Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), ainda que lentamente, vai retomando o ritmo das atividades após seis meses do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, de responsabilidade da mineradora Vale, ocorrido em 25 de janeiro.
A tragédia, que resultou em 248 mortos, 22 desaparecidos e um incalculável prejuízo material e ambiental ao longo da Bacia do Rio Paraopeba, fez com que uma das principais atividades econômicas do município se reduzisse drasticamente: o turismo.
Ancorada na riqueza do meio ambiente dominado pela Mata Atlântica e emoldurado pela Serra da Moeda, e no prestígio do museu a céu aberto do mundo dedicado à arte contemporânea, o Inhotim, a atividade estava em plena expansão – após o surto de febre amarela, no fim de 2017 – e se apresentava com uma das alternativas para o desenvolvimento de toda região, especialmente com o ocaso da extração mineral previsto para as próximas décadas.
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Essa realidade, porém, foi bastante alterada com a notícia do rompimento da barragem. Turistas confusos com os desdobramentos da catástrofe e temerosos de que outras estruturas pudessem passar pelo mesmo tipo de colapso, cancelaram reservas e tiraram Brumadinho dos seus planos de viagem. A cidade – que ainda contava seus mortos – se viu ao mesmo tempo sem a arrecadação proveniente da mineração e também sem os recursos normalmente deixados pelos visitantes.
Segundo o secretário de Turismo e Cultura de Brumadinho, Marcos Paulo de Andrade Amabis, apesar de as pousadas estarem com boa ocupação, um problema diz respeito ao gasto médio dos visitantes na cidade. A maioria está a trabalho, boa parte em função da própria tragédia, e, se comparados aos turistas de lazer, tem um nível de gasto inferior.
“Atualmente estamos com uma hospedagem satisfatória. Uns empreendimentos com mais e outros menos hóspedes. Entre os hóspedes ainda destacam-se empresas terceirizadas e militares. No primeiro trimestre deste ano – após a tragédia -, de acordo com nossa pesquisa de um total de 6.457 hóspedes, apenas 955 eram turistas. A expectativa da Prefeitura e de todos os envolvidos com o setor de turismo é que o setor melhore a cada dia, principalmente após o lançamento da campanha Abrace Brumadinho. Além disso, o Inhotim sediou alguns eventos envolvendo artistas renomados neste primeiro semestre, que movimentou bastante a cidade e gerou demanda para o setor hoteleiro”, explicou Amabis.
Ainda de acordo com o secretário, as férias de julho também foram bastante positivas. Para os próximos meses estão programados o Festival da Cachaça e o Brumadinho Gourmet.
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Em maio, foi lançada a campanha “Abrace Brumadinho”. A partir dela, peças publicitárias para TV, rádio, mídia impressa e digital, produzidas pela Agência África, passaram a ser veiculadas nacionalmente além do site www.abracebrumadinho.com.br. Os recursos para a viabilização da campanha são oriundos de um acordo feito entre a Associação e a Vale, que atendeu à solicitação da entidade local.
De acordo com a vice-presidente da Associação de Turismo de Brumadinho (ATBR) – responsável pela campanha -, Elaine de Castro, a campanha está mostrando que a cidade está de braços abertos para receber os viajantes. Mas esse e um trabalho de resultados lentos.
“Quando a barragem rompeu, os turistas simplesmente sumiram. Foi na tentativa de informar às pessoas que não estávamos debaixo da lama, que tudo tinha acontecido há cerca de 20 quilômetros da sede, e que estamos aptos a receber a todos, que surgiu a campanha ‘Abrace Brumadinho’. Essa retomada, porém, é lenta. O turista demora a se sentir confortável para nos visitar. Estamos negociando outras ações que sejam capazes de aquecer o turismo na cidade. Só a campanha não é o suficiente”, afirma Elaine de Castro.
A pesquisa aplicada pela Secretaria Municipal de Turismo e Cultura entre os dias 25 e 28 de junho verificou a percepção de empresários da cadeia de valor do turismo – principalmente donos de empreendimentos das categorias hospedagem e alimentação. Do total de visitantes que passam pela cidade, 56% são de Minas Gerais, seguido de São Paulo (23%) e Rio de Janeiro (18%). Desses, 76% estão na cidade para turismo.
Decreto reformula política do setor em MG
O governo de Minas publicou o Decreto nº 47.687, que dispõe sobre os circuitos turísticos e a descentralização do turismo no Estado. O texto apresenta o processo de certificação dos circuitos turísticos como Instância de Governança Regional (IGR), atualiza a política de regionalização, que não era alterada desde 2003, e traz várias inovações.
De acordo com a diretora de Regionalização e Descentralização das Políticas do Turismo da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Flávia Ribeiro, “havia um grande gargalo que foi superado com a definição de diretrizes que devem ser observadas pelos municípios participantes”.
A partir de agora, a certificação das instâncias passa a ser feita a cada ano ímpar. A IGR terá que apresentar, além das questões técnicas e jurídicas, comprovação da sustentabilidade financeira da entidade. Outro ponto importante de alteração foi o período para apresentação da documentação, que deixa de ser no mês de novembro e passa a ser durante o período de 15 de abril a 15 de maio. A Secult publicará, até o dia 31 de julho de cada ano ímpar, no Diário Oficial do Estado, a listagem de municípios participantes da regionalização do turismo após manifestação do Conselho Estadual de Turismo.
Este novo marco legal é resultado do trabalho conjunto da Secult com os circuitos turísticos.
Próximos passos – A Secult vai trabalhar na resolução que definirá a forma de apresentação dos critérios dispostos no decreto, enquanto uma versão do sistema de certificação digital está em fase de adequação para ser implantada. Considerado uma das inovações do decreto, o principal objetivo do sistema de certificação das Instâncias de Governança é ampliar o monitoramento e acompanhamento das atividades das 47 IGRs do Estado, facilitando também a divulgação de boas práticas desenvolvidas. Além disso, com a ação a Secult pretende diminuir o volume de papeis que antes eram necessários para a certificação dos circuitos turísticos.
Circuitos turísticos – Os circuitos turísticos são integrados por municípios de uma mesma região com afinidades culturais, sociais e econômicas, que se unem para organizar, desenvolver e consolidar a atividade turística local e regional de forma sustentável, regionalizada e descentralizada, com a participação da sociedade civil e do setor privado. A descentralização tem como objetivo favorecer o desenvolvimento sustentável, participativo e integrado do turismo, competindo à Secult estimular a atuação municipal e regional. (Da Redação)