EDITORIAL | Pecando por generalizar

13 de fevereiro de 2020 às 0h02

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Crédito: REUTERS/Sergio Moraes

O ministro Paulo Guedes, da Economia, foi infeliz, cometeu sobretudo o pecado da generalização, e já se desculpou por ter qualificado funcionários públicos como “parasitas”, assunto que rendeu fortes reações, conforme já amplamente sabido. Deixar de reconhecer que existem funcionários públicos qualificados e, sobretudo, comprometidos, é mesmo um erro grave e desconhecer sua existência, defendê-los e destacá-los acaba sendo uma espécie de favor aos que estão do outro lado da linha – como parentes de um ex-PM do Rio de Janeiro, assassinado recentemente em condições no mínimo controversas, lotados em gabinete parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado até recentemente – e de certa forma se apropriaram do Estado, vivendo às suas custas, muitas vezes sem nem mesmo a obrigação de comparecer ao local de trabalho.

São dados da realidade que não podem e não devem ser ignorados. Paulo Guedes pode ter exagerado, mas também não se pode negar que pôs o dedo na ferida. Afinal, de que outra forma explicar, como está bem documentado nos anais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que Brasília seja a cidade brasileira com maior renda per capita, superando com folga São Paulo, capital do mais rico Estado Brasileiro. Ou como entender a atitude de uma jovem senhora, que se apresentou em reportagem à televisão, não faz muito tempo, como advogada e empregada, mas também inscrita num concurso público. Segundo ela, em busca de segurança e das “vantagens” oferecidas. Como regra, as centenas de milhares de pessoas que participam desses concursos têm, na sua maioria, propósitos semelhantes, procurando o conforto que não encontram alhures.

Tudo isso ajuda a lembrar aquele grande empresário, hoje por coincidência um dos secretários da equipe de Guedes, para quem o Estado brasileiro ficou maior que o PIB do País, situação que, por não ter como ser sustentada por tempo indefinido, precisa ser atacada com senso de realidade. Sim, o ministro da Economia ofendeu quem não entra nesse rol mas não se pode permitir que sua afirmação impertinente se transforme a pretexto para proteção de corporações, em que políticos e burocratas se acumpliciam para fazer de Brasília a cidade com a população mais rica do País.

Da mesma forma que ajuda a explicar as proporções do déficit nas contas públicas – situação que se repete, com os mesmos ingredientes, nos demais poderes, nos estados e nos municípios. Ou isso muda ou o futuro, inclusive dos seus hoje beneficiários, fatalmente se apaga.

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