EDITORIAL | Sucesso relativo

23 de novembro de 2019 às 0h02

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Crédito: REUTERS/Amanda Perobelli

Houve comemoração em Brasília na semana que termina e por bons motivos. Conforme estimativas do Ministério da Economia, recebidas com foguetório no Palácio do Planalto, o governo federal terminará o exercício de 2019 com um déficit que ficará em torno dos R$ 80 bilhões. Se confirmado, este número representará uma diferença de, pelo menos, R$ 60 bilhões em relação ao que se esperava e, na mesma proporção, um salto considerável em qualquer comparação com o exercício anterior. Um alívio por conta do ingresso de recursos vindos do recente leilão de campos petrolíferos do pré-sal, razão porque o próprio ministério já cuidou de alertar que o sucesso pode ser momentâneo, sem força para impactar o déficit previsto para o próximo exercício, que pode chegar aos R$ 124 bilhões.

Resumindo, falta muito para fazer e o fundamental, nessas alturas, é que toda a esfera pública se dê conta de que o reequilíbrio fiscal, ou pelo menos um esforço mais consistente nessa direção, continua sendo, para o Brasil, a mais urgente das tarefas.  Afinal, como gostava de dizer o empresário Salim Mattar, hoje integrante da administração federal na condição de responsável pelo programa de privatizações, está suficientemente claro que o Estado brasileiro ficou maior que o produto brasileiro.

O reconhecimento elementar, na realidade, que a rigor já não pode ser sustentada, deveria ser a senha para as mudanças que ainda estão por acontecer, principalmente para a grande reforma do Estado, que sucessivos governos prometeram e que o atual promete realizar, mas que não acontece, esbarrando sempre na falta de vontade política, movida talvez pela crença de que é sempre possível esticar mais um pouco a corda, não exatamente para investimentos ou grandes realizações que atendam a demandas tão básicas quanto saneamento, e sim para simplesmente sustentar uma máquina gorda de vantagens e bastante raquítica de eficiência. Uma máquina, claro, em que não cabem todos, mas onde a soma de salários, privilégios e penduricalhos, como chamou o presidente Bolsonaro, fazem de Brasília a cidade de maior renda per capita no País.

Fácil de entender, mas bastante difícil de modificar, exatamente como na fábula da raposa chamada a tomar conta do galinheiro. Mantidas tais condições, e como acaba de acontecer, o grande risco é que o mineiro Salim Mattar complete com absoluto sucesso a missão que lhe foi entregue, porém sem produzir as mudanças desejadas e necessárias, porque abusos e privilégios, aqueles que custam mais e pelos quais todos pagamos, se encontram numa esfera inalcançável.

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