ENGENHARIA HOJE | Mário Neto: “Sem ciência e tecnologia, vamos ser um país velho e pobre”

27 de fevereiro de 2020 às 0h14

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Crédito: Divulgação

Enquanto países como China e Coreia do Sul avançam a passos largos na economia mundial, o Brasil anda a passos de tartaruga.

Na opinião do ex-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mário Neto, um dos gargalos do Brasil é o pouco apoio dado aos investimentos em ciência e tecnologia.

Como exemplo, ele citou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que tem recursos anuais previstos da ordem de R$ 6 bilhões, mas tem uma parcela ínfima liberada.

Em 2018, dos R$ 6 bilhões arrecadados, o governo liberou, segundo ele, apenas R$ 800 milhões, dos quais menos de R$ 200 milhões foram para o CNPq. O que o governo faz, sistematicamente, de acordo com o ex-presidente do próprio CNPq, é contingenciar os recursos. Isso acontece, segundo ele, por duas razões. A primeira é a falta de um planejamento estratégico para a área de ciência e tecnologia. O segundo fator é a descontinuidade política.

Para Mário Neto, a mudança de rumos no apoio à ciência e tecnologia tem prazo para ser feita – até 2050, para que o País possa aproveitar o bônus demográfico. “Sem ciência e tecnologia, vamos ser um país velho e pobre, com pouca criança nascendo e pouca gente trabalhando. A hora é agora, para não ficarmos um país velho e pobre”.

Para falar sobre a importância do planejamento estratégico como política de estado, não de governo, mais uma vez, ele recorre à Coreia do Sul, onde afirma ter conhecido um ministro de ciência e tecnologia que estava há cinco anos no cargo e acabou ficando mais seis, ou seja, passou de um governo para outro. “Pode mudar governo, mas a política de ciência e tecnologia não pode ficar ao vento de qual governo está mandando. Esse é um problema, porque cada governo que entra quer começar do zero”, afirmou Mário Neto, em debate realizado na Sociedade Mineira de Engenheiros (SME).

Subvenção – Também a exemplo do que fizeram os coreanos, Mário Neto defende que o governo subvencione empresas que considere capaz de trazer resultados importantes para o País. Não seriam, de acordo com o ex-presidente do CNPQ, empréstimos, mas recursos que, no Brasil, são conhecidos como a “fundo perdido”, e que ele prefere definir como “subvenção econômica”. Trata-se, segundo Mário Neto, de um risco compartilhado com a empresa nascente, da mesma forma que o setor privado investe em startups. “Eles ficam olhando as startups e colocam dinheiro, pois sabem que vão recuperar o investimento mais na frente. Isso é o que o governo tem que fazer”, afirmou.

Mário Neto considera um avanço o número de mestres (50 mil) e doutores (21 mil) que o Brasil forma atualmente. Mas acha que existe um gargalho entre o mundo acadêmico e o setor empresarial. “Estamos formando só mestres e doutores acadêmicos”, afirmou o ex-presidente do CNPq, que propõe o direcionamento de parte da produção acadêmica para o mundo do empreendedorismo.

Ele reconhece que mudar essa cultura é muito complicado, mas cita como exemplo positivo uma iniciativa da Universidade Federal do Grande ABC, em São Paulo, onde havia uma linha de trabalho em que o aluno era obrigado a desenvolver projetos acadêmicos cujo objetivo era resolver problemas reais da indústria. Segundo Mário Neto, a primeira aluna que se formou desenvolveu uma película que diminuía o barulho gerado pelos ônibus e caminhões da Mercedes-Benz. “Ela foi brilhante”, afirmou.

Inovação – Se não houver uma mudança no rumo da política de ciência e tecnologia, permanecerá, segundo Mário Neto, o descompasso entre o peso da economia brasileira no mundo e sua presença, por exemplo, na área de inovação. O Brasil, segundo ele, além oscilar muito nos rankings internacionais, está muito mal classificado para um país cuja economia está entre as 10 maiores do planeta.

Em 2011, o Brasil estava na 47ª posição no Índice Global de Inovação. Nos anos seguintes, experimentou quedas sucessivas de um ano para o outro, chegando, em 2017, na 69ª posição. Em 2018, voltou a subir algumas posições, chegando à 54ª posição. Porém, segundo Mário Neto, em 2019, o Brasil voltou a piorar, passado para o 65º posto. “Nós somos a nona economia do mundo. Por isso, temos que estar entre os 10 primeiros em tudo”, afirmou o ex-presidente do CNPq. (Conteúdo produzido pela SME)

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