EDITORIAL | Liquidação fora de hora

23 de junho de 2020 às 0h15

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Crédito: REUTERS/Adriano Machado

O ministro Paulo Guedes, ultimamente um tanto silencioso e distante dos holofotes, foi o único, entre os auxiliares diretos do presidente da República, a ganhar uma espécie de salvo-conduto, ouvindo do próprio Bolsonaro que, em matéria de economia, a palavra final seria sempre a do ministro.

Com um cacife desse tamanho, que as circunstâncias só valorizam, e diante de sinais de que haverá ainda muita turbulência pela frente antes que a economia – pelo menos – entre em rota de estabilização, Guedes deixa vazar a informação de que pretende acelerar o programa de privatização, que na prática padece de uma espécie de congelamento, realizando ainda este ano algumas vendas expressivas, pelo menos quatro, num pacote que pode incluir os Correios e a Petrobras Distribuidora.

Nas circunstâncias, nosso ministro da Economia pode estar sendo excessivamente otimista, algo compreensível frente à necessidade de fazer caixa, a cada dia que passa mais urgente. Seria prudente, contudo, que alguém lembre a ele a conjuntura externa, se aproximando de uma recessão que pode ser tão grave quanto à de 1929, é indicativo de que a economia global tende ao fechamento e à cautela.

Sentimento talvez ainda mais desfavorável ao Brasil, hoje visto com reservas associadas, para apontar apenas uma e a mais recente, a decisão como a de indicar o ex-ministro Abraham Weintraub para representante brasileiro junto ao Banco Mundial.

Fato é que o anúncio um tanto extemporâneo e, repetimos, fora de contexto, pode não ter passado de um gesto de propaganda, destinado a produzir algo novo e positivo num momento em que os ventos no Brasil e no mundo seguem direção oposta.

E pode ser interpretado como um gesto desesperado, com o Brasil, virtualmente jogado à lona, patrocinando uma espécie de grande liquidação de seus ativos, convite quando muito a inevitáveis barganhas.

Para resumir, um jogo que tem tudo para não ser jogado e em que a hipótese contrária nos empurra na direção de inescapável derrota. No momento difícil que o País atravessa e da quase certeza de que o pior ainda está à frente, fica também evidente que falta ao País projeto e estratégia para enfrentar suas dificuldades, numa ação estruturada que combine investimentos públicos, ampliação do crédito e efetiva redução de seus custos, permitindo ao mundo dos negócios respirar, retomar o fôlego e, afinal, poder trabalhar com menos pressões, podendo sobreviver e voltar a pensar em inovação e competitividade, inevitavelmente as armas que lhes abrirão as portas do futuro.

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