Especial: Empresariado se engaja para agilizar vacinação no Brasil

18 de fevereiro de 2021 às 0h29

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Crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Qualquer pessoa, não negacionista, sabe a real importância da imunização para a melhoria da qualidade de vida desde o início do século 20. E, em tempos de pandemia, essa relevância é ainda mais evidente.

Depois de quase um ano enfrentando a maior tragédia humanitária da história contemporânea, as vacinas desenvolvidas e que já estão sendo aplicadas na população contra a Covid-19 são a esperança de superação dessa crise sanitária.

O Brasil, agora, terá a oportunidade de voltar aos trilhos da normalidade, com repercussão positiva na vida econômica da Nação e nas relações em sociedade. Afinal, as empresas precisam de ambiente favorável para produzir bens e serviços e as famílias e amigos de confiança para se reunirem novamente.

Apesar disso, a vacinação no Brasil está atrasada e caminhando lentamente. É certo que o tamanho continental e as dificuldades logísticas vividas pelo País são fatores que pesam, mas enquanto nações de diferentes perfis e condições econômicas já vacinavam em dezembro, o Brasil deu início ao seu programa de imunização apenas no final de janeiro e sob forte pressão política e popular.

Para impulsionar a vacinação, aumentando o índice de confiança dos consumidores, a iniciativa privada brasileira tem se organizado no sentido de contribuir sob vários aspectos, de campanhas de conscientização até apoio logístico, sem contar a pressão sobre o governo federal.

A presidente do Conselho do Magazine Luiza e fundadora do Grupo Mulheres do Brasil, Luíza Helena Trajano, pretende mobilizar empresários de todo o Brasil para facilitar a chegada da vacina contra a Covid-19 a todos os brasileiros até setembro deste ano.

A ideia do “Unidos pela Vacina” é trabalhar para facilitar a aquisição e a produção de insumos, como seringas e agulhas, além de ajudar na fabricação dos imunizantes – com auxílio na logística e na solução de problemas da Fundação Oswaldo (Fiocruz) e do Instituto Butantan.

Inspiração -Segundo a vice-presidente do Grupo Mulheres do Brasil, Betânia Tanure, o objetivo é que o movimento inspire empresários e pessoas físicas a contribuírem mesmo sem fazer parte do grupo.

A meta é que o índice de vacinação preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – algo próximo a 80% da população – seja alcançado até setembro. Um dos pilotos da iniciativa é em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Betânia Tanure objetivo é inspirar pessoas | Crédito: Divulgação

“Queremos que esse seja um movimento da sociedade brasileira. Estamos buscando unir a demanda e o supply. Somos um grupo trabalhando com o objetivo de ajudar o governo. Não queremos substituí-lo nem criticar. Estamos mapeando os entraves junto às prefeituras, com pilotos em Nova Lima e Rio de Janeiro. São várias frentes de trabalho para que essa vacinação seja rápida, e que a gente não perca mais vidas, e destrave a economia. É incrível como a sociedade e os empresários estão respondendo. Somos muito rigorosos e firmes nos princípios e propósitos. Não colocamos as mãos em dinheiro. Cada um – empresas e pessoas – doa expertise, insumos, horas de trabalho. Todo mundo pode ajudar. Divulgar nas redes sociais já é algo importante. Essa é uma luta do coletivo”, conclama Betânia Tanure.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) já aderiu ao movimento. “O Unidos pela Vacina deseja ajudar o Sistema Único de Saúde (SUS) a facilitar os processos de vacinação. Podemos oferecer, por exemplo, o custeio do transporte para a chegada das vacinas, disponibilizar locais para vacinação drive-thru, pessoal para trabalhar nos pontos de imunização, entre outros”, destaca o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.

De acordo com a economista e professora do curso de Administração da Faculdade Pitágoras de Uberlândia, Juliana Pallazo, as restrições à circulação de pessoas prejudicam, especialmente, as pequenas empresas, menos digitalizadas e muito mais dependentes da presença física dos consumidores.

Só a partir da imunização em massa e a permissão para que as atividades retornem ao normal é que o processo de recuperação econômica ganhará velocidade. Se o ritmo da vacinação continuar lento – até agora o Brasil não imunizou sequer 3% da população -, 2021 pode ser mais um ano de recessão, segundo ela.

Juliana Pallazo ritmo de vacinação é um vilão | Crédito: Divulgação

“As restrições prejudicam muito o comércio e pequenos empresários. Apesar do ano passado eles terem conseguido vislumbrar o e-commerce, por mais que isso auxilie, ainda é pouco. A vacinação é muito importante. A Luiza (Trajano) está abraçando essa causa porque é empresária, sabe que depende das pessoas nas ruas. Mesmo com a vacinação em massa essa recuperação não será rápida, mas sem a vacina, será pior. Precisamos de vacina para todos rapidamente”, afirma Juliana Pallazo.

O ministro da economia, Paulo Guedes, também já admitiu que somente a imunização em massa será capaz de dar um pouco de paz aos empreendedores e consumidores brasileiros. No dia 25 de janeiro, argumentou que a vacinação é um fator decisivo para o retorno seguro da população ao trabalho e para o desempenho da atividade econômica em 2021.

“Neste terceiro ano [de governo], o grande desafio é a vacinação em massa. Espero que todos auxiliem nesse processo. A vacinação em massa é decisiva e um fator crítico de sucesso para o bom desempenho da economia logo à frente”, disse Guedes.

“Vimos a digitalização derrubar vários mitos. Vimos que o home office, por exemplo, dá certo e corta custos das empresas. Por outro lado, o processo de automação eliminou empregos que não vão voltar. Tudo isso precisa ser pensado e quanto mais demorada for a vacinação, pior vai ser. As pessoas precisam voltar a trabalhar e as empresas a produzir”, completa a economista.

Lentidão na imunização gera cenário sombrio para 2021

A luta pelo avanço da vacinação contra a Covid-19 no Brasil e, com ela, o consequente aumento do índice de confiança dos consumidores e empreendedores brasileiros é uma luta também pela retomada da economia.

Até aqui, os números não são bons. O Índice de Confiança do Consumidor, da Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu 2,7 pontos de dezembro de 2020 para janeiro de 2021. Essa foi a quarta queda consecutiva do indicador, que atingiu 75,8 pontos em uma escala de zero a 200 pontos, o menor patamar desde junho de 2020 (71,1 pontos). Apesar da histórica fé inabalável do empreendedor nacional, o ineditismo da crise e a demora na efetivação de uma política de imunização para todo o País, não deixa que a confiança retorne, represando investimentos e, com eles, a retomada da economia.

Lentidão atrasa as decisões de investimentos, diz Leão | Crédito: Fábio Ortolan

Para o presidente do Conselho Empresarial de Economia da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Guilherme Leão, a correlação é direta. Sem vacina as pessoas não se animam a sair, e sem elas nas ruas, uma cidade como Belo Horizonte, baseada no terceiro setor, tem muitas dificuldades para retomar o desenvolvimento econômico e social.

“Enquanto não tivermos um percentual alto da população vacinada, as medidas de restrição de circulação deverão ser mantidas e as pessoas terão medo de sair, prejudicando especialmente o comércio e parte dos serviços. Isso está refletido nos indicadores. Infelizmente, estamos vivendo um processo atrasado e desordenado. Essa lentidão atrasa as decisões de investimentos de empresários. Para 2021, enxergo um cenário de muita volatilidade e desemprego no primeiro semestre. Uma retomada mais consistente, apenas no segundo semestre e aumento da confiança ao longo do ano. O grande risco é caminharmos para medidas populistas um ano antes da eleição”, alerta Leão.

O economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), Guilherme Almeida, avalia que a solução para a crise econômica só virá com a solução da crise sanitária.

“Temos uma crise econômica que é totalmente diferente das anteriores na origem, derivada de uma crise sanitária. É preciso uma efetividade da campanha de vacinação. A atividade econômica só retornará assim. Os empresários que estão otimistas, são aqueles que depositam a confiança no sucesso da vacinação. A grande questão é apoiar a campanha, falar da importância. Para exemplificar, o sistema Fecomércio vem fazendo isso por meio do Sesc. Disponibilizamos as unidades para as prefeituras para que sejam utilizados como local de vacinação contra a Covid-19”, pontua Almeida.

O mesmo acontece com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Segundo o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, empenhada no combate à Covid-19 desde o início, a entidade reforça a campanha pela vacinação.

Fiemg reforça campanha pela vacinação, afirma Roscoe | Crédito: Sebastião Jacinto Júnior

Além de articular investimentos para a construção do Hospital de Campanha no Expominas e de leitos exclusivos para o tratamento da Covid-19 na Capital e região metropolitana, contribui para o desenvolvimento de um imunizante pela Covaxx, uma unidade da United Biomedical. A vacina terá estudos clínicos no Brasil, conduzidos pelo laboratório Diagnósticos da América (Dasa).

“Esse é um momento importante para reforçarmos a disseminação de informações corretas. As indústrias devem contribuir para que seus diversos públicos sejam bem informados e conscientizados. Cada empresário, dentro das suas possibilidades e nas suas localidades, pode também contribuir disponibilizando recursos e conhecimentos para que o plano de vacinação ocorra de maneira eficiente, atingindo o mais rapidamente a todos”, afirma Roscoe.

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