconferência com executivos do Credit Suisse, ele disse que a liquidez que já foi injetada na economia por meio das medidas para combater efeitos econômicos do coronavírus é suficiente, mas que a autoridade monetária tem mais iniciativas na manga caso seja necessário.

“Estamos sempre olhando para ver o que precisa fazer”, afirmou.

Em relação às grandes companhias, que ainda não foram contempladas por uma iniciativa de vulto, Campos Neto afirmou que o governo analisa dois tipos de programa. O primeiro envolve dívida, com as empresas podendo alavancar em cima do aporte do governo, em um modelo de first loss (primeiras perdas).

Segundo a Reuters apurou, nesse desenho, o Tesouro fica com as perdas resultantes da inadimplência até um certo valor. Acima disso, o prejuízo é suportado pelos bancos.
Campos Neto ponderou que para alguns negócios e setores isso não seria o mais adequado em função de um quadro de endividamento já alto. “No final das contas, você deixar a empresa altamente endividada distorce a estrutura de capital”, disse.

Para esse grupo, o BC se debruça sobre algo que envolva “algum conversível”, prosseguiu Campos Neto, em referência à possibilidade de os recursos injetados em auxílio serem posteriormente convertidos em ações nas empresas.

“O que está sendo feito para as maiores está nessas duas linhas, de first loss e alguma coisa com equity”, resumiu.

No modelo de equity, as empresas, na prática, dão um pedaço da participação do negócio ao governo – ou a bancos – em troca dos recursos recebidos, em vez de elevarem sua dívida.

Para as empresas menores, com faturamento anual abaixo de R$ 360 mil, ele disse que o governo está pensando em “vários programas”, destacando eventual utilização das maquininhas de cartão para concessão de crédito, sem dar mais detalhes a respeito.

O presidente do BC afirmou que a opção por contemplar primeiro as pequenas e médias empresas, com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões, veio após testes de estresse mostrarem resultado que “não foi muito bom” para esse segmento na crise, com consequências que poderiam drenar “liquidez do sistema bancário relativamente grande”.

Por isso, o governo lançou o programa de financiamento à folha de pagamento apenas a esse público. Inicialmente o BC pensou em uma ajuda maior, mas entendeu que os R$ 40 bilhões efetivamente destinados ao plano eram adequados, disse Campos Neto. Destes, R$ 34 bilhões serão aportados pelo Tesouro e R$ 6 bilhões, pelos bancos.

“Entre 45% e 50% do custo operacional das pequenas e médias era folha de pagamento, fazia sentido ir nessa direção, dado que preservaria emprego”, justificou.

Ele disse que a opção por compartilhar riscos com o setor financeiro – responsável por 15% do risco de inadimplência – se deu porque o governo não sabe recuperar crédito e essa foi uma forma de criar um incentivo para que os bancos tivessem interesse na tarefa.

Suavizar o ciclo – Durante sua fala, Campos Neto também pontuou que o governo vai disponibilizar um banco de dados com tudo que for feito no âmbito do enfrentamento aos impactos da pandemia, com o detalhamento das empresas que forem beneficiadas.

Ele frisou que a crise atual é muito difícil de ser quantificada e reconheceu que o crescimento econômico brasileiro deve ser negativo neste ano, mas reiterou a importância de o governo ressaltar que as medidas temporárias adotadas representam um desvio de um caminho que será perseguido novamente depois, com a busca pelo equilíbrio fiscal.

De acordo com Campos Neto, a função do governo é “suavizar” o ciclo, não deixando haver “nenhuma ruptura” e sempre de olho nos setores mais prejudicados.

“Alguns nessa crise vão ser perdedores, vão ter mais impacto do que outros. Governo vai tentar fazer medidas para que isso seja da forma mais linear possível”, afirmou.

Em relação às instituições financeiras, Campos Neto ponderou que a atual crise por conta do Covid-19 vai gerar entendimento diferente sobre o papel dos bancos e seu capital. “Não tem como apertar mais capital, acho que isso é coisa que vai mudar”, disse.

Ele fez um apelo para que a crise seja transformada em oportunidade de avançar com as reformas, mas ressaltou ser óbvio que o momento agora é de lidar com as medidas emergenciais.

“Essa atitude em relação às reformas, uma vez passado período mais de crise, é que vai determinar o formato da nossa recuperação”. (Reuters)

BC se diz preparado para atuação maior no câmbio

Brasília – O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse ontem que o câmbio é flutuante (definido pelo mercado), mas existe uma política para evitar excessos. Ele afirmou ainda que o BC está preparado para fazer atuação maior, a qualquer momento, se for necessário.

“Existe uma política para evitar excessos, alinhar o câmbio e estabilizar os mercados”, disse em transmissão ao vivo pela internet promovida pelo banco Credit Suisse. Ele acrescentou que o BC tem “arsenal bastante grande” para atuar no mercado de câmbio.

“Parte do mercado advogava fazer programas mais agressivos para o câmbio, nós sempre entendemos que era importante dar liquidez, não influenciar a trajetória de preço, mas sempre olhando o real em relação a outras moedas. Nós temos um arsenal bastante grande. Entendemos que o real desvalorizou muito e um pouco mais em relação a outras moedas. Estamos preparados, a qualquer momento, para fazer uma coisa maior, se for necessário, no câmbio, mas entendemos que o câmbio é flutuante”, afirmou.

Campos Neto disse ainda que houve críticas de que as medidas adotadas para o enfrentamento da crise gerada pela pandemia de Covid-19 teriam sido demoradas. Entretanto, ele afirmou que, comparado a outros países, como os Estados Unidos, isso não é verdade.

“E o impacto também das medidas, se considerar o que o Brasil fez em termos de liquidez e capital, 16,7% do PIB (Produto Interno Bruto), não tem nenhum outro país emergente que tenha feito nada parecido. Quando pega a potência fiscal, em termos de dinheiro novo, o Brasil está um pouco acima de mercados emergentes”, disse.

Campos Neto explicou que tem enfatizado a importância de cumprimento de contratos, como aluguel e crédito. “A crise com interrupção nos contratos se torna muito mais aguda, com uma demora na recuperação muito maior. Tivemos indício de quebra de contrato, tentativa de quebra de contrato de energia, aluguéis. A parte de (crédito) consignado, que não faria nenhum sentido porque o consignado está ligado em grande parte a um servidor (público) que tem estabilidade, não vai ter o salário afetado. Do ponto de vista do governo, é melhor ter um fiscal um pouco pior e ter a certeza de que todos os contratos são cumpridos”, acrescentou.

Impacto na economia – O presidente do BC afirmou que o impacto da crise na economia brasileira vai depender do tempo de duração do distanciamento social. “É um vírus que tem letalidade muito baixa, mas a contaminação é muito alta. E tem obviamente os trade off (prós e contra de uma decisão) entre ter uma curva mais acelerada (aumento dos casos da doença) e criar uma imunidade e o custo econômico. O Banco Central não entra na discussão dessas escolhas. A gente entende que é uma política de governo”.

“O que dá para fazer é tentar passar credibilidade para as pessoas de que o governo vai ajudar. O governo não vai deixar nenhuma ruptura, vai olhar os setores mais prejudicados.

O governo não quer promover vencedores e perdedores, quer que todos sejam vencedores. (Mas) alguns nessa crise vão ser perdedores, vão ter mais impacto do que outros”, afirmou Campos Neto. (ABr)

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