EDITORIAL | O recado das ruas
28 de maio de 2019 às 0h02
As manifestações públicas de domingo passado, convocadas pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro, soaram, de início, como algo ameaçador, sugerindo um possível confronto aberto entre o Executivo e demais poderes, não faltando quem fizesse comparações com a renúncia do presidente Jânio Quadros, nos anos sessenta. Não foi o que aconteceu. Cabe registrar, e com alívio, em primeiro lugar, que as manifestações ocorreram em perfeita ordem, sem excessos a registrar. Segundo, que estiveram mais focadas em questões como o andamento das reformas, da Previdência em especial, o combate à corrupção e seus desdobramentos, e mais amplamente do ataque aos problemas que vêm impondo sacrifícios à população, por conta de estratégias equivocadas que levaram a economia à estagnação e uma parte ponderável da população de volta à pobreza.
Como disse o falecido deputado Ulisses Guimarães, será sempre prudente ouvir a voz das ruas e certamente não é diferente agora. Isso significa destacar que, muito menos que uma manifestação de apoio ao presidente da República, numa intensidade que poderia sugerir ou estimular confrontos indesejáveis, a maioria dos manifestantes parecia consciente de seu papel e do significado de sua voz, que, ao bom ouvinte, soará sim como de apoio, porém não necessariamente a este ou aquele. Apoio, sim, a valores, a mudanças de comportamento no plano ético, à gestão pelo mérito e buscando eficiência. Ainda que muitos dos manifestantes dissessem enxergar no atual presidente da República o fiador dessas mudanças, restou claro que o foco era bem mais abrangente. Isso é bom e não apenas por traduzir maturidade e ter afastado os temores de que alas extremadas poderiam ir às ruas, provocando e sugerindo um confronto de imprevisíveis, mas certamente indesejadas consequências, não tendo sido afastada até mesmo a hipótese de uma tentativa de ruptura institucional.
O recado foi dado e na medida certa, valendo sobretudo para demonstrar que setores ponderáveis da população estão impacientes, enxergam com muita objetividade o que se passa e, acima de tudo, não deram um cheque em branco a ninguém, embora tenha ficado claro que a maioria dos que foram às ruas no domingo efetivamente veem em Bolsonaro o agente das transformações que reclamam. Que elas venham, que o Brasil reencontre seu melhor caminho, sem riscos de excessos, sem riscos de rupturas, mostrando maturidade e, dessa forma, condições, afinal, para realizar o que precisa ser realizado. Um país mais bem administrado, capaz de entregar resultados melhores a todos os brasileiros.