EDITORIAL | Para além do tolerável

10 de julho de 2021 às 0h23

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Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Está claro que o presidente Jair Bolsonaro faz da provocação sua principal ferramenta política, algo que, tudo faz crer, aprendeu nos já distantes tempos de Exército. Uma tática que se repete sempre que ele se sente acuado, como em recentes episódios envolvendo a CPI da Covid, já com múltiplas evidências de que, no mínimo, desdouram sua gestão, certamente contribuindo também para que cresçam seus índices de rejeição.

E Bolsonaro, que andava quieto, acuado, possivelmente sentindo a intempestiva nota dos comandos militares como gesto de aprovação e apoio, mais uma vez saiu da linha de defesa e numa medida que a sociedade e sua representação definitivamente não podem tolerar.

Diante da claque que o aguarda pelas manhãs no tal “cercadinho” nos portões do Palácio da Alvorada, em Brasília, o presidente da República, que evidentemente não está investido de poder que lhe permita fazer tal afirmação, disse pura e simplesmente que, sem voto impresso, não haverá eleição no próximo ano.

Cabe registrar que dias antes ele dissera que poderia não aceitar o resultado da votação, numa ameaça bem menos contundente. Curioso que tudo isso parta de alguém cuja carreira política sempre passou pelas urnas eletrônicas, cuja integridade só agora é posta em dúvida. Na mesma ocasião e, como sempre, sem apresentar mínimas evidências que sustentassem sua fala, afirmou que Aécio Neves derrotou Dilma Rousseff na votação de 2014.

Em quaisquer circunstâncias tais afirmações são graves o suficiente para que não caiam no vazio. Mais ainda, evidentemente, quando partem do próprio presidente da República, que não parece atentar para os limites de suas funções, que claramente não respeita, pondo em risco todo o sistema político, ainda por cima sem perder oportunidade de acrescentar que se move pelo desejo de garantir a liberdade dos brasileiros e a própria democracia.

Fazer de conta, como tem acontecido, que não está acontecendo nada e que os destemperos e impropriedades do presidente da República seriam próprios de sua personalidade, é risco que aumenta a cada nova investida, a cada gesto que não guarda proximidade com o que se espera de alguém que ocupa a cadeira mais importante do sistema político brasileiro, cuja integridade vai aos poucos sendo minada, num caminho que tem precedentes que deveriam servir de advertência e exemplo.

Em resumo, e mesmo que carreguem seus próprios pecados, passou da hora de Legislativo e Judiciário recolocarem cada peça do sistema político no seu devido lugar.

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