EDITORIAL | Máximo rigor contra abusos
21 de março de 2020 às 0h15
Não houve pânico como muitos temiam, mas os avanços da coronavírus provocaram, na semana que está terminando, momentos bem próximos da histeria, visíveis, no plano econômico, no sobe e desce nas bolsas de valores, no mercado de câmbio e numa, ainda que por hora discreta, corrida aos supermercados.
Corrida mesmo, irracional e reveladora de imprópria e perigosa formação de estoques particulares, foi ao álcool gel, que sumiu das prateleiras e, quando encontrado, vendido a preços absurdamente especulativos. Quem, de uma forma ou de outra tentou ganhar com a fragilidade alheia e num momento particularmente delicado, não está se aproveitando do crescimento da demanda, mundialmente, muito além da capacidade de produção e do fornecimento de matéria-prima, e sim cometendo um crime, no que se aproxima daqueles que formam estoques desnecessários. O álcool gel é símbolo, a parte visível de um problema bem maior.
Mesmo enfrentando restrições que não são poucas, o trabalho do Ministério da Saúde tem sido bastante elogiado embora tenha pela frente problemas que vão muito além daqueles já sabidos, como crônica falta de pessoal, equipamentos e até leitos, questões que os brasileiros que dependem do sistema público conhecem bem de perto.
Problemas que são hoje assustadoramente maiores e cuja taxa de crescimento nos próximos dois ou três meses ninguém arrisca prever. É neste contexto que chega a informação de que o Ministério, ou os órgãos a ele vinculados, está encontrando dificuldades para repor estoques, comprar equipamentos e até material de proteção.
Algo de se esperar, tendo em conta que houve explosão de demanda no mundo inteiro, que em muitos casos já se observa falta de matéria-prima e de capacidade de produção.
Nada disso, porém, autoriza o abuso ou, pior, a mais despudorada exploração, conforme narrado recentemente. Máscaras, quando encontradas, podem custar até dez vezes o preço normal e pode ser pior ainda com aqueles macacões que protegem os profissionais da saúde que trabalham, e correm riscos severos, na linha de frente, junto aos enfermos em situação mais grave.
É sabido que existem restrições que decorrem do imprevisto crescimento da demanda. Por isso mesmo os esforços em todo o mundo são de guerra, sem espaços para o esmorecimento e também para a tolerância. Na Europa, que tem a memória das situações de guerra, parece mais fácil conter abusos e dar asas à solidariedade. Do lado de cá do Atlântico é diferente, nos fazendo lembrar que abusos como os descritos podem e devem ser contidos a qualquer custo.