No mundo oficial, em Brasília, anuncia-se que as taxas de juros praticadas no País são, historicamente, as mais baixas já registradas, o que seria consequência de mudanças na política monetária e consequente redução da taxa básica de juros, que em tese regula as taxas do mercado e no ano passado caiu de 6,5% para 4,5%, seguindo orientação do Banco Central. Também no ano passado, e ainda segundo os relatórios oficiais, o volume de crédito em circulação chegou aos R$ 6,5 trilhões, indicando aumento de 6,5% em relação ao ano anterior.
Apesar das mudanças de diretrizes, tendo em conta em primeiro lugar a estabilidade monetária e o ainda fraco processo de recuperação da economia, sem pressões de demanda, quem tomou crédito no ano passado o fez por necessidade extrema e sem motivos para repetir as comemorações a nível de governo. E não estamos falando de quem recorreu ao cheque especial ou ao cartão de crédito, estes suportando taxas – hoje em torno dos 300% ao ano – que vão muito além dos limites do absurdo, mais próximas que estão da agiotagem legalizada. Conforme seu relatório anual, o Banco Central assume que o sistema bancário, aí incluídos os bancos oficiais, altamente cartelizados, aumentou o spread de 17% em dezembro de 2018 para 18,4% um ano mais tarde.
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Mais uma vez o argumento utilizado para justificar a discrepância foi o risco de eventuais calotes, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas, muito embora os dados relativos ao ano de 2019 indicam que a inadimplência permaneceu estável, na média de 2,9% no período. Tem sido assim e faz muito tempo, o que se impõe ao País juros que há décadas figuram entre os mais elevados de todo o mundo, reserva aos bancos que operam no País, e também mundialmente, os mais elevados ganhos. Um deles, estrangeiro e com operações globais, divulgou, não faz muito tempo, que suas operações no Brasil correspondiam a 30% do movimento global, mas respondiam pela maior parcela de seus ganhos.
Para além do sacrifício imposto, e que evidentemente não ficam restritos aos tomadores, na verdade contaminam toda a economia, ajudando a explicar do desemprego ao baixo nível de investimentos, a situação que, ensinam os manuais de Economia, pode representar um bom remédio se utilizado por curtos espaços de tempo, em casos como o brasileiro há muito se transformaram em veneno, numa escala em que o maior devedor – o próprio governo – acaba sendo a maior vitima.
Causa espanto que continuem sendo assim, com a lógica, o bom senso e o próprio discurso oficial confrontados, e nada seja feito, com o próprio Banco Central tratando o assunto como se fosse algo absolutamente natural.