De volta para o futuro

24 de junho de 2020 às 0h14

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José Inácio Ramos*

O título do artigo, referente ao filme do consagrado diretor Robert Zemeckis, sucesso mundial de bilheteria nos anos 1980, define bem o cenário da volta às aulas presenciais nas escolas de todo o País após o fim do isolamento social determinado pelo Covid-19.

Os alunos deixarão o aconchego das casas e o ambiente de interação virtual e retornarão a um mundo cujo futuro foi antecipado pela pandemia.

Durante um tempo ainda indeterminado, pelo menos até a descoberta de uma vacina e a imunização em massa da população, a convivência será limitada, num desafio à cultura latina dos abraços fraternos, cumprimentos efusivos e sorrisos compartilhados sem medo. Distância de dois metros entre as pessoas seguirá sendo norma em todos os locais públicos, estabelecimentos de ensino, empresas, lojas.

Mais do que nunca, será importante valorizar o ser humano ante o anonimato exacerbado pelas máscaras. Nos olhos, a identidade; nos gestos, expressões das palavras não ditas.

No comércio, produtos criados para reduzir o contágio e equipamentos de proteção individual passarão a ser peças permanentes das vitrinas. Novas plataformas de e-commerce, marketplaces e reuniões virtuais seguirão presentes, assim como o home office deverá manter-se como modelo definitivo em muitas organizações.

Delivery, inteligência artificial, internet das coisas e tudo o que estava em diferentes estágios de desenvolvimento e aplicação farão parte, de modo mais amplo, rotineiro e intenso, do planeta que herdaremos do novo coronavírus. Sim, porque as pessoas perceberam, de modo mais acentuado na quarentena, como a tecnologia ajuda e facilita a vida. Isso é irreversível.

Nas escolas, os estudantes também encontrarão novo ambiente. Em muitos casos, como nas instituições de ponta do ensino superior, não haverá o impacto da tecnologia, pois os equipamentos de sala de aula, laboratórios, bibliotecas e estrutura de pesquisa já deram passos expressivos ao futuro. Porém, os espaços de convivência e a interação com os colegas, professores e funcionários serão muito diferentes.

A boa notícia é que, enquanto mantêm as aulas virtuais, com a mesma assertividade das presenciais, integral dedicação, trabalho e jornadas dos docentes, muitas instituições de ensino superior, assim como da educação básica, estão preparando as instalações para acolher os alunos no novo mundo. É trabalho invisível para estudantes e famílias, mas intenso e complexo.

Obviamente, assim como ocorreu na mobilização urgente de recursos eletrônicos avançados para a continuidade dos cursos no universo virtual, incluindo despesas com as licenças de uso das novas plataformas, a adaptação dos espaços escolares implica significativo custo.

Embora o processo de aulas remotas e o redimensionamento do ambiente físico tenham aumentado bastante os desembolsos das instituições, entendemos o significativo aporte de recursos como investimento na segurança e na saúde dos alunos, professores e colaboradores e, ao mesmo tempo, na qualidade do ensino em meio às novas exigências de interação entre as pessoas.

A retomada das atividades presenciais será realizada sob rígidas medidas de proteção. Será necessário reorganizar horários e espaços, readequando as instalações e a infraestrutura.

Para possibilitar o distanciamento entre os alunos, as salas de aula terão de receber, a cada dia, apenas um percentual do número de estudantes, que serão organizados em grupos com horários e intervalos próprios. Isso implicará mais horas/aula/professor.

Também será indispensável uma série de procedimentos: uso de máscaras; lavagem das mãos ao entrar e sair da instituição; dispensadores com álcool em gel 70% em todas as dependências; reconfiguração das áreas de convivência para permitir o distanciamento social e minimizar o risco de contágio; criação de fluxos unidirecionais, com sinalização visual para evitar que os estudantes se aglomerem; oferta de copos descartáveis nos bebedouros; multiplicação das atividades de limpeza e higiene de todas as instalações, com a contratação de maior número de funcionários; uso de desinfetantes e outras substâncias antissépticas; e disponibilização de equipamentos de proteção individual.

Tudo isso está sendo feito, por exemplo, nas instituições de ensino do estado de São Paulo e, como se observa, sem cortar nenhuma das muitas bolsas de estudo que algumas delas concedem a centenas de estudantes carentes, mantendo o quadro de docentes e colaboradores e toda a grade curricular normal deste ano letivo.

É fundamental que, no retorno ao futuro antecipado do novo mundo pós-pandêmico, os universitários e os alunos das escolas brasileiras encontrem plenas condições de continuar estudando em mesmo nível de qualidade. Isso não tem preço.

* Graduado em administração de empresas pela AEU-DF, com pós-graduação em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral. É diretor-presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM)

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