Aguinaldo Diniz Filho *
Chegou em boa hora, diante de tantas dificuldades econômicas que Minas Gerais vem atravessando, o anúncio, pela Fiat-Chrysler Automobiles – FCA, de um novo investimento em sua planta de Betim, que, ao longo dos próximos quatro anos, chegará aos R$ 8,5 bilhões. O aporte destina-se à implantação de uma nova unidade para produção de motores de última geração, mais potentes e menos poluentes, que irá possibilitar à empresa maior competitividade em um setor onde tecnologia, eficiência energética e custos são fatores cada vez mais determinantes no mercado.
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A decisão do grupo por investir em nosso Estado – que tinha como concorrente na disputa nada menos que a China – tem para a Associação Comercial e Empresarial de Minas um significado muito especial, pois mostra a pujança de um empreendimento que teve na sua origem, há 46 anos, intensa atuação da entidade, que então buscava meios de promover a industrialização de Minas, percebida como eficaz solução para reverter a grave estagnação econômica que aqui se atravessava.
Estudos então realizados pela ACMinas, conjuntamente com o governo mineiro, mostraram que o ideal para se vencer a inércia seria trazer para o Estado uma grande empresa automotiva, dada a grande capacidade desse setor de gerar empregos, agregar valor e atrair investimentos na formação de uma extensa cadeia de fornecedores. Depois de longas negociações com o grupo italiano, nascia a Fiat Automóveis S.A. Não por acaso, seu primeiro presidente foi aquele que então presidia a ACMinas e conduziu as tratativas: Adolfo Neves Martins da Costa.
Esta nova iniciativa que a Fiat-Chrysler acaba de anunciar, em cerimônia na qual representei a ACMinas, tem, outra vez, enorme relevância. Hoje, quando replicam-se em Minas Gerais as agruras do cenário nacional, marcado por altos índices de desemprego e por graves problemas financeiros, econômicos e sociais, ela vai gerar novos empregos e expandirá a cadeia de fornecedores – o que, num efeito multiplicador, também trará novos postos de trabalho e mais investimentos.
Um dos atuais fornecedores da companhia, a Lear Corporation, fabricante de chicotes elétricos, já anunciou, ainda que não explicitamente como decorrência da iniciativa da FCA, a abertura de uma nova fábrica em Camanducaia, no Sul do Estado, em acréscimo a sua planta em Betim. Ela deve começar a produzir já no início de 2020 e vai acrescentar cerca de 300 postos de trabalho aos outros 300 já existentes.
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Mesmo que a decisão da FCA não signifique, se vista de forma isolada, um início de recuperação da economia mineira, ela explicita a existência em Minas de três fatores que são primordiais para qualquer investidor: primeiro, a solidez institucional, que traz consigo a confiabilidade; segundo, a existência da necessária infraestrutura – energia, logística, especialmente de transportes, e mão de obra qualificada e disponível. E, terceiro, um efeito de natureza mais abstrata, mas nem por isso menos importante: a percepção, pela alta direção de uma grande multinacional, de que Minas Gerais continua a ser um bom lugar para se investir.
A expectativa de retomada dos investimentos produtivos no Estado, ainda que num contexto geral ainda sombrio, principalmente quanto às contas públicas, baseia-se também no desempenho positivo de alguns setores, como o agronegócio, que em Minas cresceu 3,5% no ano passado. Mas são resultados ainda isolados dentro de um contexto geral de dificuldades. Apesar de trazerem confiança a todos nós que nos acostumamos a ler, ver e ouvir no dia a dia somente notícias ruins, não devem ainda ser considerados como o início de uma efetiva retomada do crescimento.
Esta só virá efetivamente – e venho reiterando isso de maneira enfática – quando for desatado o nó da Previdência Social. Há enorme premência em que as mudanças sejam logo aprovadas e entrem em vigência já no ano que vem. A perspectiva de que isto aconteça, ao contrário de dois ou três meses atrás, são agora bem mais positivas, pois até mesmo parlamentares que a ela se opunham frontalmente já se convenceram de que são essenciais. Tão essenciais que, de acordo com a Forbes, há uma intenção manifestada explicitamente por grandes corporações, entre as quais GM, Toyota, Shell e Exxon, de investirem no País algo em torno de 85 bilhões de reais. O fator condicionante – claro – é a aprovação da reforma previdenciária. Sem ela, estes investimentos, assim como muitos outros certamente cogitados, com certeza não virão.
*Presidente da ACMinas