Valorização do peso pode custar eleição na Argentina

10 de novembro de 2021 às 0h20

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Governo de Alberto Fernández pode encarar possível derrota nas eleições legislativas, marcadas para 14 de novembro | CRÉDITO: Alvaro Leiva

Buenos Aires – A fragilizada moeda da Argentina pode custar uma eleição aos governistas peronistas, além de sua maioria essencial no Senado.O peso, equiparado ao dólar norte-americano duas décadas atrás, agora só vale oficialmente um centavo. Quem vai ao popular mercado paralelo local em busca de dólares, que floresce em meio aos controles de capital rígidos, só obtém metade deste valor.

O governo de centro-esquerda do presidente Alberto Fernández encara uma possível derrota nas eleições legislativas de 14 de novembro, o que pode prejudicar a segunda metade de seu mandato e abalar sua coalizão peronista, já enfraquecida por uma derrota dura nas primárias.

Causar revolta no eleitorado, em parte, é um dos problemas de um peso cada vez mais esquizofrênico, que está sendo negociado oficialmente a 100 por dólar, mas por 200 em mercados alternativos, o que provoca temores de desvalorização ainda maior e aumenta a inflação.

“Inflação e desvalorização afetam minha vida diária cada vez que compro algo”, disse Marina Smith, agente de viagens de 42 anos de Buenos Aires. “Até me acontece de ver o valor de algo e não saber mais se é caro ou barato”.

A moeda inconstante, juntamente com a pandemia, a afeta profissionalmente, já que os controles de capital, os impostos e a desvalorização tornam mais caro para os turistas argentinos viajarem ao exterior. “Quando votar, levarei estes fatores em conta”, disse ela, mas sem especificar em quem votará.

Inflação -O governo da Argentina está enfrentando uma inflação descontrolada, que atinge uma taxa anual acima de 50%, o que é exacerbado pelo temor de uma desvalorização da moeda e os custos maiores concretos dos bens agora que os negociantes usam taxas de câmbio informais mais caras.

Recentemente, esta taxa superou a barreira psicológica de 200 pesos por dólar, o dobro da taxa oficial. A diferença surgiu no final de 2019, quando a vitória eleitoral dos peronistas causou o colapso do mercado e levou aos controles de capital, e se ampliou desde então.

“O problema com a diferença da taxa de câmbio é que ela cria uma mudança de incentivos, e também de expectativas”, disse Isaías Marini, economista da consultoria Econviews. “Agora temos uma defasagem acima de 100%. E a expectativa de desvalorização criada por esta defasagem se traduz em um aumento de preços”.

O ministro da Economia, Martín Guzmán, diz publicamente que o governo não permitirá uma desvalorização abrupta do peso, mas muitos negociantes continuam céticos em um país acostumado a uma inflação que corrói os salários e que governos sucessivos têm sido incapazes de controlar, ou mesmo explicar.

“Isso tem uma enorme influência no colapso da opinião pública”, disse o analista político Jorge Giacobbe, citando a inflação galopante. “O golpe que veremos das pessoas nessa eleição deve-se ao temor de o que virá será ainda pior”.

PIB do país deve crescer 9% neste ano

Buenos Aires – A economia da Argentina crescerá 9% em 2021 e recuperará muito do que perdeu em 2020 durante o isolamento social causado pela Covid-19, disse ontem o Ministério da Economia do país vizinho.

Houve uma elevação da estimativa anterior de crescimento de 8% este ano. A nova estimativa também está acima da previsão de 8,3% de analistas na última pesquisa mensal do banco central argentino.

“Hoje a economia argentina está passando por uma recuperação sólida”, disse um comunicado do ministério, citando o ministro da Economia, Martin Guzmán. “Todos os setores da economia argentina estão crescendo.”

A inflação, porém, está em 52,5% ao ano, de acordo com os dados oficiais mais recentes. Analistas ouvidos pelo banco central esperam que os preços ao consumidor subam 50,3% em todo o ano de 2021.

No domingo, os argentinos votarão nas eleições para o Congresso, depois que a coalizão oficial peronista sofreu uma forte derrota nas primárias de setembro. O nervosismo pré-eleitoral contribuiu para uma queda na taxa oficial do peso na segunda-feira, quando fechou em uma mínima histórica de 100,05 por dólar. (Reuters)

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