Covid-19 evidencia urgência de investimento em sustentabilidade

20 de maio de 2020 às 0h16

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Teodomiro Diniz destacou importância de integração com comunidade | Crédito: Charles Silva Duarte

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) trouxe uma série de desafios para as diversas economias mundiais, mas também fez com que viesse à tona a necessidade urgente de as empresas, os governos e a sociedade investirem cada vez mais na sustentabilidade.

Essa foi uma das discussões que permearam o painel “Interdependência e a Sustentabilidade nos Negócios”, que compôs a programação do seminário #Juntospelas EmpresasdeMinas.

A iniciativa do DIÁRIO DO COMÉRCIO reuniu ontem uma série de profissionais para discutir assuntos de suma importância para o Estado e o País. A programação continua hoje pelas redes sociais.

Durante o encontro virtual, a diretora executiva do Sistema B – movimento que foca uma economia mais inclusiva e geradora de valores –, Francine Lemos, destacou a importância de um novo perfil de empresas e de uma sociedade mais atuante e resiliente.

Isso, disse ela, em meio a vários desafios atuais, que não têm a ver só com o Covid-19, mas com a desigualdade social, com a crise migratória, com o não cumprimento de acordos relacionados à preservação do meio ambiente, entre outras questões. “É preciso repensar o capitalismo que estamos vivendo”, afirmou. “Que tipo de empresas gostaríamos de ver se multiplicando?”, indagou.

De acordo com ela, esses negócios que devem se espalhar são aqueles que minimizam impactos negativos e causam, por outro lado, impactos positivos. Para isso, salientou, é preciso criar responsabilidade, trazer bons elementos para a sua governança e garantir a escuta ativa de todos os stakeholders. Além disso, afirmou, é necessário se comprometer com a transparência e verificar os seus impactos com o mesmo rigor que se observa os lucros.

Empreendimentos que têm esse tipo de preocupação e podem se enquadrar e serem certificados como Empresa B, afirmou Francine Lemos, têm muito a oferecer para a sociedade, mas também a ganhar com suas ações.

ODS – Esses ganhos, disse ela, vão desde a atração de talentos, já que boa parte dos millenials tem intenção de trabalhar em organizações com propósito, até o estabelecimento de um diálogo diferenciado com o mercado financeiro.

Há muitos investidores, lembrou, que observam a adesão aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), objetivos esses, inclusive, que ajudaram a permear as discussões do painel.

Também mencionando os ODS, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e integrante do Conselho Editorial do DIÁRIO DO COMÉRCIO, Teodomiro Diniz, ressaltou a importância de a implantação dos objetivos da ONU passar pela organização social como leito e como via para se perpetuar. Para ele, é necessário que a comunidade abrace os processos.

Teodomino Diniz lembrou que, dessa forma, é imprescindível que a sociedade e organizações dialoguem, criem projetos e visões que não se percam em mudanças políticas de quatro em quatro anos.

“A política levada como é no Brasil dificulta muito a fluição da sociedade no fazer do desenvolvimento. Ela é meio que cerceada. O lado político acaba sendo um empecilho muito forte. É necessário que as comunidades se reúnam em torno de um projeto próprio”, disse ele.

Para o vice-presidente da Fiemg, não vivemos mais em uma época em que adianta somente as empresas divulgarem um balanço das suas ações sustentáveis. “Não basta ter o que se fez para a comunidade e, sim, o que se faz com a comunidade’, salientou.

Assim, avaliou Teodomiro Diniz, em vez de prover recursos para o desenvolvimento de projetos, é importante as empresas estimularem e trabalharem com esses recursos para que se tenham resultados mais robustos.

Mas, para que a sociedade realmente abrigue essas empresas, ela precisa vê-las em sua inteireza, agregando o desenvolvimento sustentável, e não apenas como uma entidade que alavanca o caixa da região onde está instalada.

Colaboração para solucionar crise

O diretor-executivo da Rede Brasil para o Pacto Global, Carlo Linkevieius, destacou também no painel como os organismos sociais dependem uns dos outros. Em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), salientou, isso se torna ainda mais evidente.

“A gente viu o quão necessário se faz uma ajuda que vem de uma colaboração multilateral”, disse ele, ressaltando que governos, sociedade e empresas têm de trabalhar para resolver a crise instaurada.

Ele também destacou que ficou ainda mais clara a dependência que os países têm de suprimentos da China, por exemplo. Para Carlo Linkevieius, não é que se deve retrair a interdependência, mas ter ciência dela para a busca de soluções conjuntas.

Essa integração, aliás, ponderou ele, é vista nos próprios ODS que são, “por definição, integrados, indissociáveis e interdependentes”, afirmou. Enquanto um ponto aborda o combate à corrupção, por exemplo, outro mira a desigualdade. Todos devem caminhar juntos em prol de um bem comum, frisou.

A pandemia do novo coronavírus, aliás, lembrou ele, escancarou as desigualdades. Ao mesmo tempo em que há uma grande campanha para lavar as mãos, o que ajuda a combater a doença, muitas pessoas no País não têm acesso à água potável e ao saneamento básico. Essa crise na saúde também revelou, disse ele, como o ataque inconsequente à natureza retorna para a humanidade.

Sendo assim, as empresas, disse, têm um importante papel e devem pensar em atender aos anseios da sociedade, não focar somente os lucros. Esse tipo de atitude, inclusive, se reverte para os empreendimentos. Carlo Linkevieius destacou que 87% do valor de uma empresa estão relacionados a ativos intangíveis e boa parte deles guarda relação com a reputação.

Sócio do Manucci Advogados, Tiago Fantini destacou que pensar em sustentabilidade é pensar também na perenidade dos negócios. O capital natural, pontuou, é tangível, mensurável e finito e o empresário deve contabilizá-lo no trato diário. Ele também frisou que esgotar os recursos naturais implica no próprio fim do negócio.

“A discussão do capital natural não é uma discussão abstrata. Nós estamos falando em como casar e como desenvolver bem a minha atividade empresarial de tal forma que ela possa ser lucrativa, mas sem, evidentemente, esgotar os recursos, recursos estes que a minha atividade depende. Então, tem que saber lidar com isso. Se eu não lidar com isso, eu não estou falando apenas de perda do ecossistema e não apenas de perda desse ambiente no qual eu estou, mas de perda do próprio negócio”, disse.

Por fim, o mediador do painel, o professor do Instituto Orior, Raimundo Soares, ressaltou o quanto a pandemia do novo coronavírus reformou a percepção da interconectividade. Para ele, empresas e sociedade estão se articulando. O Brasil, disse, tem grandes equilíbrios globais, “quando puxa o fio da meada aqui, auxilia o mundo”, afirmou ele.

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