Dólar alto inflaciona ceia de Natal

22 de dezembro de 2021 às 0h30

img
Segundo lojistas do Mercado, o movimento está muito melhor do que em 2020 | CREDITO:ALISSON J. SILVA

Passado o pior da pandemia, mesmo com a já anunciada circulação da variante Ômicron no Brasil, e o surto de influenza (H3N2), que vem lotando hospitais em várias capitais brasileiras, o que anda assustando mesmo o consumidor de Belo Horizonte é o preço dos produtos natalinos.

Com preço lastreado no dólar, muitos produtos típicos dessa época, como bacalhau, castanhas, vinhos e frutas secas, não chegam a encalhar nas prateleiras, mas são levados com parcimônia pelos clientes e obrigam os comerciantes a fazer um rígido controle de entrada e saída, evitando que se acumulem no estoque.

Um bom termômetro de como serão as festas de fim de ano nas casas dos mineiros é a movimentação nos corredores do Mercado Central. Símbolo da Capital, encravado no hipercentro, há 92 anos, e passagem obrigatória de turistas de todo o mundo, sempre está cheio, porém as sacolas andam um pouco mais vazias e transportando algumas mercadorias pouco usuais nessa época do ano.

De acordo com o gerente do Ananda Empório – uma das lojas mais antigas do Mercado -, Geraldo Henrique Figueiredo Campos, a expectativa é positiva e a estimativa é que as vendas cheguem ao mesmo patamar alcançado em 2019. Seguindo uma tradição tipicamente brasileira, boa parte dos consumidores só deve aparecer nos dois últimos dias antes da festa.

“Podemos dizer que no ano passado praticamente não tivemos Natal, então a expectativa é nos aproximarmos dos resultados de 2019. Me parece que as pessoas vão comemorar com alegria e responsabilidade em festas menores. Com o dólar caro, muita gente usa a imaginação para fazer substituições de produtos. Além da Covid-19, agora temos o surto de gripe com o qual precisamos tomar muito cuidado. O brasileiro deixa as compras para a última hora. Os últimos dias são tumultuados, então, o desgaste é grande para os comerciantes. Esse finalzinho representa entre 25% e 30% das vendas”, explica Campos.

Há mais de 10 anos no Mercado Central, o Trilha dos Sabores aguarda o movimento dobrar até o dia 24 de dezembro. De acordo com o gerente do estabelecimento, Altair Andrade Sousa, o faturamento deve superar o alcançado em 2019 e, apesar do susto com os preços, todo mundo compra alguma coisa.

“O Mercado está bem cheio, muito melhor do que em 2020 e deve superar o movimento de 2019. Produtos como bacalhau e castanhas são os que mais ‘assustam’, porque são cotados em dólar, mas o cliente acaba levando mesmo que seja só um pouquinho. As pessoas querem se sentir em uma vida um pouco mais normal depois desses dois anos de pandemia”, avalia Sousa.

No Mercado do Cruzeiro, o movimento ainda é fraco se comparado a 2019 | Crédito: ALISSON J. SILVA

Mercado do Cruzeiro

O Mercado Distrital do Cruzeiro, há 40 anos no bairro de mesmo nome, na região Centro-Sul, também espera como presente de Natal a presença dos consumidores nesses últimos dias do ano. De acordo com o presidente do tradicional mercado, Edelweiss de Morais Júnior, o movimento ainda é fraco se comparado a 2019, último ano antes da pandemia.

A esperança se apoia no infalível hábito do brasileiro deixar as compras para a última hora e na criatividade dos comerciantes. “Vamos ter um crescimento em relação a 2020, mas ainda longe de 2019. Isso está ligado à desvalorização do real e às pessoas ainda sem clima para festas e com medo de aglomerações por conta da Covid-19 e da gripe H3N2”, pontua Morais Júnior.

As substituições de produtos importados por nacionais devem ser a marca desse Natal. Pesquisa publicada pela Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) mostra que carnes suínas e frango devem substituir o bacalhau na ceia de 31% dos brasileiros. Ainda segundo o estudo, 37,9% das pessoas indicaram que não pretendem gastar com nenhum tipo de bebida alcoólica. E as reuniões serão pequenas, com no máximo 10 convidados em 70% dos casos.

A inflação de itens natalinos, medida pela Fundação Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor de Pernambuco (Procon PE), registrou alta de até 66,8% no preço de produtos natalinos entre dezembro de 2020 e o mesmo mês de 2021. O recordista foi o pêssego em calda, que foi de R$ 5,09 para R$ 8,49 (66,8% de aumento), seguido de perto pelo vinho tinto suave, que subiu 65,28%, o queijo provolone, com 64,66%; e o panetone de frutas, com 55,68%. E entre os assados ninguém precisa se animar com a suave queda de preços do peru, com -2,72%. O chester ficou 21,1% mais caro; o pernil, 38,3% e o tender, 16,99%.

“As festas estão muito menores e as pessoas estão comprando menos quantidade e fazendo substituições, trocando, por exemplo, o bacalhau por carne de porco e as frutas secas por frutas brasileiras da estação. A essa altura em 2019, o Mercado estaria cheio, hoje o movimento ainda está lento. Essa situação também leva os comerciantes a usarem a criatividade criando kits e até novos cortes, dividindo um pernil em duas porções, por exemplo”, destaca o presidente do Mercado Distrital do Cruzeiro.

Tags:
Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail