País fecha ano com atividade aquém da esperada
15 de fevereiro de 2020 às 0h05
São Paulo – A atividade econômica do Brasil terminou 2019 com expansão abaixo do esperado, de acordo com dados do Banco Central (BC) divulgados na sexta-feira (14), com os números consolidando a percepção capturada por outros indicadores no sentido de perda de vigor da economia no fim do ano passado.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), aumentou 0,89% no ano passado, em números observados, após expansão de 1,34% em 2018.
O IBC-Br e o número oficial das Contas Nacionais possuem metodologias de cálculo diferentes. Mas, de toda forma, a leitura mais fraca do índice do BC em 2019 indica um ritmo de atividade mais lento que o esperado pelo mercado para o PIB, que, pela mais recente pesquisa Focus do BC, deve ter crescido 1,12% no ano passado.
Em dezembro, o IBC-Br apresentou recuo de 0,27% em relação ao mês anterior, em dado dessazonalizado, no segundo mês seguido de perdas e um pouco pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters de contração de 0,23%.
Os dados do BC mostraram um cenário ainda mais sombrio para a economia no final do ano passado, já que houve revisão da taxa de novembro para uma queda de 0,11% sobre o mês anterior, depois de alta relatada anteriormente de 0,18%.
“O que vale destacar é a revisão de novembro. Apesar de termos um varejo recuperando o nível da atividade brasileira, a economia ainda apresenta uma certa fragilidade de recuperação”, disse o economista da CM Capital Markets Alexandre Almeida.
Com isso, o IBC-Br terminou o quarto trimestre do ano com crescimento de 0,46% sobre o terceiro, em número dessazonalizado. A leitura mostra que a atividade chegou a se recuperar das perdas de 0,43% nos três primeiros meses do ano, subindo 0,06% no segundo trimestre e 0,63% entre julho e setembro, mas voltou a perder força nos últimos três meses.
“De fato, a desaceleração é preocupante. O fechamento de 2019 traz um pouco de cautela para 2020. Conforme essas leituras de atividade vão frustrando as expectativas, o que pode acontecer é que, cada vez mais, as projeções para 2020 sejam reajustadas para baixo”, completou Almeida, cuja expectativa de crescimento de 2% do PIB para este ano está sob revisão.
Choques em 2019 – O ano de 2019 começou com o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, o que afetou sobremaneira o setor extrativo. Foi marcado ainda por inflação e juros baixos e liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e recuperação ainda gradual do mercado de trabalho.
A economia começou a dar sinais de ânimo conforme alguns indicadores do segundo semestre começaram a superar as expectativas. Porém, dados do final do ano voltaram a levantar questões sobre o ritmo gradual da retomada, mostrando que a atividade permanece hesitante.
Os números oficiais do PIB em 2019 serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 4 de março.
No ano passado, a produção industrial fechou com redução de 1,1%, interrompendo dois anos seguidos de ganhos. As vendas no varejo tiveram crescimento pelo terceiro ano seguido, porém no ritmo mais fraco desse triênio. Já o volume do setor de serviços brasileiro recuou em dezembro pelo segundo mês seguido, mas ainda assim encerrou o ano passado com crescimento pela primeira vez em cinco anos.
No início deste mês, o BC reduziu a taxa básica de juros Selic em 0,25 ponto percentual, a uma nova mínima histórica de 4,25% ao ano, e indicou interrupção do ciclo de cortes, em meio à leitura de que os ajustes já feitos ainda vão surtir efeito na economia.
Contudo, alguns economistas destacaram riscos de o BC precisar retomar o afrouxamento monetário em caso de renovado enfraquecimento da atividade. (Reuters)
Impactos do coronavírus ainda são incertos
Brasília – O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, destacou, na sexta-feira (14), que os impactos econômicos do coronavírus ainda são incertos e que a avaliação dos agentes do mercado sobre as repercussões para a economia brasileira varia consideravelmente, oscilando, no momento, de uma redução de 0,1 ponto a queda de 0,4 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB).
“Impactos econômicos ainda incertos, mas podem ser significativos caso a epidemia se mantenha por um tempo prolongado”, disse Campos Neto, segundo apresentação divulgada pelo BC para palestra em evento fechado à imprensa em São Paulo.
O presidente do BC destacou, na apresentação, que os casos confirmados de pessoas infectadas pelo coronavírus já ultrapassaram um total de 60 mil com a nova metodologia de diagnóstico.
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terça-feira, o BC avaliou que um eventual prolongamento ou intensificação do surto implicará uma desaceleração adicional do crescimento global, com impactos sobre os preços das commodities e de importantes ativos financeiros.
“A consequência desses efeitos para a condução da política monetária dependerá da magnitude relativa da desaceleração da economia global versus a reação dos ativos financeiros”, frisou a autoridade monetária.
A ata também mostrou que, na reunião em que definiu um corte de 0,25 ponto na taxa Selic na última semana, para 4,25%, e indicou uma interrupção no ciclo de flexibilização, o colegiado divergiu na avaliação sobre o nível de ociosidade da economia brasileira.
Política monetária – Na sexta-feira (14), Campos Neto reiterou a cautela com a política monetária, reafirmando que “os próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”.
O BC republicou, também na sexta-feira, a apresentação de Campos Neto para incluir a frase de que o Comitê de Política Monetária (Copom) “vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”, que não constava do documento divulgado antes originalmente.
Na apresentação de dados sobre a conjuntura econômica, o presidente do BC destacou que as expectativas recentes para o PIB mostram o Brasil com um desempenho acima da média dos países da América Latina. Campos Neto também chamou atenção para uma perda disseminada de tração da indústria entre os países emergentes. (Reuters)