EDITORIAL | As fábricas de mentiras

5 de junho de 2020 às 0h15

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Crédito: Freepik

À medida em que avançam investigações, providências de natureza jurídica e legislativa contra as plataformas de distribuição de conteúdo via internet e que abrigam as chamadas redes sociais, crescem as reações a este trabalho.

Deliberadamente, com o falso argumento de que tudo isso seria, na realidade, um ataque à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa, legitimamente protegidas pela Constituição.

Mais próximo da realidade, como impulsores das reações reavivadas nos últimos dias, seriam os temores de grupos que utilizam tais ferramentas e delas se beneficiam. Temor de serem identificados, temor de perder uma ferramenta que claramente tem desequilibrado o jogo político, com riscos evidentes, comprováveis, à liberdade e à democracia.

A internet, com seu poder de alcançar rapidamente bilhões de pessoas em qualquer parte do planeta, não pode ser terra de ninguém e fora de qualquer controle. Da mesma forma as redes sociais, concebidas como um instrumento de aproximação de pessoas, mas que na prática fizeram exatamente o contrário, além de imporem virtual monopólio de controle da distribuição de conteúdo em escala global.

Assim entendem 90% dos brasileiros, conforme pesquisa realizada pelo Ibope e divulgada esta semana, que apoiam a regulamentação das plataformas. Dos entrevistados, 76% se mostraram preocupados com a situação e suas consequências e apontam como medidas necessárias a remoção de contas falsas (71%), rotulagem de robôs (76%) e identificação de postagens pagas (71%).

Entendida como idônea a pesquisa, depreende-se que larga maioria dos brasileiros tem consciência do que se passa e das ameaças que esta situação representa, fruto do poder quase ilimitado das plataformas, de um lado, e da facilidade em transformá-las em fabricas de mentiras, de outro.

Mudar este quadro, como já se discute em outros países e com alguns resultados concretos, é impositivo, além de relativamente fácil, desde que exista vontade para tal. Como já foi dito em outras ocasiões, trata-se de aplicar as mesmas normas que regulam o jornalismo, no sentido da correta apuração e comprovação de informações veiculadas, com desvios de conduta sujeitos a sanções que podem chegar à prisão.

Um esforço que se complementaria com responsabilização das empresas que controlam estas plataformas e, se assim desejassem, facilmente poderiam promover uma limpeza profilática, expondo e banindo os fraudadores. Só falta saber quem, de fato, deseja que assim seja feito, dando fim às mentiras que tanto nos tem perturbado.

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